Caso Moïse é destaque no The Guardian: “Brasil, Um George Floyd a cada 23 minutos”

O brutal Assassinato do congolês Moïse Kabagambe continua a ser destaque na imprensa internacional; manifestações estão marcadas para este final de semana

Moïse Mugenyi Kabagambe. Foto: Redes Sociais
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O jornal inglês The Guardian, uma das publicações mais tradicionais, publicou nesta sexta-feira (04) uma longa reportagem sobre o assassinato de Moïse Kabagambe e também o fato de que no Brasil há "um George Floyd a cada 23 minutos", em referência ao assassinato do homem negro estadunidense que foi sufocado, à vista de todos, por um policial.

"Milhares de manifestantes devem chegar às ruas do Brasil no sábado para protestar contra o assassinato de um jovem refugiado congolês cujo assassinato – capturado em imagens de vídeo arrepiantes – causou uma explosão de raiva pelo racismo estrutural enraizado e violência de ódio", inicia a reportagem.

O jornal relata que Kabagambe foi vítima de ataque violento após cobrar R$ 200 não recebidos por trabalhos que havia realizado para o quiosque Tropicália.

Ao The Guardian, familiares de Moïse compartilharam a sua dor e que estão vivendo “um pesadelo”.

"Meu primo nunca fez mal a ninguém, estava sempre sorrindo. É abominável. É um pesadelo. O Brasil é uma mãe, um país que abraça a todos. Não consigo entender como essa mãe pode ter matado um filho tão bom quanto Moïse", disse Chadrac Kambilu Nkusu, primo de Moise, ao The Guardian.

Nkusu também declarou ao Guardian que, após o brutal assassinato de seu primo, pensa em deixar o Brasil e migrar para o Canadá.

Um George Floyd a cada 23 minutos

Quem também falou ao The Guardian foi o militante da Coalizão Negra, Douglas Belchior: “O bárbaro assassinato de negros é vergonhosamente comum no Brasil… Aqui temos um George Floyd a cada 23 minutos. Temos um Moïse a cada 23 minutos. Estamos constantemente sendo mortos”, criticou Belchior.

“O Brasil é um país construído sobre a escravidão. É o país que mais suportou a escravidão, foi o último das Américas a aboli-la – e a forma como a sociedade brasileira se organizou pós-escravidão foi pensada para perpetuar a dinâmica social pela qual os negros foram submetidos ao modo de pensar dos senhores de escravos", disse Belchior ao Guardian.

A reportagem do The Guardian pode ser conferida aqui.

Manifestações contra o ódio racial

Neste sábado vão ocorrer manifestações contra o brutal assassinato de Moise Kabagambe.
No Rio de Janeiro o ato será em frente ao quiosque Tropicália, onde Moise foi assassinado, na Barra da Tijuca (Posto 8), a partir das 10h; em São Paulo o ato vai ocorrer em frente ao Masp (Av. Paulista), a partir das 10h.

Caso Moïse: Testemunhas acionaram Guarda Municipal, que ignorou espancamento

Um casal que prestou depoimento à Polícia Civil como testemunha do assassinato bárbaro, a pauladas, do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, revelou que acionou a Guarda Municipal para tentar salvar o homem, mas foi ignorado pelos agentes.

Segundo reportagem do jornalista Flávio Trindade, de O Globo, o casal tentou ajudar Moïse ao ver os três homens o espancando no quiosque Tropicália, na praia da Barra da Tijuca. Eles afirmaram à polícia que acionaram dois guardas municipais que estavam presentes no local.

Os agentes teriam passado direto e não interviram no assassinato. “A gente falou pra eles do ocorrido, do que estava acontecendo mais a frente e eles falaram que iam ver, só que eles passaram direto”, disse o homem.

O casal, então, voltou ao local para tentar ajudar por conta própria. Os agressores tentaram mantê-los afastado da vítima, mas nas imagens, a mulher aparece tentando reavivar o congolês com uma massagem cardíaca. Já era tarde.

Dono do quiosque


Mais de oito pessoas já prestaram depoimento à DH (Delegacia de Homicídios da Capital). Um dos ouvidos foi o dono do quiosque, Carlos Fabio da Silva Muzi – que agora teve nome revelado pela Polícia Civil. Ele negou envolvimento no crime e disse que estava em casa no momento da agressão que resultou na morte de Moïse.

Segundo reportagem das jornalistas Lola Ferreira e Marcela Lemos, do Uol, Moïse no momento estaria trabalhando no quiosque Biruta, que divide o mesmo espaço que o Tropicália. O dono do local seria o policial militar Alauir Mattos de Faria, que foi intimado a depor pela Polícia Civil. O PM seria o patrão dos agressores do congolês.

A Prefeitura do Rio interditou os dois quiosques.

Três homens são presos pelo assassinato


Fábio Silva, Alisson Cristiano Alves de Oliveira, de 27 anos, e mais um terceiro que não foi identificado foram presos nesta terça-feira (1) pelas agressões que levaram à morte do congolês Moïse Kabamgabe. Os três presos deverão responder por homicídio duplamente qualificado, impossibilidade de defesa e meio cruel.

“A esperança foi assassinada a pauladas”: o emocionante relato do jornalista que conheceu Moïse Kabamgabe

Eu queria ter esperança, queria acreditar que as coisas podem melhorar, mas a esperança foi assassinada a pauladas atrás de um quiosque”. Esta frase, escrita pelo jornalista Caio Barretto Briso, faz parte de um emocionante relato que publicou em suas redes sociais sobre como conheceu o congolês Moïse Mugenyi Kabamgabe, assassinado de maneira brutal após cobrar uma dívida de trabalho em um quiosque no Rio de Janeiro.

Briso conta que conheceu Moïse quando foi fazer uma reportagem na favela Cinco Bocas sobre a vida dos congoleses no Brasil. “Acabei me aproximando de um dos seus melhores amigos. Chadrac me apresentou a vários conterrâneos. Na hora do almoço, convidei-o para comer. Ele agradeceu mas recusou: não se sentiria bem almoçando em um restaurante enquanto amigos passavam fome. Fomos então ao supermercado e enchemos um carrinho de comida. Comecei a entender ali quem eram aqueles imigrantes: se um come, todos comem. Se um passa fome, todos passam fome”, diz o jornalista no início de seu relato, que viralizou.

O texto de Caio Barretto Briso pode ser conferido na íntegra aqui.