Lula a jornal argentino: “Bolsonaro é um fascista e Moro é um neofascista”

Em entrevista ao Página 12, o ex-presidente falou sobre a relação entre o Brasil e a Argentina e os desafios econômicos do continente para os próximos anos

Lula, Cristina Kirchner e Alberto Fernandez (Foto: Ricardo Stuckert)Créditos: Estaban Collazo/Presidência da Argentina
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu, nesta sexta-feira (10), entrevista exclusiva ao jornal Página 12, o terceiro maior em circulação da Argentina. Durante a conversa, Lula falou sobre os problemas em vários países da América Latina, a relação entre o Brasil e a Argentina e os desafios econômicos do continente para os próximos anos.

“O Brasil vive uma situação que achava que nunca mais viveria, com 19 milhões de pessoas passando fome”, disse o fundador do Partido dos Trabalhadores (PT).

Sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-juiz e pré-candidato à Presidência Sérgio Moro, Lula afirmou que “são dois personagens muito comprometidos com a extrema direita e, no caso do Moro, é um personagem perigoso: quando era juiz se atreveu a mentir em um processo para me condenar e me levar para a prisão e assim me impedir de ser eleito presidente em 2018”, disse. “Ainda me pergunto: quantas mentiras esse homem pode contar à sociedade brasileira? Então, eu diria que são dois extremistas, o Bolsonaro é um fascista e o Moro é um neofascista, os dois vão tentar mentir para a sociedade o tempo todo. Eles vão ter que lutar entre si para ver quem vai para o segundo turno com o PT”, completou.

Boas chances de vencer

Lula afirmou também que “tudo indica que o PT tem boas chances de ganhar em 2022. Temos que agir com seriedade porque não há tempo para as eleições e, então, não podemos cantar vitória antes do tempo”. Segundo ele, “o PT tem um legado político e econômico extraordinário e de inclusão social no Brasil, vamos tentar dar à sociedade o que o PT fez de bom no país. Vamos trabalhar para ganhar as eleições”.

Lula lembrou, no entanto, que Bolsonaro, como presidente, “conta com o uso da máquina governamental, e o próprio Moro, com a ajuda de setores da mídia que fazem o enorme sacrifício para ele aparecer no noticiário. Não sei se é percebido na Argentina, mas no Brasil sou o mais censurado do planeta terra. Qualquer candidato que não seja o PT, que tem 1% nas pesquisas, aparece mais na televisão do que o Lula, que tem 46 ou 47% de intenções de votos. Não me preocupo porque tenho uma relação muito verdadeira com o povo e isso vai me permitir ganhar as eleições”, afirmou.

Fome e inclusão social

Já sobre a situação econômica, Lula voltou a dizer que “o PT é capaz de mudar o Brasil, precisa voltar ao governo porque sabe colocar em prática políticas de inclusão social, geração de empregos, para que os mais pobres participem do orçamento das cidades e estados brasileiros”. Ele alertou ainda que “não podemos aceitar que um país do tamanho do Brasil, que foi a sexta maior economia do mundo sob meu governo, hoje seja a décima terceira; não podemos aceitar que um país que acabou com a fome em 2012, veja hoje que o flagelo é tão forte: são 19 milhões de pessoas que não têm o que comer. Tanto o Brasil quanto a Argentina, assim como a Bolívia e o Chile, precisam de governos progressistas que envolvam os pobres em uma participação ativa na economia, para que possam ser consumidores e comprar coisas e ter acesso à educação”.

“Estou convencido de que a América Latina pode se recuperar. Infelizmente pessoas como Néstor Kirchner e Hugo Chávez morreram, outras pessoas foram violentadas, como Rafael Correa e Dilma Rousseff, depois da violência da lei, contra mim; o golpe contra Fernando Lugo. Os governos conservadores destruíram tudo o que construímos para o bem-estar social de nossos povos. Sei o que está passando o camarada Alberto Fernández, o que significa a dívida que Macri deixou com o FMI e sua pressão; por isso, Alberto precisa trabalhar muito para que haja um acordo e que o povo argentino não seja vítima dos neoliberais”, encerrou.

Com informações do Página 12