CENSURA

Após banir livros sobre o holocausto, Flórida exclui 54 livros de matemática com abordagem crítica

De olho nas eleições de meio de mandato e da presidencial em 2024, a extrema direita do partido Republicano dos EUA mobiliza setores contra a “ideologia LGBT” e o “marxismo cultural”

Após banir livros sobre o holocausto, Flórida exclui 54 livros de matemática com abordagem crítica.
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O Departamento de Educação do estado da Flórida informou nesta quarta-feira (20) que não vai incluir mais de 50 livros de matemáticas na lista usada pelos distritos escolares porque o conteúdo das obras tem por base a teoria racial crítica e foram classificados como "tópicos proibidos" e "estratégias não solicitadas". 

Essa decisão acontece após a aprovação da lei “Don’t Say Gay”, que teve apoio do governador da Flórida, Ron DeSantis, que compõe a extrema direita e tem mobilizado setores da sociedade estadunidense contra a chamada “ideologia LGBT” e o “marxismo cultural”. 

A Teoria Racial Crítica (CRT, da sigla em inglês) é uma abordagem pedagógica crítica e de viés marxista que discute raça, sociedade, desigualdades e direito na sociedade americana, em contraposição às abordagens liberais. 

A decisão se tornou pública após o estado publicar comunicado à imprensa intitulado "Flórida Rejeita Tentativas de Editorias de Doutrinar Estudantes". 

De acordo com o departamento estadual, 54 dos 132 livros didáticos que os editores enviaram para a revisão do estado eram "impermissíveis com os novos padrões da Flórida ou continham tópicos proibidos - o maior número na história da Flórida". 

"As razões para rejeitar livros didáticos incluíam referências à Teoria Racial Crítica (CRT), inclusões de Common Core e a adição não solicitada de Aprendizagem Social Emocional (SEL) em matemática", disse o comunicado do estado da Flórida. 

A maioria dos livros que não foram aprovados eram destinados aos níveis de ensino fundamental e médio. 

Parlamentares democratas reagiram a decisão do governador Ron DeSantis e afirmaram que ele transforma "a sala de aula em um campo de batalha". Para o deputado estadual democrata Carlos Guillermo Smith "isso é apenas o começo". 

O governador da Flórida deve disputar as prévias republicanas e se tornar o nome do partido para disputar a eleição presidencial em 2024. A caça às LGBTQIA+ e ao "marxismo cultural" devem ser alicerces de uma futura campanha. 

 

Livro que aborda os horrores do nazismo é banido em escolas dos EUA

 

Enquanto no Brasil comunicadores defendem a legalidade de partidos nazistas e até mesmo fazem saudações nazi em canal de televisão, a extrema direita dos EUA tem se organizado para banir livros que abordem temas como o holocausto e a escravidão. Um dos argumentos utilizados é que tais assuntos não devem ser abordados no período escolar, pois, "são pesados e repletos de ideologia".

Mais recentemente, os distritos escolares de Virginia e Texas baniram do currículo escolar o livro em formato de graphic novel (quadrinhos) "MAUS", de autoria de Art Spiegelman. A referida obra tem sido proibida em várias regiões do país e isso levantou uma discussão em nível nacional.

A polêmica, que está nos canais da TV aberta dos Estados Unidos, não se dá à toa, pois, "MAUS" é considerado uma das obras mais importantes no mundo a abordar os horrores do nazismo. Além disso, é a única em formato graphic novel a receber o Prêmio Pulitzer, um dos mais importantes do mundo.

No livro, o Art Spiegelman, a partir das memórias de seu pai, faz um relato da perseguição contra judeus e poloneses. Em formato de quadrinhos, o autor usou animais para representar cada tipo social: os judeus são ratos, os alemães gatos, os poloneses como porcos e os americanos como cães. Lançado entre 1988 e 1991, a obra se tornou um fenômeno editorial em quase todo o mundo.

 

"Conteúdo obsceno"

 

Uma reportagem da ABC News relata uma reunião de pais e mestres no distrito escolar do Tennessee onde foi decidido por unanimidade que "MAUS" seria banido do currículo escolar. Um dos argumentos utilizados é que se trata uma obra "obscena".

"Estar na escola, educar e outras atividades não precisam promover essas coisas. [O livro MAUS] mostra pessoas penduradas, mostra crianças sendo assassinadas, por que o sistema educacional deve promover esse tipo de coisa? Não é sábio e nem saudável", declarou Tony Allman, membro do Conselho Escolar do Condado de McMinn.

Com a perseguição promovida pela extrema direita à obra de Art Spiegelman, o livro "MAUS" voltou a ser um dos mais vendidos da Amazon dos EUA. Expulso das escolas, o livro voltou a circular na sociedade.

 

EUA: 12 Estados querem aprovar lei “Don’t Say Gay” contra “ideologia de gênero” nas escolas

 

Artigo de Cynara Menezes revela como, por detrás da lei 'Don't Say Gay", há uma mobilização da extrema direita estadunidense contra a população LGBT. 

“O Brasil imita os EUA? Ao que parece, os gringos é que passaram a nos imitar: a narrativa da extrema direita contra "ideologia de gênero" nas escolas está crescendo de forma avassaladora num país que se orgulha de ter a liberdade de expressão como Primeira Emenda da Constituição. Depois que a Flórida aprovou uma lei apelidada pelos opositores de "Don't Say Gay" ("Não Diga Gay"), que proíbe a discussão sobre orientação sexual nas escolas públicas e outras medidas LGBTfóbicas, mais 11 Estados lançaram propostas semelhantes”. 

“No final de março, Ron DeSantis, governador republicano da Flórida e possível candidato à presidência em 2024, sancionou a lei "Direitos Parentais em Educação", que proíbe professores das escolas públicas do Estado de dar instruções sobre orientação sexual ou identidade de gênero a estudantes da pré-escola até o 3º ano. "Queremos assegurar que os pais possam mandar seus filhos para a escola para obter educação, não doutrinação", disse De Santis. Detalhe: educação sexual nem sequer faz parte do currículo escolar para essa faixa, de crianças até 10 anos.

“Quem reclama da lei é chamado de "provavelmente um abusador", "pedófilo" ou "apoiador de pedofilia". Por outro lado, todas as iniciativas usam uma estratégia idêntica, de não utilizar as palavras "gay" ou "trans" em nenhum momento do texto, substituindo-as por palavras neutras como "orientação sexual" ou "identidade de gênero". A intenção por trás disso? Não serem acusados de LGBTfobia”.

O presidente dos EUA, Joe Biden, reagiu no twitter, chamando a lei de "odiosa" assim que o Senado da Flórida a aprovou. "Quero que todos os membros da comunidade LGBTQI+, especialmente as crianças que serão impactadas por esta lei odiosa, saibam que vocês são amados e aceitos como vocês são. Eu apoio vocês e minha administração continuará a lutar pela proteção e segurança que vocês merecem."

O texto na íntegra pode ser conferido aqui.