Eleito, Lula vai rever acordo anunciado por Bolsonaro e Guedes do Mercosul com União Europeia

"Não queremos apenas exportar soja, milho e minérios", disse Lula durante viagem à Europa sobre o acordo assinado às pressas por Bolsonaro e Guedes, que limita exportação agrícolas do Mercosul e abre setores estratégicos da economia aos países europeus.

Lula, com Celso Amorim e Aloizio Mercadante, no encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron (Foto: Ricardo Stuckert)
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Em seu giro pela Europa, onde encontrou chefes de Estado e lideranças políticas, o ex-presidente Lula (PT) prometeu que, caso seja eleito em 2022, vai rever o acordo fechado às pressas por Jair Bolsonaro (Sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, entre o Mercosul e a União Europeia.

Segundo Jamil Chade, em seu blog no portal Uol, Lula avalia que o acordo foi um erro, usado meramente para Bolsonaro apresentar algum fato diplomática seis meses após ser eleito.

"Os parceiros europeus precisam entender que nós devemos exportar produtos acabados que tenham maior valor agregado para que possamos avançar", disse. "Não queremos apenas exportar soja, milho e minérios", emendou o ex-presidente.

O tratado, que ainda não passou pela aprovação dos parlamentos europeu e brasileiro, é extremamente danoso ao Brasil, que teria de limitar a exportação de produtos agrícolas. Por outro lado, a Europa teria acesso a setores estratégicos da economia brasileira em compras governamentais, serviços e propriedade intelectual.

Na pressa, Bolsonaro e Guedes convenceram os países da América a aceitarem cotas ridículas na área agrícola, como a de 99 mil toneladas na carne bovina, o que representa menos de 1% do que o Brasil produz. Em relação ao frango, a cota de 180 mil toneladas concedida ao Mercosul representa apenas 1,2% do consumo da UE. Com o açúcar, o porcentual se repete.

Pressa dupla para tentar reeleger Macri

Ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que acompanhou Lula no giro pela Europa, afirma que houve uma pressa dupla.

"Por um lado, o Brasil queria mostrar alguma coisa em política externa, por não ter uma política externa. Por outro lado, a Argentina queria reeleger Maurício Macri, e também precisava mostrar alguma coisa. O acordo foi muito mal negociado", disse ele, ressaltando que "uma coisa que um negociador não pode ter é pressa".

Amorim afirmou ainda que a relação do Brasil com a Europa é Muito importante por quebrar a polarização entre EUA e China.

"Mas não precisávamos entregar tudo em compras governamentais, serviços, propriedade intelectual e essas cotas ridículas, enquanto baixamos a zero nossas tarifas".

Encontro com primeiro-ministro da Espanha encerrou viagem à Europa

Um encontro com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, no Palácio de Moncloa, em Madri, nesta sexta-feira (19) encerrou a viagem de Lula à Europa.

“Espanha e Brasil compartilham fortes laços estruturais e permanentes em diferentes áreas. Hoje, encontrei-me com o seu ex-presidente, @LulaOficial, para tratar de vários assuntos de interesse comum, como a situação da pandemia, as mudanças climáticas e a recuperação econômica”, tuitou Sánchez com fotos com o petista.

A viagem do ex-presidente se tornou um dos principais assuntos políticos da semana. Lula tem mostrado que ainda possui forte prestígio internacional e, inevitavelmente, suas agendas com importantes lideranças políticas têm sido comparadas com o isolamento de Bolsonaro no mundo, especialmente na União Europeia.

Em sua passagem pelo Velho Continente, Lula teve mais encontros com lideranças políticas do que Bolsonaro teve, por exemplo, durante toda a sua passagem por Nova York para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ocasião em que, para muitos, o presidente passou vergonha. O ex-mandatário, durante as agendas, não tem economizado críticas ao governo, denunciando o negacionismo do titular do Planalto no âmbito da pandemia, a volta da fome no Brasil e a antipolítica ambiental do chefe do Executivo.

O petista, logo nos primeiros dias de viagem, se reuniu e arrancou elogios do provável futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, discursou e foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu, tendo se reunido ainda com a vice-presidente da casa legislativa, teve uma recepção calorosa na França, onde foi agraciado com o prêmio Coragem Política, da revista Politique Internationale, e almoçou com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.

Encontro com Macron

O ápice da viagem, no entanto, se deu ao encontrar, para além das lideranças regionais, um chefe de Estado: Emmanuel Macron, presidente da França, que por sinal é desafeto de Bolsonaro. O ex-presidente brasileiro foi recebido com pompa pelo mandatário francês, com direito a honrarias e marcha da Garde Républicaine, protocolo típico utilizado para receber chefes de Estado. Lula ainda tem reunião marcada com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

Enquanto tudo isso acontecia, Bolsonaro passeava com uma grande comitiva nos Emirados Árabes, onde, sem reuniões importantes, chegou a fazer uma “motociata”. Isso pouco depois de ir à Itália e ficar “perdido” no âmbito da reunião do G20.