TESTE CONFIRMA

Ex-astro do Barcelona e diretoria do clube envolvidos com tráfico de órgãos

Caso escandalizou a Espanha, onde procedimento de transplante de fígado do jogador aposentado foi realizado. Resultado de teste de compatibilidade confirmou desconfianças de autoridades

Éric Abidal, atuando pelo Barcelona.Créditos: FC Barcelona/Reprodução
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A Espanha ficou escandalizada nas últimas horas com a confirmação de que um ex-jogador que foi ídolo do Barcelona, o francês Éric Abidal, e parte da diretoria do supervitorioso clube catalão há dez anos estão metidos num caso de tráfico de órgãos humanos, o que figura como crime gravíssimo no país europeu.

Tudo começou quando Abidal, ainda na ativa e atuando pela equipe blaugrana, descobriu um tumor no fígado. Após um tratamento que teve sucesso limitado em 2011, o francês precisou em 2012, então, de um transplante. Pelas leis da Espanha, se não houver um doador da família, o paciente deve entrar numa fila, administrada pelo governo, para aguardar a chegada de um órgão vindo de um doador falecido. À época, um homem identificado como Gerard Armand, que seria seu primo, se ofereceu para doar parte do fígado ao atleta.

A cirurgia foi realizada e bem sucedida e Abidal chegou a voltar aos gramados do Camp Nou, realizando apenas quatro partidas e protagonizando uma despedida emocionante do time azul-grená da Catalunha, onde era capitão. Depois disso, ele atuou ainda pelo Mônaco, que disputa a liga francesa, e pelo Olympiacos, da Grécia, antes de pendurar as chuteiras.

Em 2017, denúncias anônimas e insinuações surgidas na imprensa apontavam para o fato de que Armand não teria qualquer laço de parentesco com Abidal, o que motivou a abertura de um inquérito por parte de um tribunal da cidade de Barcelona. Agora, cinco anos depois, um laudo emitido pelo Instituto Nacional de Toxicologia da Espanha, a pedido do Judiciário, deu um parecer final sobre a relação consanguínea entre o doador e o receptor do fígado: eles não têm qualquer vínculo familiar.

O órgão recebido pelo craque francês do clube catalão teria sido comprado com o intermédio do então presidente do Barcelona, Sandro Rosell, em conexão com o ex-dirigente da equipe Juanjo Castillo. A polícia até já tinha um áudio entre os dois, também de 2017, no qual a dupla de cartolas falava sobre a compra de um fígado, mas logo após as gravações serem reveladas, tanto Rossel como Castillo disseram que aquilo se tratava de uma brincadeira, por conta das versões sobre tráfico que tinha surgido à época.

Agora, com o laudo final, ficou claro para as autoridades espanholas que tudo se tratou de um comércio de órgãos humanos, em que um famoso e valioso jogador se beneficiou da compra do fígado, desenrolada por poderosos dirigentes de um dos clubes mais ricos do mundo, enquanto Armand cedeu parte vital de seu corpo para ganhar dinheiro.

Para comprovar de forma cabal que tudo não passou de uma transação econômica, a Justiça da Espanha solicitou ao governo e ao Judiciário da França que rastreiem as contas e movimentações financeiras do doador, que também é natural daquele país.

A expectativa das autoridades do país ibérico é que com todas as provas documentadas em mãos seja possível reabrir o caso, arquivado em 2019, para que Abidal, Rossel e Castillo sejam julgados por tráfico de órgãos humanos.