Na avaliação do jornalista francês Stéphane Foucart, do jornal Le Monde, o acordo de US$ 10 bilhões feito pela Bayer na Justiça, nesta quarta-feira (24), foi bom para a empresa. O resultado foi uma espécie de compensação a cidadãos norte-americanos, que alegam ter desenvolvido câncer depois de exposição ao glifosato, substância ativa do herbicida Roundup.
Em março de 2019, Jair Bolsonaro liberou o uso do glifosato no Brasil, substância associada ao desenvolvimento de câncer e ligada a processos bilionários nos Estados Unidos.
No mesmo ano, a Bayer comprou a rival Monsanto, fabricante do Roundup, por US$ 63 bilhões.
Ao lado de Stéphane Horel, Foucart é coautor da série de reportagens publicadas na França sob o título “Os Monsanto Papers”. Durante entrevista à rádio France Info, nesta quinta-feira (25), ele disse que observa o acordo bilionário como “uma confissão de que a Bayer não venceria a disputa judicial nos Estados Unidos”.
A Bayer, empresa química alemã, terá de pagar quase US$ 10 bilhões para evitar condenações. “Para os acionistas, é uma maneira de garantir o futuro”, diz Foucart.
O valor pode parecer astronômico, mas as perspectivas do negócio permanecem boas, e os investidores estão voltando, de acordo com o jornalista francês. “O preço das ações da Bayer tem aumentado ultimamente”, ressalta.
Problema principal
Foucart acredita que a gigante química alemã não tinha outra alternativa. “A Bayer já perdeu três processos em primeira instância. A direção entrou com recursos contra essas decisões, mas enfrenta dificuldades em defender o produto Roundup em juízo. Hoje, o principal problema da Bayer é o ‘Monsanto Papers’. Centenas, milhares de correspondências internas da Monsanto mostram que os executivos e toxicologistas da empresa tiveram mais de duas décadas de fortes dúvidas sobre a segurança do uso de agrotóxicos à base do glifosato. É muito complicado defender seu produto em juízo quando você mesmo expressou dúvidas em sua correspondência interna”, acrescenta o jornalista.
Com informações da Rfi