Biden lava as mãos sobre tomada de poder do Talibã: “afegãos não querem lutar”

Em discurso na Casa Branca, presidente dos EUA defendeu a saída das tropas norte-americanas do país e exigiu que o Talibã não interfira na retirada dos diplomatas: “Defenderemos nosso povo com força devastadora, se necessário”

Joe Biden - Foto: Reprodução/YouTube BandNews
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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursou nesta segunda-feira (16), na Casa Branca, e afirmou que não vê sentido em que os soldados estadunidenses permaneçam no Afeganistão em uma guerra na qual os próprios afegãos não querem lutar.

“As tropas norte-americanas não podem e não deveriam estar lutando em uma guerra, e morrendo em uma guerra, que as forças afegãs não estão dispostas a lutar por si mesmas”, declarou, em seu discurso.

No pronunciamento, transmitido pela TV, Biden reconheceu que o avanço do Talibã, aliado histórico dos Estados Unidos, por sinal, surpreendeu o governo norte-americano. “Isso tudo realmente se desenrolou mais rápido do que pensávamos”.

O presidente ainda ameaçou o Talibã, organização que tomou o poder no Afeganistão. Ele exige que que o movimento não prejudique a saída de milhares de diplomatas norte-americanos e tradutores afegãos do aeroporto de Cabul. A resposta a um suposto ataque seria “rápida e enérgica”, disse. “Defenderemos nosso povo com força devastadora, se necessário”, destacou, em tom belicista.

Biden garantiu que os EUA continuarão a apoiar o povo do Afeganistão por meio da diplomacia e da ajuda humanitária: "Continuaremos a apoiar o povo afegão. Lideraremos com nossa diplomacia, nossa influência internacional e ajuda humanitária".

Sem derrota

O professor de Relações Internacionais da PUC de São Paulo Reginaldo Nasser explicou em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia, nesta segunda-feira (16), por que não houve derrota dos Estados Unidos no Afeganistão.

“Já estava claro que os talibãs iriam tomar o governo a partir do momento em que os EUA começaram as negociações com o Talibã, com Obama e se aprofundou com Trump, excluindo o governo do Afeganistão. De lá pra cá, isso se intensificou até Biden dizer que iria retirar as tropas sem nenhuma pré-condição”.

Para Nasser, não se esperava essa rapidez do Talibã em tomar o poder no Afeganistão. O grupo extremista chegou à capital, Cabul, neste domingo (15), pouco tempo depois de o presidente Ashraf Ghani abandonar o país, junto com auxiliares.  

“Eu gostaria de comemorar a derrota dos EUA, mas não é isso. O que foi derrotado foi um projeto americano que era de ter um governo fantoche, alimentado pelos EUA, e que não precisasse deles. Isso faliu. Mas o que mais atingiu os EUA? Mais nada”, explica Nasser.