Em comunicado desta terça-feira (11), os Estados Unidos decretaram que entraria em vigor, a partir de quarta-feira (12), o plano tarifário anunciado pela Casa Branca em fevereiro, responsável por impor uma taxa de 25% sobre as importações de aço e alumínio ao país, válida a "todos os parceiros comerciais" e sem possibilidade de isenções.
A tarifa, aplicada sobre um comércio cujo saldo total girou, em importações do Brasil, em torno de US$ 4,677 bilhões para o ano de 2024, já suscitaram avaliações de impacto econômico por parte do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento e Orçamento.
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Em relatório publicado nesta quarta-feira (12), intitulado "O novo aumento das tarifas norte-americanas de importações de aço: contexto, características e impactos sobre o Brasil", o Ipea avalia uma diminuição de até US$ 1,5 bilhão no saldo comercial brasileiro relativo às exportações de aço, correspondente a cerca de 1,6 milhão de toneladas do produto.
O documento aponta como objetivo primário dos Estados Unidos na definição de tarifas a redução na quota chinesa das importações, que estaria, de acordo com os EUA, "chegando ao mercado americano através de triangulações com países isentos da tarifa", dentre os quais o México é mencionado de forma direta.
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A China, principal exportador mundial de aço, "cresceu quase 10 pontos percentuais [no total exportado] em dez anos", nota o Ipea. Já o Brasil se posiciona atrás dos EUA no aglomerado mundial de exportações do produto, responsável por apenas 2,2% do total no biênio 2022-2023.
De acordo com o Ipea, o impacto das taxas à "economia brasileira como todo" é pequeno, de apenas 0,01% sobre o PIB total. Nas exportações, o impacto é um pouco maior, de 0,03%, mas ainda considerado mínimo.
A diferença real deve ser sentida nos "efeitos colaterais" da produção industrial que utiliza produtos à base de aço e alumínio, e no próprio setor de aço brasileiro, cujo faturamento é 10% composto pelas exportações feitas para os EUA.
"Considerando que 25% a 30% da produção doméstica de aço é exportada, o mercado norte-americano afeta diretamente mais de 10% do faturamento do setor", explica o relatório. "E a dependência é ainda maior no caso dos produtos semiacabados (placas e lingotes), visto que cerca de 90% das vendas brasileiras para os EUA concentram-se nesses produtos".
No saldo geral para o comércio do Brasil, o Ipea aponta uma queda maior no investimento (de até 0,14%) e nas importações de aço (de 0,26%), o que levaria a um saldo comercial maior — podendo chegar a US$ 400 milhões.
Já na produção brasileira de aço, que foi de 33,7 milhões de toneladas em 2024, o impacto da tarifa deve significar "uma queda de quase 700 mil toneladas" para 2025.
"No caso das exportações, considerando que o Brasil exportou US$ 12,9 bilhões em produtos de ferro e aço básicos, a tarifa traria uma perda de exportação equivalente a US$ 1,5 bilhão, ou 1,6 milhão de toneladas [não exportadas]", com quase toda a redução ocorrida na venda para os EUA (que deve sofrer uma queda de 36,2%).
Para os EUA, a tarifa deve afetar pouco o PIB total (com queda de 0,02%), prossegue o Ipea, mas deve ser mais alta sobre o investimento (-0,49% sobre o montante total). O maior impacto deve ser avistado no saldo comercial do país, que pode sofrer um déficit de até US$ 1 trilhão no comércio de mercadorias.
Sobre México e Canadá, os demais países mais afetados pelas tarifas, o impacto também tende, no entanto, a ser pequeno, e as exportações mexicanas podem inclusive crescer cerca de 0,21% para outras regiões.