Aos 69 anos, morreu nesta quarta-feira (8) Miguel Ángel Russo, um dos técnicos mais respeitados do futebol sul-americano. Atualmente treinador do Boca Juniors, ele estava licenciado desde setembro e faleceu após longa batalha contra um câncer de bexiga e próstata que o acompanhou nos últimos anos, mas que jamais o afastou completamente dos gramados. “A doença não me tirou nada nem me deu nada”, disse em 2020, quando voltou a trabalhar.
Ex-jogador do Estudiantes, clube onde se formou e construiu laços, Russo trocou o campo pelo banco de reservas aos 32 anos, depois de uma grave lesão no joelho. Dali em diante, viveu à beira do campo por 36 anos e 16 clubes, em seis países diferentes, nos quais deixou a marca de um profissional ético, disciplinado e apaixonado. Longe dos holofotes, era reconhecido pelo trato humano e pelo cuidado com os jogadores, uma espécie de “pai” à moda antiga.
Sua primeira grande conquista veio com o Lanús, quando levou o clube à primeira divisão, e depois com o Estudiantes, que reconduziu à elite em 1994. Mas foi no Rosario Central que encontrou sua casa. Em cinco passagens, conquistou títulos, livrou o time do rebaixamento e ergueu a Copa da Argentina em 2023, já debilitado pela doença.
No comando do Central, jamais perdeu um clássico contra o Newell’s Old Boys, uma façanha que o transformou em lenda local.
Auge no Boca
No Boca Juniors, viveu o auge de sua carreira. Em 2007, guiou a equipe liderada por Riquelme (hoje presidente do clube) ao título da Copa Libertadores, último do clube no torneio continental. Na ocasião, os argentinos derrotaram o Grêmio na final.
Voltaria a dirigir o time em 2020, conquistando mais três troféus: a Superliga, a Copa Maradona e a Copa Argentina.
Russo era discípulo de Carlos Bilardo, técnico campeão com a seleção argentina em 1986, como destaca o jornal argentino Ole. Misturou o pragmatismo defensivo com uma vocação ofensiva e o gosto pelo jogo bem jogado. Gostava de táticas, mas acreditava, antes de tudo, em pessoas. “Você pode errar o esquema, mas não pode errar com o jogador”, dizia.
Russo nunca se afastou totalmente dos campos, mesmo em meio a cirurgias, internações e tratamentos longos. "Miguel deixa uma marca indelével em nossa instituição e sempre será um exemplo de alegria, cordialidade e esforço", diz a nota oficial do Boca Juniors.