Bernie Sanders é cotado para secretário de Trabalho de Biden, por Heloisa Villela

Sanders tem feito tanto esforço pela eleição dele que Biden deveria incluí-lo em um futuro governo

Joe Biden e Bernie Sanders (Foto: Reprodução)
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A Flórida conseguiu, mais uma vez, se tornar a peça-chave do xadrez político dos Estados Unidos. Basta olhar a imagem do fim de semana para entender o que se passa: dois presidentes em campanha no mesmo estado, no mesmo dia. Barack Obama, o ex, fez comício na Universidade Internacional da Florida enquanto Donald Trump, futuro ex?, votou antecipadamente e usou a oportunidade para convocar os republicanos a fazerem o mesmo. Foi uma enxurrada de votos para Trump.

Até a manhã de sábado, dia 24, os democratas lideravam disparado no estado. Tinham 387 mil a mais do que os republicanos. A turma de Trump não virou o jogo. Ao menos, não ainda. Mas reduziu em 21% a diferença. Joe Biden não quer ser a Hillary Clinton de 2020. Há quatros anos a candidata democrata não conseguiu carregar o voto negro na Flórida. Especialmente o voto dos homens negros mais jovens. Quem tem o carisma e a conexão para trazer esse pessoal para o processo político é Barack Obama.
Mas o ex-presidente não está sozinho no esforço. O jogador de basquete LeBron James, grande estrela das quadras e quatro vezes campeão nacional, faz parte de um coletivo de atletas chamado More Than a Vote (Mais do que o Voto) dedicado a combater a campanha de desinformação que bombardeia a comunidade negra. Eles são uma espécie de esquadrão anti fake news. Junto com outros coletivos, como o Win Black, eles estão promovendo vídeos de ativistas e celebridades negras para incentivar o pessoal a votar.

O envolvimento dos atletas negros na luta política é um capítulo à parte e não começou nesta década. Mas agora eles jogam contra Trump unidos. Tudo começou em agosto de 2016 quando o quarterback do time de São Francisco, Colin Kaepernick, firmou um joelho no gramado durante a execução do hino nacional, antes do jogo começar, em protesto contra a violência policial que mata centenas de homens negros no país todo ano. O protesto se multiplicou e ganhou ainda mais força e visibilidade quando Donald Trump se irritou e disse que todos deveriam ser expulsos da liga de futebol americano. O engajamento dos atletas negros, de vários esportes, só aumentou.

Trump venceu na Flórida, em 2016, com uma vantagem de apenas 113 mil votos. Hillary não conseguiu mobilizar a coalizão de negros e latinos que deu vitória a Barack Obama, no estado, duas vezes. E até o momento, parece que Biden também não está conseguindo. Por isso a presença de Obama no estado. Ainda há tempo para convencer muita gente. E eles estão tentando. Por mais que não comente em público, Biden tem outro cabo eleitoral forte, que tem feito mais comícios do que ele: Bernie Sanders.
O senador de Vermont foi pré-candidato a presidente, disputou com Biden a indicação do partido, mas agora está empenhadíssimo em garantir a vitória do democrata. E faz uma campanha muito honesta. Quando perguntam a ele porque um eleitor que queria Sanders na Casa Branca deve votar em Biden ele responde: olhem o programa de governo dele. Não é o meu, claro. Mas inclui aumentar o salário mínimo para 15 dólares por hora, combater o aquecimento global, investir US$ 1 trilhão em energias renováveis gerando empregos, facilitar a sindicalização no país e, claro, “ele não vai ser um ditador”.

Nos bastidores, a campanha é intensa para que Biden, se eleito, escolha Bernie Sanders para a Secretaria do Trabalho. Já se sabe que o candidato democrata está procurando, no partido republicano, alguns nomes para compor o ministério. Mas Bernie Sanders tem feito tanto esforço pela eleição dele que Biden deveria incluí-lo em um futuro governo. Aposto que ele não vai fazer o convite. Não vai trazer Sanders para dentro do governo e desconfio que o progressista de Vermont também está convencido disso. Ele será a força independente capaz de articular apoio popular por mudanças. Para isso, já prometeu até uma agenda para os primeiros 100 dias de governo.

Aqui nos Estados Unidos é praxe a agenda dos 100 dias. O período é apelidado de lua de mel, quando o Congresso tem boa vontade com o presidente que está apenas começando no cargo. São costumes do passado. Na prática, não existem mais nesses tempos de imediatismo, pressa e ciclos de notícias cada vez mais curtos. Mas Sanders vai usar a própria agenda para se contrapor ao futuro governo e cobrar mudanças. Acho que vai ser bem mais eficiente tê-lo na trincheira da oposição, dentro e fora do Congresso, do que em um gabinete que não terá a menor força dentro de uma administração Joe Biden.

Em tempo: a Covid avança na Casa Branca, o que não ajuda em nada o governo Trump. Nesse fim de semana, os dois principais assessores do vice-presidente Mike Pence receberam resultado positivo no teste do coronavírus. Marc Short, chefe do gabinete de Pence, e Marty Obst, principal assessor dele, estão contaminados. Mas Pence teve resultado negativo no sábado e vai continuar na campanha com comícios marcados na Carolina do Norte, neste domingo, e em Wisconsin, na segunda-feira.