Colégio Eleitoral: Sistema injusto dos EUA pode estar com os dias contados, por Heloisa Villela

Modelo confuso e antiquado, a eleição indireta (e muitas vezes injusta) para presidente da maior potência do planeta está prestes a acabar. Hoje, com apenas 74 votos a mais, já seria possível adotar um novo modelo que aposentaria o tão criticado colégio eleitoral usado pelos norte-americanos, sem a necessidade de uma reforma legal profunda envolvendo o Congresso.

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Faltam só 74 votos! Exatamente. É só o que falta para mudar o falido sistema do colégio eleitoral norte-americano. Junto com a eleição presidencial, os estados escolhem também deputados, senadores e votam resoluções para mudar leis estaduais. Esse ano, o Colorado passou a proposta do Voto Popular Nacional. Um compromisso de dar todos os delegados que tem no colégio eleitoral ao candidato que ganhar no voto popular. Com o Colorado, agora são 16 estados que fazem parte deste acordo e, juntos, eles têm 196 votos do colégio eleitoral. Se conseguirem atrair outros estados que somem 74 votos, eles acabam com sistema injusto sem precisar mudar as leis, ou discutir uma proposta no Congresso.

Os 16 estados estão comprometidos a fazer a mudança assim que chegarem à soma de 270 votos no colégio eleitoral. Falta pouco. E seria uma maneira fácil e rápida de acabar com esse modelo criado com a ideia de dar a todos os estados um peso semelhante no processo de escolha do presidente. Pode ser que tenha funcionado no começo da república, mas hoje, na prática, um grupo pequeno de estados acaba tendo um peso gigantesco no processo. Somente os estados-pêndulo, que não têm perfil democrata ou republicano definido, se tornam as vedetes desse método sem igual no mundo e que tem trazido o seguinte resultado: 5 dos últimos 45 presidentes eleitos no país venceram no colégio eleitoral, mas perderam no voto popular.

A briga do governo Trump é para garantir que o sistema atual continue o menos representativo possível. E é por isso que ele comprou briga com o censo populacional. A cada 10 anos o país conta quantas pessoas vivem em cada estado, além de coletar dados sobre idade, país de origem, raça, etc. Só que ele foi à Suprema Corte para impedir que o levantamento conte os imigrantes que estão no país sem documentos. Quer fazer de conta que eles não existem para não mudar o peso dos estados na política. Com base nos dados do censo, o número de deputados que cada estado tem no Congresso vai mudar. Trump, e os republicanos, não querem que os estados que têm uma população de imigrantes maior ganhem cadeiras na Câmara. É a antidemocracia em ação.

Mas essa eleição, que ainda pode resultar na vitória dos democratas, por uma margem muito apertada, tem que forçar muita reflexão por aqui. Como foi que eles perderam por uma margem grande de votos na comunidade latina não só da Flórida, mas também do Texas? As lideranças locais dizem que o partido democrata nem apareceu para fazer campanha, ao contrário da turma de Donald Trump. Ainda que esse não tenha sido o motivo da derrota na Flórida. Biden perdeu também entre os eleitores brancos, mais velhos. E precisa pensar no porquê. O que se viu esse ano foi uma briga pelos votos conservadores.

Os democratas decidiram brigar pelo voto da direita achando que os progressistas estavam no papo. No entanto, é a alma do partido que está em jogo. Faz tempo que os democratas se venderam para vários interesses econômicos. Agora, uma turma nova, comprometida com ideais progressistas, está aos poucos ocupando o partido. Ainda são poucos. Mas estão crescendo e ganharam mais espaço com essa eleição. Vai demorar, mas para sobreviver como opção política, os democratas terão que mudar. Ou verão uma boa parte da população desistir deles e abraçar outras iniciativas, como o Partido do Povo, fundado este ano com ativistas desiludidos que trabalharam pela campanha de Bernie Sanders e se sentiram traídos pela máquina democrata.