DRAMA E INJUSTIÇA

Conheça a história dos irmãos que ficaram 25 anos presos e agora provaram inocência

Tudo mudaria naquela noite de 11 de julho de 1995. Duas décadas e meia de vida roubadas até que descobertas simples reverteram a injustiça imposta aos então garotos incriminados

George e Melvin De Jesus, após deixarem a prisão (YouTube/Reprodução).
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Na noite de 11 de julho de 1995, uma terça-feira, duas vidas teriam seus rumos mudados para sempre. George e Melvin De Jesus, então com 18 e 22 anos, respectivamente, estavam numa festa na casa de amigos, na cidade de Pontiac, no Estado de Michigan, nos EUA. Próximo dali, uma jovem chamada Margaret Midkiff seria assassinada brutalmente após sofrer um estupro. O crime bárbaro chocou o pequeno município de 60 mil habitantes.

Não demorou muito para que a polícia, por meio de um exame de DNA, chegasse a Brandon Gohagen. Ele foi preso e confessou o estupro e o assassinato de Margaret, só que pouco tempo depois veio com uma versão esdrúxula para justificar sua conduta.

O criminoso disse que dois “amigos”, George e Melvin De Jesus, irmãos, estariam com ele no momento crime e que a intenção era cometer um roubo. Eles teriam então colocado uma arma na cabeça de Gohagen e determinado que ele abusasse sexualmente da vítima, o que teria sido feito. Depois disso, seguiu Gohagen em sua nova versão, os dois irmãos teriam imobilizado e espancado Margaret até a morte.

A versão aparentemente inverossímil e que poderia claramente ser parte de um acordo proposto pelos advogados de Gohagen para que seu cliente fosse acusado de um crime menos grave, com penas mais brandas, e não a temida prisão perpétua, ainda assim apresentava lacunas. Os irmãos De Jesus tinham um álibi? Havia vestígios da presença deles no crime? Enfim, a nova história não era nada aceitável.

Os irmãos George e Melvin correram para apresentar seus álibis. Eles estavam em uma festa na hora do crime e muitas pessoas os viram lá e disseram isso à Justiça. Nos exames periciais nada era encontrado que apontasse para o fato de que os dois estivessem no local do crime, fosse um fio de cabelo, pele, marcas de sapato, vestígios de DNA. Absolutamente nada os ligava à cena onde ocorreu a barbaridade.

O fato é que o juiz do caso aceitou a versão de Gohagen, que passou a responder por um crime menos grave, o de assassinato em segundo grau, com penas mais brandas. Mas não foi só isso. O primeiro preso, que já tinha confessado o crime, foi colocado como testemunha de acusação contra os irmãos De Jesus. Dois anos depois, alegando inocência e sem uma prova sequer contra eles, George e Melvin foram condenados à prisão perpétua.

Reviravolta

Quando se aproximava o 25° ano de cumprimento de pena dos irmãos De Jesus, que seguiram todo esse tempo reafirmando não terem nada a ver com a morte de Margaret, o caso deles chamou a atenção da advogada Jessica McLemore, que o levou ao Cooley Innocence Project e à Michigan Innocence Clinic da Universidade de Michigan.

Os novos defensores conseguiram a reabertura do caso, ouviram mais de 25 anos depois inúmeras testemunhas que confirmaram a presença dos irmãos na festa e conseguiram comprovar que os primeiros testemunhos, idênticos aos que agora eram representados, foram ignorados pelo juiz que os condenou.

Uma outra descoberta que também ajudou a inocentar George e Melvin 25 anos depois foi a de que Brandon Gohagen já havia cometido uma série de 12 crimes sexuais e que, em 2017, havia sido condenado à prisão perpétua após um exame de DNA comprovar que ele tinha matado e violentado uma mulher com as mesmas técnicas empregadas na morte de Margaret, em 1995.

Diante de todas as novas evidências, assim como das antigas, antes deixadas de lado pela Justiça, George De Jesus e Melvin De Jesus foram libertados na última terça-feira (22) e tiveram suas condenações retiradas.

Durante uma coletiva, na porta do presídio onde cumpriram pena no último quarto de século, George fez um desabafo.

"Estou grato porque a verdade finalmente veio à tona. E espero que nossa família, assim como a família de Margaret, possa finalmente curar essa ferida e colocar isso no passado", falou.

A juíza que determinou a soltura dos irmãos, e que à época do crime sequer exercia a função, Martha Anderson, fez questão de se pronunciar sobre a injustiça imposta aos dois jovens há tantos anos e, em nome do tribunal, deu uma declaração emocionante.

"Quero pedir desculpas pelas ações tomadas contra vocês 25 anos atrás. Vinte e cinco anos de suas vidas foram roubados, e isso jamais poderá ser substituído. Espero que vocês possam encontrar algum consolo no fato de que poderão se reunir novamente com suas famílias e começar uma vida normal fora da prisão", disse Martha para os inocentes.