Boric responde falas deselegantes de Bolsonaro: "Claramente, somos muito diferentes"

Com 4 dias de atraso, Bolsonaro ordenou ao Itamaraty saudar “o tal Boric” do Chile. Esquerdista foi eleito com 55,9% dos votos

Jair Bolsonaro e Gabriel Boric (Foto: Secom/PR/Campanha eleitoral/Redes sociais)Créditos: Reprodução/ redes sociais
Escrito en GLOBAL el

Jair Bolsonaro (PL) foi o último dos presidentes dos principais países da América Latina a se pronunciar sobre a eleição de Gabriel Boric no Chile. Ao ser questionado nesta sexta-feira (24) sobre os comentários do mandatário brasileiro e de seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao seu respeito, Boric respondeu: "Claramente, somos muito diferentes".

Durante sua live semanal na quinta-feira (23), Bolsonaro afirmou que havia determinado ao Ministério das Relações Exteriores felicitar "o tal Boric", após quatro dias de silêncio do governo sobre a vitória do esquerdista nas eleições presidenciais do Chile.

Já Eduardo Bolsonaro se mostrou contrariado com o resultado do pleito. No Twitter, escreveu que a proposta de Boric de elevar impostos para financiar políticas sociais é "algo muito parecido com o que prometiam Chávez e Maduro" na Venezuela.

Ele também fez um post tentado se comparar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que posou com o boné de Boric. "Quando vesti o boné do então presidente dos EUA fui criticado pela mídia, mesmo não sendo candidato a nenhum cargo do executivo. Por que o mesmo critério não se aplica a Lula, que faz campanha aberta para seus companheiros de Foro de SP e até usa boné de candidatos comunistas?", questionou Eduardo.

Ao ser questionado sobre os comentários feitos por Bolsonaro e seu filho, Boric disse que "não havia visto, mas que analisaria depois". "Não farei declarações destemperadas. Creio que em políticas de Estado é preciso ser um pouco mais cuidadoso. Claramente somos muito diferentes", respondeu elegantemente.

Governo ignora presidentes eleitos democraticamente

Bolsonaro apostou todas as suas fichas na eleição do país vizinho em José Antonio Kast, um radical de extrema direita que, como ele, evocava o legado do general genocida Augusto Pinochet, que conduziu o país por 17 anos (1973 – 1990) sob uma sangrenta ditadura. Kast obteve apenas 44,1% dos votos, sendo derrotado por Boric, que conseguiu 55,9%.

Não é a primeira vez que o governo encabeçado por Bolsonaro dá esse tipo de vexame e ignora presidentes eleitos democraticamente só porque eles não pertencem à direita de seus países. Em 2020, o Brasil foi último país vizinho da Bolívia a saudar Luis Arce, um esquerdista que fez parte do ministério de Evo Morales. Já em 2019, a vítima da dor de cotovelo do presidente brasileiro foi Alberto Fernández, mandatário argentino, que não recebeu um telefonema ou telegrama de Bolsonaro.

No entanto, o mais conhecido dos papelões da diplomacia brasileira foi o atraso de 35 dias em reconhecer a vitória de Joe Biden na corrida eleitoral que levou o atual presidente norte-americano à Casa Branca. Notório fantoche nas mãos de Donald Trump, o subserviente Jair Bolsonaro embarcou nas maluquices do magnata derrotado na disputa à reeleição e passou a alardear a tal fraude eleitoral que nunca existiu.

Enquanto as redes de televisão e os jornais dos EUA reconheciam o democrata como o futuro chefe de Estado da maior potência militar e econômica do planeta em 10 de novembro, o líder extremista do Brasil só deu aval em 15 de dezembro para que um telegrama de boas-vindas fosse encaminhado a seu homólogo do norte.