Chile vive noite de panelaços e barricadas na véspera de votação do projeto sobre acesso a 10% de fundo previdenciário

Defesa dos interesses das administradoras de previdência privada levou governo de Sebastián Piñera à curiosa situação de contrariar pilares ideológicos da direita, como a propriedade privada e a liberdade individual

Barricada em Santiago (foto: Frente Fotográfico)
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A noite desta terça-feira (14) foi marcada por intensos panelaços em todo o Chile, especialmente na capital Santiago, e barricadas localizadas em alguns bairros da periferia da capital e de outras grandes cidades do país.

A iniciativa acontece na véspera de uma votação, na Câmara dos Deputados, de um projeto que, se aprovado, permitiria aos trabalhadores chilenos retirar 10% do valores depositados em suas contas individuais de fundo previdenciário, para ajudar em seu sustento durante o período de pandemia, na qual as cidades mais populosas do Chile se encontram em quarentena e com a maioria de suas atividades econômicas paralisadas.

O modelo chileno de previdência, instalado desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), é administrado exclusivamente por empresas privadas, e essas vêm realizando um fortíssimo lobby para evitar que esse projeto seja aprovado.

Este modelo, um dos mais repudiados no país desde a revolta social chilena, é a inspiração do projeto previdenciário que o ministro da Economia Paulo Guedes tenta reproduzir no Brasil.

A defesa dos interesses das administradoras de previdência privada levou o governo neoliberal de Sebastián Piñera à curiosa situação de contrariar pilares ideológicos da direita, como a propriedade privada e a liberdade individual.

O ministro da Fazenda chileno, Ignacio Briones, chegou a declarar recentemente, à imprensa local, que “francamente, me assusta essa ideia de defender um direito irrestrito à propriedade”.

Sobre as críticas pela postura do governo ser contrária à liberdade individual dos cidadãos de utilizar os fundos previdenciários que são seus, Briones disse que “quando defendemos uma restrição a esse direito à propriedade, não é para atacar a liberdade individual, e sim para proteger o futuro das pessoas”.