GUERRA NA EUROPA

Na contramão de Bolsonaro, Brasil impõe tom crítico à Rússia na ONU

Embaixador brasileiro na Nações Unidas não repetiu o jogo duplo de presidente extremista e deu declaração forte contra o governo de Vladimir Putin

United Nations (Reprodução).
Escrito en GLOBAL el

O embaixador brasileiro na Organização das Nações Unidas (ONU), Ronaldo Costa Filho, destoou do discurso dúbio e morno do presidente Jair Bolsonaro sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia e condenou de forma dura a ação militar colocada em marcha pelo Kremlin, durante uma reunião do Conselho de Segurança da entidade, nesta sexta-feira (25).

“As preocupações de segurança manifestadas pela Federação Russa nos últimos anos, particularmente em relação ao equilíbrio estratégico na Europa, não dão à Rússia o direito de ameaçar a integridade territorial e a soberania de outro Estado”, disse o diplomata aos seus pares.

Costa seguiu firme e endureceu ainda mais as palavras contra a Rússia, apelando para as consequências de ações bélicas dessa natureza.

“À medida que ouvimos relatos de crescentes baixas civis, medo e devastação na Ucrânia, um cenário que qualquer guerra inevitavelmente gera, nosso principal objetivo agora é interromper imediatamente as hostilidades em andamento. Como devemos fazer isso? Primeiro, o Conselho de Segurança deve reagir rapidamente ao uso da força contra a integridade territorial de um Estado membro. Uma linha foi cruzada, e este Conselho não pode ficar calado”, reforçou o integrante do Itamaraty.

Até agora, o governo brasileiro vinha apresentando uma postura mais discreta, propondo como solução uma “saída negociada” entre as partes, sem condenar nominalmente a invasão levada a cabo por Putin. O próprio chefe de Estado brasileiro tinha sido comedido nas palavras, quando se dirigiu à crise militar, na quinta-feira (23).

“A guerra não interessa para ninguém. Nas próximas horas teremos uma reunião para dimensionar o que está acontecendo, mas o Brasil tem sua posição. Lembrando, quem fala sobre essas questões é o presidente da República”, disse o presidente, o que despertou críticas de dezenas de países.

Bolsonaro já havia dito que era “solidário à Rússia”, quando esteve em visita ao país euroasiático na última semana. Seu chanceler, Carlos França, também tem feito ouvidos moucos para o conflito, limitando-se a falar sobre a possibilidade de o governo brasileiro retirar os cidadãos nacionais que vivem na Ucrânia.

“Esse plano envolve contato com países vizinhos. Só vamos tirar os brasileiros dali quando tivermos condições necessárias para que isso ocorra de maneira segura e ordenada. Estamos analisando comboios terrestres, ferrovias, rodovias. O espaço aéreo está fechado, mas estamos focados”, argumentou França.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradeceu pelas redes sociais a iniciativa do Brasil de condenar a ação militar russa, assim como a outros países que também endureceram o discurso contra Moscou na reunião do Conselho de Segurança da ONU.