Doze anos após golpe, esquerda retoma presidência em Honduras

Com as eleições de domingo, a ex-primeira dama Xiomara Castro se tornou a primeira mulher presidenta de Honduras

Xiomara Castro | Foto: Divulgação
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Em junho de 2019, o ex-presidente Manuel Zelaya foi vítima de um golpe jurídico, midiático e militar que interrompeu um ciclo de mudanças sociais e fez o autoritarismo tomar conta de Honduras. Doze anos depois, os militantes do partido Libre conseguiram uma vitória histórica que recolocou a esquerda no comando do país centro-americano e elegeu a primeira mulher presidenta do país, Xiomara Castro.

Com 52% das urnas apuradas, a ex-primeira-dama Xiomara Castro alcançou uma ampla vantagem, com 53,47% dos votos e já teve seu triunfo reconhecido por adversários. Em Honduras não há segundo turno.

Em segundo lugar ficou Nasry Asfura, representante do Partido Nacional de Honduras do presidente direitista Juan Orlando Hernández (JOH), com 34% dos votos. Em terceiro lugar ficou o ex-ministro Yani Rosenthal, do Partido Liberal, com 9,2%.

"Obrigado pessoal! Transformamos 12 anos de lágrimas e dor em alegria. O sacrifício de nossos mártires não foi em vão. Iniciaremos uma era de prosperidade e solidariedade por meio do diálogo com todos os setores, sem discriminação e sem sectarismo", celebrou a presidenta eleita em seu Twitter.

Tentativa de golpe

Apesar da ampla margem de Xiomara, o partido de Asfura chegou a reivindicar vitória antes mesmo do encerramento das urnas. A declaração foi vista como uma tentativa de fraude eleitoral por partido do atual presidente.

Com a forte vigilância internacional após as polêmicas do pleito de 2017, que sagrou a reeleição de JOH em uma apuração bastante tumultuada, o Partido Nacional foi pressionado a reconhecer a amarga derrota.

"Desejamos o melhor sucesso àqueles que venceram as eleições", disse o secretário do Comitê Central do partido oficialista, Kilvett Bertrand, admitindo a derrota.

Durante a contagem de votos de 2017, os computadores da Justiça Eleitoral entraram em pane quando a oposição liderava a disputa. Cinco horas depois, quando o servidor retornou, JOH passou a liderar a apuração até vencê-la com a estreita margem de 1,5%, num pleito que não prevê segundo turno. Com a evidência de fraude eleitoral, milhares de pessoas começaram a sair às ruas em protesto contra o governo que, como resposta, decretou estado de sítio.

O candidato oposicionista naquela ocasião era Salvador Nasralla. Xiomara concorria como vice dele. Em 2019, essa configuração se inverteu após pesquisas indicaram o favoritismo da ex-primeira dama, que já havia sido candidata em 2013. Castro foi uma das fundadoras do Libre, ao lado do esposo Manuel Zelaya.

O golpe de 2009 impôs um período de repressão e perseguição a ativistas no país. Esse cenário se aprofundou no governo JOH, eleito em 2013. Em 2019, o atual presidente chegou a enfrentar fortes mobilizações após ter sido acusado de envolvimento com o narcotráfico. O irmão de Hernández foi condenado nos Estados Unidos com prisão perpétua.

O partido Libre fez questão de lembrar dos mortos pela violência de Estado em mensagem em que comemorou a vitória. Entre os ativistas mortos no período está Berta Cáceres.

https://twitter.com/XiomaraCastroZ/status/1465178119229353986
https://twitter.com/PartidoLibre/status/1465788862752608256