Conhecida como Crash da Bolsa de 29, a crise econômica enfrentada pelos Estados Unidos em outubro de 1929 foi um colapso que abalou o mundo todo – e gerou desemprego massivo e retração econômica para o estadunidense comum. Décadas depois, esse trauma ganha eco nas políticas do presidente Donald Trump, que aposta em medidas protecionistas e guerras comerciais a fim de estimular a reindustrialização estadunidense, o que reacende alertas sobre os riscos de uma retração.
Trump tem aplicado medidas que visam o aumento de taxas até mesmo para aliados comerciais históricos, como o Canadá – o que incentivou um sentimento de patriotismo entre os canadenses, ao ponto de gerar até mesmo um boicote aos produtos estadunidenses nos mercados. Essa postura agressiva culminou no que agora é conhecido como guerra comercial contra a China, já que desde o primeiro mandato de Trump já haviam rusgas comerciais entre os países.
Se a guerra econômica entre EUA e China continuar, a expectativa da maioria dos analises é que isso seja algo danoso para todo o mundo, tendo em vista que o comércio multilateral é benéfico para todos os países. De acordo com o economista chinês Justin Yifu Lin, também professor da Universidade de Pequim, o caso se lembra a Grande Depressão causada pela crise de 29 nos EUA, ocorrida justamente pelo proteccionismo.
“Se a guerra comercial continuar, e acredito que já tenham sido feitas analises internacionalmente sobre isso e assim como antes da crise de 1929 quando os EUA adotou altas tarifas para se proteger e que causaram A Grande Depressão, essa situação é danosa para todos os países. Com esperança, isso não vai acontecer. Os EUA tem a tendência, quando enfrenta problemas domésticos, de procurar por bodes expiatórios. Nos anos 80, culpou o Japão, e agora culpa a China. Todo mundo sabe que o comércio possui benefícios mútuos, é bom para todos os países. Se as negociações acabarem, os EUA vão ter perdas maiores que a China”, explica Justin Yifu Lin.
Causas e consequências do Crash de 29
Entre as causas conhecidas, está justamente a especulação financeira de pessoas que compravam ações a crédito, além da superprodução industrial e agrícola crescendo mais do que o consumo. O protecionismo foi um dos principais fatores que causaram o aprofundamento da crise, e um exemplo dessas iniciativas foi a Lei Tarifária de 1930 (popularmente conhecida como Smoot-Hawley), que aumentou as taxas para produtos importados pelos EUA.
A situação levou ao colapso massivo de bancos, do qual só se recuperaram após auxílio do governo. Além disso, também gerou o desemprego em massa e uma retração econômica global – situação que gerou o que foi conhecido como A Grande Depressão, termo que quase virou o terror noturno dos estadunidenses.
Entenda o caso da guerra comercial entre EUA e China
Apesar de se estender desde o primeiro mandato do presidente estadunidense Donald Trump, a guerra comercial entre os EUA e a China teve início oficialmente em fevereiro deste ano, quando houve um anúncio de tarifas por parte dos EUA de 10% sobre produtos chineses, o que provocou uma retaliação chinesa que impôs barreiras em produtos importados dos EUA.
Contudo, a situação que mais chamou atenção ocorreu em 1º de abril, com o chamado “tarifaço” do Trump, onde ele anunciou uma série de aumentos de alíquotas de importação de produtos para diversos países, incluindo aliados comerciais. O país mais afetado foi a China, que teve suas exportações para os EUA taxadas em 154%. Em resposta, os chineses impuseram tarifas de volta e também realizaram a venda parcial de títulos americanos, os quais antes detinham US$ 760 bilhões. Na última terça-feira (22), Trump anunciou um recuo.
A situação causou comoção global, e até mesmo bilionários criticaram Trump abertamente pelo tarifaço, como Bill Ackman, Boaz Weinstein, Daniel Loeb, Ken Fisher. Houve manifestações contrárias da parte dos bilionários brasileiros, como Jorge Paulo Lemann e André Esteves.