A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, fez um alerta sobre o futuro da economia mundial: “Apertem os cintos: a incerteza é o novo normal, e veio para ficar.”
O discurso, feito em Washington D.C., capital dos Estados Unidos, nesta quarta-feira (8), antecede as Reuniões Anuais do FMI e do Banco Mundial, que ocorrerão entre 13 e 19 de outubro, também em Washington.
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Georgieva descreveu um mundo em mudança acelerada, com riscos crescentes, mas também com novas oportunidades, desde que os países atuem com coordenação e responsabilidade.
Um mundo em transformação
Segundo a economista, o planeta vive “profundas transformações” que afetam a geopolítica, a tecnologia, a demografia e o meio ambiente. Apesar do progresso nas últimas décadas, muitos jovens ainda se sentem excluídos.
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“De Lima a Paris, de Katmandu a Jacarta, as pessoas estão levando sua decepção às ruas, exigindo mais oportunidades”, afirmou.
Georgieva lembrou que as médias econômicas globais escondem realidades desiguais, com avanços e frustrações coexistindo lado a lado.
Encontro em Washington
As reuniões do FMI e do Banco Mundial reúnem ministros das Finanças, presidentes de bancos centrais, economistas e líderes globais para discutir temas como crescimento, inflação, dívida, desigualdade e transição climática.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, devem representar o Brasil no encontro.
Em 2025, o evento volta à sede das instituições, em Washington — em 2023, foi realizado em Marrakech, no Marrocos.
“Melhor do que se temia, mas pior do que precisamos”
Georgieva avaliou que a economia global está resistindo melhor do que o esperado, apesar das crises recentes. “A economia global está melhor do que se temia, mas pior do que precisamos”, disse.
O FMI prevê leve desaceleração em 2025, sustentada por quatro fatores: políticas econômicas mais sólidas, adaptação do setor privado, tarifas menos severas do que o previsto e condições financeiras ainda favoráveis.
“Boas políticas fazem diferença”, afirmou, elogiando países emergentes que reforçaram suas instituições.
“O mundo evitou uma guerra comercial — por enquanto”
Um dos pontos mais delicados foi o impacto das tarifas dos Estados Unidos. Georgieva disse que o choque foi menor do que o temido, com a tarifa média caindo de 23% para 17,5%.
“O mundo evitou uma escalada de retaliações — por enquanto. Mas a abertura comercial levou um grande golpe.”
Ela alertou que os efeitos completos ainda não apareceram e que podem gerar nova pressão inflacionária global.
“A resiliência ainda não foi testada”
Apesar do tom otimista, Georgieva fez um alerta: “A resiliência global ainda não foi totalmente testada.”
Ela apontou sinais de preocupação nos mercados, como a alta do preço do ouro e a valorização excessiva das ações, semelhantes ao período da bolha da internet nos anos 2000.
“Se houver uma queda repentina, as condições financeiras mais duras podem frear o crescimento e atingir com força os países em desenvolvimento.”
Três prioridades para os governos
Georgieva apresentou três metas principais para os países:
- Aumentar o crescimento de forma duradoura, criando empregos e receitas sustentáveis;
- Reequilibrar as contas públicas, reduzindo déficits e dívidas;
- Corrigir desequilíbrios econômicos, para evitar crises e surtos protecionistas.
Ela também deu recomendações regionais:
- Ásia: fortalecer o comércio e o setor de serviços;
- África: aproveitar o potencial jovem com reformas pró-negócios;
- Europa: “Chegou a hora de agir — menos discurso, mais integração e mercado único.”
Dívida global em alerta
O FMI projeta que a dívida pública mundial ultrapasse 100% do PIB até 2029, pressionando juros e limitando a reação dos governos a crises.
“A consolidação fiscal é necessária em países ricos e pobres. É difícil, mas possível se bem planejada.”
Entre os exemplos citados:
- EUA: conter o déficit federal e estimular a poupança das famílias;
- China: incentivar o consumo e reduzir a dependência do setor imobiliário;
- Alemanha: investir mais em infraestrutura e dinamizar o setor privado.
“Um sonho que você sonha sozinho é apenas um sonho”
Encerrando o discurso, Georgieva reafirmou o compromisso do FMI em “maximizar oportunidades para todos”.
“Se trabalharmos juntos, podemos criar políticas que combinem mercados livres, instituições fortes e redes de proteção social.”
Ela finalizou com uma frase simbólica, citada da parede do auditório: “Um sonho que você sonha sozinho é apenas um sonho. Um sonho que você sonha junto se torna realidade.” E completou: “Vamos realizá-lo — e transformar este tempo de mudança em um tempo de oportunidade.”
Confira o discurso
Banco Mundial prevê crescimento de 2,4% para o Brasil em 2025
O Banco Mundial prevê que a economia brasileira crescerá 2,4% em 2025, após ter avançado 3,4% em 2024. Para 2026, a estimativa é de 2,2%. A desaceleração, segundo o relatório divulgado nesta terça-feira (7), reflete o esfriamento da economia global, a queda nos preços das commodities e a maior incerteza internacional.
A América Latina e o Caribe devem crescer 2,3%, mantendo-se como a região de menor desempenho econômico do mundo. A Argentina deve se recuperar fortemente (alta de 4,6%), enquanto o México deve avançar apenas 0,5%.
O Banco Mundial elogiou a gestão monetária dos países latino-americanos, mas alertou que o “último quilômetro” para conter a inflação ainda será difícil. A nova vice-presidente da instituição para a região, Susana Cordeiro Guerra, defendeu que os governos acelerem reformas estruturais para impulsionar o crescimento.
O economista-chefe William Maloney destacou que a região precisa formar mão de obra qualificada e aproximar universidades do setor produtivo para aumentar a inovação. Sobre a inteligência artificial, ele afirmou que o impacto sobre o emprego ainda não preocupa, mas que o desafio é não ficar para trás na revolução tecnológica.
FMI elogia Brasil, mas prevê desaceleração em 2025
Em relatório divulgado em julho, o FMI afirmou que o Brasil teve forte crescimento nos últimos três anos, mas deve moderar o ritmo a partir de 2025.
O PIB brasileiro deve crescer 2,3%, após avanço de 3,4% em 2024, com recuperação gradual até 2,5% ao ano no médio prazo.
A inflação deve fechar 2025 em 5,2%, caindo para 3% até 2027.
O Fundo elogiou o Banco Central por elevar os juros em 2024, classificando a decisão como “apropriada” para conter preços, e destacou as reformas estruturais do governo, como a reforma tributária sobre o consumo.
Também reconheceu os esforços de ajuste fiscal com investimento social, o avanço da inovação financeira (como o Pix) e o protagonismo do Brasil na agenda ambiental e climática.
Segundo o FMI, o país está “no caminho certo para um crescimento sustentável e inclusivo”.