“Parente é mais entreguista do que FHC”, diz coordenador do Sindipetro-NF

Para Tezeu Bezerra, representante do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, o atual presidente da Petrobras está sendo “mais agressivo e privatista, tamanha foi a destruição nesses dois últimos anos do governo golpista”

Pedro Parente. Foto: José Cruz/Agência Brasil
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A opinião dos participantes da entrevista promovida nesta quarta-feira (30) pela FUP, com jornalistas da mídia alternativa, sobre a “Greve dos Petroleiros” é unânime quanto aos problemas ocasionados pelo modelo neoliberal de gestão da Petrobras. Para eles, é inegável que o formato trouxe, em um passado não muito distante, e ainda traz, depois do golpe que tirou a presidenta Dilma Rousseff do comando do país, enormes prejuízos, tanto para os trabalhadores do setor, quanto para a economia do país e, consequentemente, à “saúde” da empresa estatal. Questionado por Paulo Henrique Amorim, editor do Conversa Afiada, sobre quem foi pior para a Petrobras, Fernando Henrique Cardoso ou Pedro Parente, Tezeu Bezerra, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), não teve dúvidas e afirmou que o atual presidente da Petrobras está sendo “mais agressivo, entreguista e privatista”. “Tamanha foi a destruição nesses dois últimos anos do governo golpista. Parente é muito pior. Afinal, vendeu quatro refinarias de uma vez. O FHC, em oito anos, vendeu muitas empresas públicas. Para o Brasil todo, FHC foi pior, mas especificamente para a Petrobras, escolho Parente”. Apesar da escolha, o estrago causado por FHC na Petrobras não foi pequeno. O ex-diretor internacional da estatal, Nestor Cerveró, chegou a declarar, em depoimento prestado por delação premiada, que houve pagamento de, pelo menos, R$ 564,1 milhões em propina, referentes a negócios da empresa e uma de suas subsidiárias, a BR Distribuidora, à época do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Segundo Cerveró, o esquema rendeu US$ 100 milhões em propina para integrantes da administração FHC. A quantia é a mais alta apontada pelo ex-diretor da estatal e se refere à aquisição da empresa petrolífera argentina Pérez Companc pela Petrobras. O representante do Sindipetro-NF ainda ressalta que essa política de preços e a condução, propriamente dita, da Petrobras, empregadas pelo atual governo, refletem diretamente na vida da população. “O preço do gás de cozinha, por exemplo, estava a R$ 120,00 antes do desabastecimento. Nos últimos dias, chegou a R$ 150,00, R$ 180,00. Por isso, é bom ficar claro que quem parou o Brasil não foram os caminhoneiros. Quem parou o país foi a política entreguista do Pedro Parente, que tem interesses não alinhados com os do Brasil”. Outro aspecto determinante para a crise atual, segundo Bezerra, é o papel da grande mídia, que massacrou a população com informações inverídicas. “No início, os petroleiros acreditaram, mas logo perceberam que se tratava de conversa fiada”. Criador e criatura Na avaliação de José Maria Rangel, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a relação entre Fernando Henrique Cardoso e Pedro Parente é profunda e nefasta para o país. “Trata-se do criador e da criatura. É importante lembrar que Pedro Parente é filiado ao PSDB e sua indicação para a presidência da Petrobras foi de responsabilidade de FHC para cumprir a cota do PSDB no golpe. Ele foi colocado na Petrobras para concluir o trabalho que o FHC não conseguiu. Eles tinham um projeto de 20 anos de poder, mas tiveram esse ciclo interrompido em 2002. Portanto, para mim, o criador continua mandando na criatura. O Parente reza na mesma cartilha entreguista do PSDB”. O atual presidente da estatal, aparentemente alheio aos protestos contra ele e a política do governo Temer, voltou a autorizar, na última quarta-feira (30), mais um aumento do preço da gasolina nas refinarias. Desde quinta-feira (31), o preço do combustível subiu 0,74%. A alta do combustível nas refinarias, somente no mês de maio, já está acumulada em 9,42%. A administração de Parente na Petrobras é questionada por diversos setores da sociedade. Movimento político “É evidente que a greve é política, pois tudo é política, inclusive a indicação do Pedro Parente para o comando da Petrobras. Nós não podíamos ficar olhando esse desmonte sem fazer nada. Esse governo vendeu quatro refinarias e vários terminais”. José Maria Rangel respondeu dessa forma à indagação de Kiko Nogueira, editor do DCM, que lembrou declaração do atual presidente da estatal de que o movimento dos caminhoneiros era político, pois não reivindicava melhorias salariais. De acordo com o coordenador da FUP, Parente sempre teve fama de ser grande gestor, o que é refutado por ele. “Temos de lembrar que o atual presidente da Petrobras foi o ministro do Apagão de 2000. Outro aspecto importante é que ele vivia afirmando que nós estávamos endeusando o papel do pré-sal. E atualmente é o pré-sal é quem sustenta a Petrobras”. Rangel vê com grande tristeza o fato de a empresa hoje lançar um navio na China. “Isso acontece porque a Operação Lava Jato foi responsável direta por falir todas as nossas grandes construtoras, fechando os estaleiros por consequência”. Números fabricados Rangel ressalta, ainda, que os valores registrados nos balanços da Petrobras, no que se refere à corrupção, chegam a R$ 6 bilhões, o que é muito dinheiro, mas não o suficiente para quebrar a empresa. “Não tenho dúvida de que a partir do balanço de 2014, divulgado em 2015, que apontou resultados negativos, os números foram fabricados”. Para ele, a narrativa de que a Lava Jato iria salvar o país não deve ser levada em conta. “Hoje, os indicadores econômicos e sociais são trágicos. Durante a divulgação dos resultados do nosso PIB, ficou claro que, exceto o Agronegócio, todos os setores estão mal demais. O País do golpe está pendurado no Agronegócio. E a Petrobras é a duplicata do golpe”. O representante da FUP destaca, ainda, um dado importante: “A produção diária da Petrobras, o potencial de nosso parque de refino e a necessidade de consumo interno do Brasil estão muito próximos”, criticando o fato de que hoje o país manda uma porcentagem da produção da Petrobras para refinar no exterior e depois compra de volta, com o preço atrelado ao dólar. Fundos abutres Tezeu Bezerra acrescentou que o recente acordo do governo de subsidiar o diesel representará um custo de R$ 10 bilhões. “Quem vai pagar é o povo. Agora, o que o Parente não fala é que no ano passado o governo golpista firmou um acordo com os fundos abutres e aceitou pagar nada menos do que R$ 11,1 bilhões”. A Petrobras fechou um acordo sem a participação da Justiça brasileira, no qual assumiu o compromisso de pagar R$ 11,1 bilhões para acionistas que ingressaram com ações nos Estados Unidos, alegando que tiveram prejuízos com a empresa estatal.