VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Debanhi Escobar: O monstruoso e misterioso assassinato que sacode o México

Morte da jovem universitária de 18 anos, ainda sem solução, comove o país já tão acostumado com barbáries e coloca a violência contra as mulheres na pauta do dia

Debanhi Escobar. À direita, foto tomada no momento em que ela foi deixada na estrada.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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Há pouco mais de três semanas o México se vê às voltas com um assassinato monstruoso, misterioso e que serve como retrato perfeito para denunciar a violência contra as mulheres numa das nações com os maiores índices de criminalidade do planeta. A vítima se chama Debanhi Escobar, estudante universitária de 18 anos, e as circunstâncias de sua morte são aterrorizantes, fruto de uma sucessão de abusos e assédios, ainda que não se conheça o autor do feminicídio.

A trágica história de Debanhi começa na noite de 8 de abril. Ela saiu de casa, em Monterrey, capital do estado de Nuevo León, para ir a uma festa numa espécie de sítio num povoado próximo, chamado General Escobedo. Imagens do local mostram que Debanhi teria se envolvido numa pequena confusão com algumas amigas, já que uma das jovens teria dado um puxão de cabelo nela do lado de fora do recinto.

Por conta disso, as tais amigas e os outros amigos teriam chamado um taxista “de confiança” para levá-la para casa, no meio da madrugada do dia 9 de abril. O homem de 47 anos, identificado como Juan David Cuéllar, apelidado de Jesus, apareceu na festa e levou Debanhi embora. Os investigadores refutam a informação e dizem que o condutor teria sido acionado por um aplicativo.

Minutos depois, na estrada que liga os dois locais, o taxista teria largado a jovem universitária no acostamento, em meio ao nada. Ele ainda voltou, na sequência, após abandoná-la, e tirou uma foto de Debanhi olhando para a pista, como se esperasse um veículo para pedir carona. Ele diz que foi ela quem pediu para descer ali, sem apresentar razão. Seu pai, Mario Escobar, afirma que a filha foi assediada por Cuéllar e que por isso teria descido do veículo, ainda que não apresente a prova para tal acusação.

A partir daí, a história que já é misteriosa e confusa, ganha contornos surreais. Debanhi caminhou até uma empresa de transporte de cargas instalada na região, entrou no pátio e, presume-se, foi pedir ajuda. As câmeras de segurança da firma registraram sua entrada. Só que não registraram a saída.

Essa era a última pista que a polícia tinha depois de vasculhar todo o perímetro onde a garota foi vista pela última vez. Até que no dia 21, funcionários de um motel que fica ao lado da transportadora e que já tinha sido revistado pelas autoridades, chamaram os agentes de segurança para informar que um forte cheiro de podre saía da cisterna do estabelecimento. Policiais foram averiguar e encontraram o corpo de Debanhi, totalmente decomposto, de forma que só pôde ser reconhecido pelas roupas e pelo crucifixo que ela levava no pescoço.

Tudo vai ficando cada vez pior quando são observadas as atitudes dos encarregados das investigações e dos promotores do Ministério Público de Nuevo León. Desde o sumiço, o taxista que assumiu tê-la largado não foi preso. A perícia forense mostrou que a vítima tinha um gravíssimo ferimento no crânio e que não teria morrido por afogamento, já que não havia água nos pulmões. No entanto, o promotor responsável pelo MP em Nuevo León, Gustavo Adolfo Guerrero Guitérrez, considerou que a jovem possivelmente teria caído acidentalmente no compartimento usado para estocar água, ainda que fosse necessário subir numa parede de mais de um metro. Ele disse ainda que esse tipo de situação, envolvendo desaparecimento de mulheres jovens, é comum e fruto da “rebeldia das meninas”, o que gerou uma onda de repúdio por parte de organizações feministas no país.

A polícia também revelou que a empresa de transportes onde Debanhi entrou teria dado uma “desculpa” pouco verossímil para a falta das imagens que seriam correspondentes ao horário de saída da estudante, ainda que sem revelar a justificativa, o que dificulta compreender a dinâmica dos fatos até o encontro do cadáver na cisterna.

O caso segue um mistério e reacendeu fortemente o debate sobre violência contra mulher num dos países com mais feminicídios do mundo. No México, anualmente, mais de 3 mil mulheres são assassinadas e o estado onde vivia Debanhi, o Nuevo Léon, é o que registra o maior percentual de casos.