Presidente do Peru renuncia seis dias após assumir o poder

Manuel Merino liderou processo que terminou com destituição do antecessor Martín Vizcarra, em golpe parlamentar parecido ao que sofreu Dilma Rousseff, em 2016

Manuel Merino (foto: Andina.pe)
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A crise política no Peru ganhou um novo capítulo neste domingo (15), com a renúncia de Manuel Merino, presidente que assumiu o poder no país no da segunda-feira (9), após a destituição de Martín Vizcarra, mas que sequer conseguiu completar uma semana no cargo.

Os seis dias de presidência de Merino foram marcados por fortes protestos em todo país, todos os dias, contra o que a sociedade entendeu como um governo ilegítimo.

No fim da tarde deste domingo, com 120 votos a favor, o Congresso peruano aprovou o pedido de renúncia e declarou vaga a cadeira presidencial.

Com a queda de Merino, o Peru tem a terceira queda de um presidente antes do fim do mandato nos últimos 2 anos.

Em março de 2018, o economista Pedro Pablo Kuczynski, vencedor das últimas eleições presidenciais (em 2016), renunciou ao cargo às vésperas de uma votação no Congresso por seu suposto envolvimento em um esquema de compra de votos de parlamentares.

Em seu lugar, assumiu Martín Vizcarra, até então vice-presidente, e que gozou de uma popularidade próxima de 30%, que pode parecer baixa, mas era considerado um recorde no país neste século.

Porém, Vizcarra foi acusado recentemente de um suposto esquema de corrupção em 2011, durante seu mandato como governador da província de Moquegua, e apesar de não haver nenhum parecer do Poder Judiciário ou do Ministério Público respaldando a acusação.

Na última segunda-feira (9), os congressistas decidiram, por 105 votos a favor e 22 contrários, decretar “incapacidade moral” do mandatário para continuar exercendo o cargo, em um processo que, em muitas partes, se assemelha à manobra política que resultou no golpe contra Dilma Rousseff no Brasil, em 2016.

Manuel Merino, presidente do Congresso Nacional do Peru, assumiu o poder, por ser a seguinte pessoa na linha de sucessão. Porém, a população peruana foi às ruas desde a noite de segunda-feira, e nunca aceitou a presidência do ex-parlamentar.

Os protestos da noite deste sábado (14), que terminou com forte repressão policial e a morte de dois manifestantes, foram o último capítulo do breve mandato de Merino, que não resistiu a pressão inclusive de aliados para que renunciasse, segundo a imprensa local – a mesma que reporta rumores inclusive de que há um jato privado para que ele fuja do país nas próximas horas.

Não se sabe ao certo quem assumirá o país a partir de agora. Em um princípio, essa responsabilidade deveria ser do presidente do Poder Judiciário, José Luis Lecaros Cornejo.

Também há rumores de que o país poderia antecipar as eleições presidenciais, cujo primeiro turno estava marcado para o próximo mês de abril.

No entanto, das manifestações que pediam a renúncia de Merino também vinha surgindo, nos últimos dias, uma demanda por uma assembleia constituinte, seguindo o exemplo da revolta social do Chile em 2019. Nesse sentido, vale destacar um fato: a atual constituição do Peru foi imposta em 1993, pelo então ditador Alberto Fujimori, um ano depois do autogolpe que o manteve no poder até novembro de 2000.