Cristina Kirchner declara à Justiça que “Macri usou traficantes para perseguir e espionar opositores e aliados”

A ex-presidenta e atual vice afirmou que este é “um escândalo verdadeiro e sem precedentes”, e destacou que parte da grande imprensa argentina foi cúmplice do macrismo nessa perseguição

Cristina Kirchner, acompanhada de sua equipe jurídica (foto: agência Télam)
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A vice-presidenta argentina Cristina Kirchner compareceu aos tribunais de Justiça em seu país nesta segunda-feira (8) para depoimento e reconhecimento de material coletado em um processo que investiga o ex-presidente Mauricio Macri, acusado de possível ação de espionagem ilegal contra opositores.

Kirchner, que também é ex-presidenta, e que hoje, além de vice, também é presidenta do Senado, esteve na sede do Poder Judiciário acompanhada pelo seu advogado, Carlos Beraldi, e foi a primeira de uma longa série de testemunhas que teriam sido espionadas pela AFI (Agência Federal de Inteligência da Argentina) durante o governo de Macri.

Após deixar o edifício, a vice-presidenta disse aos jornalistas que estavam no local que “este é um escândalo verdadeiro e sem precedentes”, e confirmou que, em seu depoimento, ela responsabilizou diretamente Mauricio Macri pela espionagem.

“A AFI que dependia diretamente de Mauricio Macri, que usou narcotraficantes para realizar ataques a seus próprios funcionários de governo e monitorar e espionar opositores”, disse Kirchner.

Logo, a presidenta do Senado argentino soltou uma indireta a alguns meios de imprensa do seu país, que apoiaram o governo macrista. “E pensar que esse governo (de Macri) foi mostrado por alguns meios como o que veio para combater o narcotráfico. Quantas mentiras e quanto cinismo!”.

Embora Kirchner não tenha sido específica, o histórico político do país permite supor que o Grupo Clarín – maior grupo de mídia do país, aliado do macrismo e de linha editorial economicamente neoliberal, e ultraconservadora em termos de direitos civis (como a Globo no Brasil –, foi ao menos um dos alvos dessa menção.

Aliás, não somente figuras opositoras estão entre as vítimas do esquema. Tanto que o depoimento desta terça-feira (9) será do atual prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, membro do partido macrista PRO (Proposta Republicana).

O juiz responsável pela causa, Fernando Villena, também convocou outras importantes figuras políticas espionadas, incluindo o ex-presidente Eduardo Duhalde (de centro, não macrista), o líder sindicalista Hugo Moyano (ex-macrista, hoje peronista, mas não kirchnerista), o deputado Máximo Kirchner (filho de Cristina), a ex-governadora da Província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal (macrista), entre outros.