Policial Civil do Rio de Janeiro faz documentário sobre África do Sul Pós-Apartheid

Beto Chaves é o criador do projeto “Papo de Responsa”, que tenta aproximar “os diferentes”

Crianças em Joanesburgo. Foto: Leo Santos
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“A África do Sul de Mandela me ensinou que é possível virar a página manchada da história, desde que nós abaixemos as armas para darmos as mãos” Beto Chaves, Policial Civil do Rio e Diretor de “Logo Ali” Com a direção do inspetor da Polícia Civil Roberto Chaves de Almeida e do designer Leo Santos, o documentário LOGO ALI - África do Sul mostra como a população busca virar a página da segregação. Uma das grandes dificuldades é a sombra do racismo que ainda paira na África do Sul pós-apartheid e a desigualdade resultante dela, mas que, segundo Chaves, está em transformação e andamento. “O que ficou bacana de mostrar é que há processos que a gente às vezes não respeita. Devemos ter maturidade de entender que se o processo está em andamento, estamos ganhando. O que não podemos é retroceder, mas se está caminhando temos que potencializar este processo”, explica. [caption id="attachment_129153" align="alignnone" width="300"] Foto: Leo Santos[/caption] Um dos exemplos desse processo é retratado no filme, quando após uma refeição em uma fazenda na região onde Mandela nasceu, um homem branco diz que não levaria um negro para jantar em sua casa, mas, admite que o seu filho já brinca com negros naturalmente e sem preconceitos. O documentário entrevista quase 40 pessoas e tem os dois lados da moeda: a África do Sul branca, dona da riqueza e detentora de grande parte do país; e os negros, moradores das townships, habitações humildes nas periferias do país criadas para segregar territorialmente os negros durante o Apartheid. Nos dois lados, o sentimento é de que muita coisa ainda precisa ser feita. No lado mais favorecido da história, resquícios da política racista ainda persistem. [caption id="attachment_129155" align="alignnone" width="300"] Foto: Leo Santos[/caption] “É uma história de pessoas, de heróis anônimos, tem a linha do Apartheid, mas não é só isso. O filme mostra a riqueza escondida no meio de todos nós”, reflete Chaves, traçando um paralelo com a jovem democracia brasileira: “a África do Sul e nós somos muito parecidos em nossas mazelas e riquezas. A sombra do Apartheid ainda existe, é tudo muito novo. O regime começa em 1948 e acaba em 1990. Olha para o Brasil, tudo o que aconteceu, a nossa constituição da República tem 30 anos. É muito pouco tempo para dizer que a questão do racismo está resolvida. A nossa democracia aqui é jovem, lá também”, compara. [caption id="attachment_129154" align="alignnone" width="300"] Foto: Leo Santos[/caption] Beto é Policial Civil no Rio de Janeiro, já participou de incontáveis operações policiais de combate às drogas, numa cidade completamente marcada e dividida numa guerra civil não declarada. Desde os primeiros dias em sua carreira policial, Beto desejou fazer diferente, criou um programa dentro da Polícia Civil que iria na direção contrária, rompendo com a repetição do sistema repressivo ao qual estava inserido e ao rumo tomado desde a fundação de sua instituição, criando assim o Papo de Responsa. "Responsa" é uma gíria carioca que significa responsabilidade, seriedade e objetividade. Esse programa visa o diálogo e uma escuta absolutamente generosa, entre diferentes, como “arma” fundamental para o alcance da empatia, assim resultando na prevenção da violência e na aproximação da sociedade com a polícia de forma natural, derrubando os muros invisíveis que separam as pessoas, numa conversa franca e aberta, visita escolas, universidades, igrejas, associações de moradores, dividindo suas experiências pessoais e profissionais, aproximando pessoas de pessoas. Com o Papo de Responsa, Beto tornou-se conhecido por todo o Brasil e viajou por 31 países, provando que é possível rompermos com os estereótipos e repensarmos o preconceito. Financiamento coletivo para lançar documentário Com as dificuldades existentes para quem faz cinema no país, os realizadores do documentário tentam levantar recursos de forma coletiva para divulgá-lo e levá-lo aos cinemas e festivais do Brasil e do mundo. “O mais bacana foi a ação de realizar, mas tem o mérito de ele estar pronto e disponível para as pessoas. Realizar é difícil, mas realizar cultura é muito mais difícil, ainda mais em nosso país. Documentário é meio marginal, não tem a grande audiência, é mais difícil captar recurso, carece um pouco disso, da necessidade de formar público”, disse ao explicar que a ideia de fazer o filme com o designer Léo Santos “foi uma grande boa conspiração do universo.” O dinheiro arrecadado será usado para levar o documentário aos cinemas, além de produzir material gráfico, divulgação online, assessoria de imprensa, palestras em escolas públicas e universidades, inscrições e participações em festivais de cinema. Mas a principal meta é garantir presença no Festival de Durban, na África do Sul, na mesma data em que se comemora o centenário de Nelson Mandela, no dia 18 de julho. As recompensas para quem ajudar vão desde o nome nos créditos finais do documentário, acesso online ao filme em primeira mão, até convites para a pré-estreia, variando de R$ 25 a R$ 250. Para colaborar e fazer parte deste projeto, basta acessar http://www.querovernocinema.com/