Dois escândalos de fraude abalaram o mundo do basquete nos Estados Unidos e expuseram semelhanças com as investigações em curso no Brasil sobre apostas esportivas.
Nesta quinta-feira (23), informa o New York Times, a Justiça Federal de Nova York revelou dois esquemas envolvendo jogadores e técnicos da NBA, que teriam usado informações privilegiadas e jogos manipulados para lucrar milhões de dólares em apostas e pôquer ilegal.
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Um dos casos envolve o armador Terry Rozier, do Miami Heat, e o ex-jogador e técnico Damon Jones, acusados de vazar informações internas sobre lesões e escalações para permitir apostas certeiras em sites de apostas.
Segundo o FBI, tratava-se de uma espécie de “bolsa de valores esportiva”, onde informações sigilosas viravam lucro rápido.
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O outro processo atinge Chauncey Billups, técnico do Portland Trail Blazers, acusado de participar de jogos de pôquer fraudados organizados por famílias mafiosas de Nova York.
As mesas eram manipuladas com máquinas de embaralhar adulteradas e até óculos que liam as cartas — um dos jogadores enganados perdeu US$ 1,8 milhão. Após as prisões, a NBA anunciou o afastamento imediato de Billups e Rozier.
Casos parecidos no Brasil
As denúncias lembram as investigações que vêm agitando o futebol brasileiro desde 2023, especialmente as reveladas pela Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás.
Assim como nos EUA, jogadores brasileiros foram acusados de manipular partidas para lucrar com apostas, recebendo dinheiro para provocar pênaltis ou levar cartões.
O país também criou a CPI das Bets, no Senado, para investigar a influência das casas de apostas online, o uso de influenciadores para divulgar sites suspeitos e até casos de lavagem de dinheiro ligados ao crime organizado.
Em outro episódio, a Polícia Federal desarticulou o esquema “Narco Bet”, que usava plataformas de apostas para lavar recursos do tráfico de drogas.
Os dois contextos — o estadunidense e o brasileiro — mostram como o crescimento das apostas online criou brechas para corrupção e manipulação. Nos Estados Unidos, o foco está em atletas e técnicos com acesso a informações sigilosas; no Brasil, a fragilidade aparece principalmente nas séries inferiores do futebol e na falta de regulação firme do setor.
Tiago Splitter faz história
Com o afastamento de Chauncey Billups, o Portland Trail Blazers anunciou que o brasileiro Tiago Splitter assumirá interinamente o cargo de técnico principal — tornando-se o primeiro brasileiro a comandar uma equipe da NBA.
Splitter, campeão da NBA em 2014 pelo San Antonio Spurs, vinha atuando como assistente técnico do time. Ele postou em suas redes sociais o anúncio do novo cargo no dia 6 deste mês.
Antes disso, trabalhou no Brooklyn Nets e no Houston Rockets, além de ter treinado o Paris Basketball, onde conquistou dois títulos nacionais.
Aos 39 anos, o ex-pivô assume o time em meio à crise provocada pelo escândalo das apostas. Sua nomeação é vista como um passo histórico para o basquete brasileiro e uma tentativa da franquia de restaurar a credibilidade após o abalo na liga.
O papel da máfia nos esquemas de apostas e jogos manipulados
Os escândalos recentes na NBA marcaram o retorno da máfia a um papel de destaque em esquemas de apostas e fraudes esportivas — algo que não se via com tanta força há décadas.
Segundo o FBI, famílias tradicionais do crime organizado, como Lucchese, Gambino e Bonanno, usavam os jogos de pôquer e as apostas esportivas para lavar dinheiro, esconder ganhos ilegais e cobrar dívidas com violência. Os investigadores descobriram o uso de tecnologia sofisticada, como máquinas de embaralhar adulteradas e óculos capazes de ler cartas marcadas, em partidas supostamente de alto nível, frequentadas até por atletas e técnicos da NBA.
Durante anos, o envolvimento direto da máfia com o esporte parecia ter diminuído, mas o avanço das apostas online e a legalização parcial do setor nos Estados Unidos abriram novas oportunidades. Agora, o crime organizado encontrou um meio mais discreto e rentável de atuar — explorando brechas na regulamentação e o acesso privilegiado de jogadores e treinadores a informações internas.
Com ligas bilionárias como a NBA, onde a combinação de fama, dinheiro e informação sigilosa é explosiva, o ambiente se torna perfeito para a infiltração da máfia. O resultado é uma ameaça real à integridade do esporte, à confiança do público e à própria imagem de um dos maiores espetáculos esportivos do planeta.
Espetáculo esportivo em xeque
A NBA (sigla em inglês para National Basketball Association) é a principal liga de basquete profissional dos Estados Unidos — e uma das mais prestigiadas do mundo. Criada em 1946, a liga se tornou um dos maiores espetáculos esportivos do planeta, combinando entretenimento, marketing e alto desempenho atlético.
Hoje, a NBA é também uma potência econômica global. Na temporada 2023-2024, suas 30 franquias geraram cerca de US$ 11,3 bilhões em receita, um recorde histórico. Além dos jogos, a liga movimenta bilhões com direitos de transmissão, publicidade, venda de produtos licenciados, turismo e eventos internacionais.
Com estrelas que se tornaram ícones da cultura pop — como Michael Jordan, Kobe Bryant, LeBron James e Stephen Curry —, a NBA transcende o esporte: ela é um símbolo de sucesso, inovação e influência cultural em escala mundial.
Lições comuns para EUA e Brasil
Tanto na NBA quanto no Brasil, os casos expõem os riscos de um mercado de apostas bilionário e ainda pouco fiscalizado. As investigações revelam que a linha entre esporte e dinheiro fácil pode ser tênue, e que tanto jogadores de elite quanto atletas de divisões menores estão suscetíveis à tentação de manipular resultados.
Enquanto as autoridades tentam conter os danos, o caso da NBA reforça um alerta global: quando o jogo vira negócio, a ética corre o risco de sair de quadra.