As estratégias para alavancar a desastrosa aprovação de Jair Bolsonaro junto à população e até mesmo em relação à comunidade internacional, por vezes ridículas e risíveis, desta vez atingiram um nível sem precedentes: o chefe de Estado de extrema-direita deu entrevista em Moscou, após seu encontro com presidente russo Vladimir Putin, e deixou no ar aos jornalistas locais e brasileiros que acompanham a visita que a presença dele no território de uma das maiores potências nucleares do mundo pode ter sido decisiva para o recuo das tropas russas que estavam estacionadas na fronteira com a Ucrânia, gerando tensão na região e prestes a desencadear uma guerra.
“A leitura que eu tenho do presidente Putin é que ele é uma pessoa que também busca a paz... E qualquer conflito me interessa... Não interessa pra ninguém no mundo... Mantivemos nossa agenda, por coincidência ou não, paz nas tropas... Deixaram a fronteira... E pelo que tudo indica, a grande sinalização... O caminho para solução pacífica se apresenta no momento para Rússia e Ucrânia”, disse o Bolsonaro, com ar blasé, mas salientando que há possibilidade dele ter sido o “pacificador” do conflito.
A hipótese absurda, uma vez que o brasileiro e o russo sequer falaram sobre o assunto, do qual o Brasil não é parte, não poderia ser verdade até por razões cronológicas. O anúncio da retirada parcial dos contingentes militares que faziam manobras na fronteira ucraniana foi feito pelo Kremlin quando Bolsonaro ainda voava para a Rússia.
Versão ainda mais mirabolante de seguidores fanáticos do ocupante do Palácio do Planalto dá conta de que o chefe de Estado do Brasil "teria telefonado para Putin do avião e tocado o coração do russo”, ilustrada por um vídeo com legendas falsas em que o governante da Rússia faz um pronunciamento e “diz” que Bolsonaro o convenceu de que “todos devem viver em paz” e que “Deus está acima de todos”.
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Veja o vídeo da entrevista do presidente brasileiro (a partir de 3'21) e as imagens com legendas falsas de Putin: