Com o apoio de Macri, policiais em greve cercam casa do presidente argentino

Primeiro ataque aconteceu na madrugada, com uma bomba molotov atirada contra a residência de Alberto Fernández. Pela manhã, viaturas policiais rodearam o local. Evento lembra golpe na Bolívia em 2019 e crise no Ceará em fevereiro

Greve da polícia de Buenos Aires (foto: Página/12)
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A situação política na Argentina passou a uma nova fase de tensão nesta quarta-feira (9), quando a greve dos policiais por aumento salarial, iniciada na segunda-feira (7), resolveu realizar uma manifestação em volta da Quinta de Olivos, residência oficial do presidente Alberto Fernández – diferente da Casa Rosada, que é seu local de trabalho.

A greve é fortemente apoiada pelo partido PRO (Proposta Republicana), principal legenda opositora, liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri, o que faz com que a ação desta quarta ganhe ares de golpismo, se considerados três fatores primordiais.

O primeiro é que, assim como no Brasil, a administração das polícias não são responsabilidade do governo federal argentino e sim dos governos estaduais. Aliás, esta greve envolve apenas os policiais da Província de Buenos Aires, que respondem ao governador Axel Kicillof (kirchnerista).

O segundo ponto é que líderes da greve haviam admitido, na tarde de terça-feira (8), que o governador Kicillof havia aceitado a parte mais importante das reivindicações e prometido um aumento escalonado a partir de outubro, mas disseram que não o aceitariam, o que levou à reação no dia seguinte, contra uma instância que não está diretamente ligada à polícia.

Mas o terceiro aspecto, mais complexo, está no passado recente. A greve dos polícias de Buenos Aires traz a recordação de um episódio recente na América Latina, que terminou com uma democracia: o golpe de Estado de novembro de 2019 na Bolívia, que começou com uma greve de policiais e terminou com os militares obrigando o presidente Evo Morales a renunciar, e impondo a senadora Jeanine Áñez no poder, para um suposto mandato tampão, mas que se mantém até hoje, depois de adiar as novas eleições três vezes.

Em fevereiro deste ano, também houve um caso semelhante, com uma greve de policiais realizada no Ceará, que contou com o apoio do governo de Jair Bolsonaro e terminou com um atentado contra o senador Cid Gomes.

Ademais, a manifestação desta quarta foi precedida de um ataque pela madrugada à mesma residência presidencial de Fernández, por um sujeito que atirou uma bomba molotov contra um dos muros. O autor do atentado já está preso e se investiga seus vínculos políticos e sua possível ligação com a greve dos policiais.

Vale lembrar que, há duas semanas, o ex-presidente argentino Eduardo Duhalde (peronista de direita) deu uma entrevista em um programa de televisão aludindo à possibilidade de um golpe militar contra o presidente Alberto Fernández.