Presidente da Bolívia, Luis Arce, em visita à CUT: “é possível derrotar a direita golpista”

Estiveram presentes ao encontro o presidente da Central Sergio Nobre, Luiz Marinho, Fernando Haddad e Eduardo Suplicy entre outras lideranças

Luis Arce na sede da CUT. Foto: Roberto Parizotti (Sapão)/Divulgação
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O presidente da Bolívia, Luis Arce, afirmou durante a visita que fez à sede da CUT Nacional, em São Paulo, nesta terça-feira (16) que é possível derrotar a direita golpista, promover o bem estar social, diminuir a desigualdade econômica, taxar grandes fortunas, distribuir renda, e ainda unir os povos latinos americanos e caribenhos.

Luis Arce relatou como os socialistas conseguiram derrotar a direita, apesar das perseguições, do apoio da mídia conservadora ao seu adversário, em nome de uma suposta constitucionalidade do golpe em curso, e da elite do país que reascendeu um discurso racista contra os povos indígenas, obrigando-os, muitas vezes, especialmente as mulheres, a evitar usar o traje tradicional de sua etnia.

Apoio da classe média

“A direita conseguiu o apoio da classe média, incentivando o ódio racial, que é o pior dos insultos, satanizando o socialismo e dizendo que as pesquisas davam empate quando na verdade estávamos 22% à frente”, disse o presidente da Bolívia.

Segundo ele, foi incentivando o povo a votar e esclarecendo que se não ganhassem no primeiro turno, a direita se uniria em torno de um candidato, colocando em risco a retomada da economia, e os investimentos em saúde e educação, além de fazer a opinião pública entender que a direita conspirou até o último dia, que a situação se reverteu a favor dos socialistas.

“Um país cresce mais rapidamente quando há mais igualdade para os pobres”, concluiu Luis Arce.

Sergio Nobre, presidente da Central, recebeu Arce em cerimônia que contou com a presença do ex-ministro do Trabalho e Previdência, Luiz Marinho, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da educação, Fernando Haddad, o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), e representantes do Partido dos Trabalhadores, do MTST e da UNE, entre outras autoridades, além de integrantes da comunidade boliviana, em São Paulo.

Aprendizado para o Brasil

Nobre lembrou que a experiência boliviana contra o golpe de 2019, que exilou Evo Morales, é um aprendizado para o Brasil, que viu a Operação Lava Jato impedir o ex-presidente Lula de ser candidato à presidência da República, nas eleições de 2018, num esquema do judiciário, totalmente arbitrário, que levou Jair Bolsonaro (Sem Partido) ao poder. Com a impossibilidade de Morales ser candidato, Arce, ex-ministro da Economia, aliado do ex-presidente boliviano, foi indicado para disputar a eleição no ano seguinte e venceu no primeiro turno.

“As mesmas pessoas do sistema financeiro internacional que deram golpe aqui no Brasil, interessadas no petróleo do pré-sal, são as que deram o golpe na Bolívia, interessadas nas reservas de lítio”, disse Nobre.

“Aqui Bolsonaro está privatizando aos poucos nossas estatais, que eram fontes de financiamento do serviço público. Ele quer acabar com serviço público no Brasil e, isto é uma coisa terrível porque o nosso país nunca viveu um momento de crescimento, que não tivesse planejamento do Estado”, complementou.

Para o presidente da CUT Nacional, o que aconteceu na Bolívia com Arce vencendo no primeiro turno, com 55% dos votos válidos, pode ocorrer no Brasil com Lula, como mostram as pesquisas.

“Se a gente olhar todas as lições de outros países da nossa região verá que sempre foi muito difícil para a esquerda vencer, seja na Venezuela, no Equador no Peru, e aqui não será diferente. Mas, a experiência da Bolívia é muito importante para nós, porque mostra que os golpistas são poderosos, mas não são invencíveis. Vocês venceram lá e nós vamos vencer aqui”, declarou.

Haddad e Marinho destacam união das esquerdas na AL

O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, destacou a importância da união das esquerdas na América Latina. Segundo ele, somente os governos progressistas têm um projeto de integração da região.

“A América Latina não tem chance de sobreviver nesse mundo, sem se integrar. Sempre achei que a nossa integração ocorria de forma muito lenta, quem sabe depois dessa hecatombe da extrema-direita, a gente tome consciência de fazer esta integração mais rapidamente”, disse.

Otimista com relação a um possível terceiro mandato do ex-presidente Lula, disse esperar que esta integração seja mais rápida. Ao ser perguntado se Lula já tinha se decidido em ser candidato à presidência, brincou: “a gente decide por ele”.

“Precisamos derrotar o fascismo, de preferência no primeiro turno. Se o fascismo for para o segundo turno, ele vai disputar corações e mentes. No que depender de mim, vou lutar para Lula vencer no primeiro turno e dar tranquilidade a ele para governar”, declarou Haddad.

Resistência

Para o ex-ministro do Trabalho e Previdência, Luiz Marinho, a classe trabalhadora tem um importante papel nesta conjuntura, em que a extrema direita está no poder.

“A visita de Luis Arce à CUT é uma sinalização importante de que a resistência tem um papel significante neste processo, e isto passa pela classe trabalhadora e pelos processos eleitorais nas janelas democráticas, e o ano que vem é uma janela democrática importante para o Brasil e a América Latina. Está em jogo o processo liderado no Brasil, pelo presidente Lula, e em São Paulo, liderado por Haddad”, afirmou Marinho.

Segundo o ex-ministro, a eleição do Lula terá um peso muito grande também na América Latina. A sua viagem à Europa, ignorada pela mídia, é uma demonstração deste significado.

“Lula é a esperança do povo brasileiro, de um líder que pensa além das nossas fronteiras, junto com outros líderes, que resiste ao fascismo, ao liberalismo. Nossa missão é vencer as eleições para combater a fome, e se combate a fome, além das políticas sociais, gerando emprego de qualidade, o que as reformas trabalhista e da previdência não fizeram”, destacou.

Com informações da CUT