Neste domingo (15) o grupo fundamentalista Talibã retomou o controle do Afeganistão após chegar na capital Cabul e tomar o palácio presidencial.
Horas antes, o então presidente afegão Ashraf Ghani já havia deixado o país quando informado de que o grupo estava a poucos quilômetros de Cabul.
Orientados por uma leitura radical da Sharia (Lei Islâmica), o Talibã proíbe educação para as mulheres, televisão e promove execuções públicas contra aqueles que não seguem as regras teocráticas impostas pelo grupo.
O objetivo da ocupação estadunidense no Afeganistão era estabelecer a paz na região e impedir que o país se tornasse um polo de grupo radicais anti-ocidente.
No entanto, a ocupação e a maneira como os EUA retiraram as suas tropas do Afeganistão foram classificadas como “desastrosas”, pois, foram realizadas sem qualquer tipo de diálogo ou negociação com os grupos locais.
Mas, a história do Talibã, hoje inimigo dos EUA, tem ligação direta com a guerra de combate ao comunismo promovida pelos Estados Unidos no período que ficou conhecido como Guerra Fria.
Operação Ciclone
Após a intervenção da União Soviética, em 1979, no Afeganistão, o então presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-81) assinou um decreto presidencial que autorizava o financiamento para o treinamento de guerrilhas anticomunistas no Afeganistão.
Esse programa seria levado adiante pelo presidente Ronald Reagan (1981-89), política esta que ficou conhecida como "Doutrina Reagan", por meio da qual os Estados Unidos forneceram apoio militar a movimentos anticomunista no Afeganistão, Angola, Moçambique, Nicarágua e outros países.
Oficiais paramilitares da CIA foram destacados para o Afeganistão para treinar, equipar e comandar as forças de mujahedin contra o Exército Vermelho. Entre 1978 e 1992, com um orçamento estimado em 20 bilhões.
A Operação Ciclone foi considerada um sucesso indireto para os Estados Unidos e relacionada diretamente com a ascensão do Talibã no Afeganistão.
Os estudantes
Na língua afegã Talibã significa "estudantes", e surgiu no início da década de 1990 no norte do Paquistão, após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão.
Um dos pontos de origens do movimento é que ele tenha iniciado as suas atividades em seminários religiosos que propagavam uma leitura fundamentalista do islamismo sunita.
À época de sua ascensão, o Talibã prometia restaurar a paz, a segurança e impor a sua versão da Sharia (lei islâmica).
Em 1995 eles derrubaram o regime do presidente Burhanuddin Rabbani, um dos fundadores do mujahedin (combatentes) que, apoiados pela CIA, resistiram à ocupação soviética.
Guerra Civil e apoio popular
Uma das explicações para o apoio de parte da população ao Talibã, estão nas lutas internas entre os mujahedin depois que os soviéticos foram expulsos.
De início, a chegada do Talibã ao poder era vista como fim das guerras internas, erradicação da corrupção, crimes e tornar as estradas, que era controladas por milícias, seguras para o comércio.
Porém, uma vez estabelecidos no poder, introduziram punições de acordo com sua interpretação da lei Sharia: execuções públicas de supostos assassinos, adúlteros e amputações para ladrões.
Além disso, o grupo também proibiu a televisão, música e cinema, não permite que mulheres frequentem a escola e as obriga que se vistam com a Burca, vestimenta que cobre todo o corpo.
11 de setembro
O grupo ganhou notoriedade mundial após os ataques em 11 de setembro, de 2001, contra o World Trade Center, em Nova York, nos EUA.
O governo Bush acusou o Talibã de ter dado guarida aos principais suspeitos do ataque, entre eles, Osama Bin Laden, líder do grupo extremista Al-Qaeda que, à época, reivindicou o ataque do 11 de setembro.
Em outubro de 2001, os EUA invadiram o Afeganistão e, após uma semana de ataques, o regime Talibã veio abaixo.
Ocupação ocidental
Com a queda do regime Talibã, os EUA lideraram uma ofensiva para estabelecer "a paz" e um “regime democrático” com eleições nos moldes ocidentais.
Três governos foram eleitos durante os 20 anos de ocupação estadunidense.
Todavia, mesmo longe do poder, o grupo Talibã foi se rearticulando e retomando o controle de algumas regiões e voltou a ter certa influência no país.
O discurso pela autonomia e pelo fim da ocupação estadunidense fortaleceu o retorno do Talibã ao poder.