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Caso Debanhi Escobar: Perícia e imagens mostram reviravolta surpreendente

Morte até então tratada como feminicídio comoveu o México. Cobrança sobre autoridades fez investigações se aprofundarem e cenário dentro da cisterna onde corpo foi encontrado mudou tudo

Debanhi Escobar filmada próxima da entrada do motel onde foi encontrada morta e também à beira da estrada.Créditos: Twitter/Reprodução
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A morte da jovem estudante Debanhi Escobar, de apenas 18 anos, comoveu o México e ganhou as manchetes dos noticiários por todo o mundo. Ela teria ido a uma festa num povoado perto de sua cidade natal, Monterrey, no estado de Nuevo León, na noite de 8 de abril, e após ser deixada numa estrada, de madrugada, apareceu morta dentro da cisterna de um motel, quase duas semanas depois do desaparecimento.

Imediatamente as autoridades e a sociedade mexicana passaram a suspeitar do motorista de aplicativo que a buscou para levar para casa, mas que interrompeu a viagem no meio do caminho. As suspeitas sobre Juan David Cuéllar, o condutor, como autor de um suposto assassinato, começaram a se dissipar quando ele divulgou uma foto de Debanhi no acostamento da via, olhando para a pista, como se esperasse uma carona, assim como após a divulgação das imagens da garota entrando numa transportadora de cargas que fica na beira da rodovia.

Num primeiro momento não existiam imagens de Debanhi saindo da transportadora, da mesma forma que nenhuma outra pessoa é vista na cena. No entanto, promotores do Ministério Público de Nuevo León informaram nas últimas horas que existem gravações também das câmeras de segurança do motel, que mostram a estudante entrando aparentemente assustada, correndo, só que não em direção à cancela por onde passam os hóspedes, mas sim rumo a uma zona de jardim que estava escura naquele momento. Ela não está acompanhada, nem sendo seguida. A área para onde ela corre é o local das três cisternas abandonadas, duas delas destampadas. Ao contrário das primeiras informações, não havia uma mureta de um metro ao redor do reservatório. A distância corresponderia ao espaço entre as cisternas, que ficam no nível do chão.

Nas imagens da empresa de cargas e do motel fica evidente a passagem de Debanhi e nenhuma outra pessoa aparece em toda a gravação, em momento algum. Depoimentos dados por amigos dela que a acompanhavam na festa, por jovens que estavam no encontro, mas que não a conheciam, e pelo próprio motorista de aplicativo informam que a estudante estava muito embriagada, agitada e arranjando problemas na quinta onde era realizada a confraternização. Ela teria chegado com uma garrafa de vodca e bebido demasiadamente, por isso foi orientada pelos companheiros a ir para casa ainda cedo. Cuéllar teria recebido ordens de Debanhi, no meio do caminho para casa, para voltar à festa e, quando eles chegavam no povoado, a garota pediu para descer um pouco antes, na pista.

O que terminou de descartar a hipótese de assassinato, embora as autoridades ainda mantenham o status da investigação como feminicídio, o que pode mudar a qualquer momento, foi o cenário encontrado nas cisternas. Com 4,3 metros de profundidade e apenas 90 centímetros de água, o bolsão onde fica o reservatório só pode ser acessado por uma abertura estreita de 98 centímetros. As duas primeiras cisternas estavam sem tampa, enquanto a terceira estava coberta. Entre a primeira, onde Debanhi foi encontrada, e a segunda, há um pequeno duto, onde só passa um braço, as interligando. Neste duto foram encontrados objetos pessoais da estudante, como bolsa, sutiã e máscara. A cena, segundo os peritos, dá a impressão de que a vítima teria tentado, no escuro total, colocar seus pertences no pequeno espaço de 40 centímetros de extensão. Como o fim do duto dá para a outra cisterna, muitos objetos foram encontrados lá, debaixo d’água: celular, brincos, chaves e isqueiro.

Para os especialistas forenses, o ferimento na cabeça de Debanhi, que não morreu afogada, e o cenário encontrado no fundo das duas cisternas, sugerem que a jovem, possivelmente desorientada e assustada entrou no jardim do motel e caiu dentro da cisterna acidentalmente, por uma abertura relativamente pequena, batendo a cabeça na região da testa. Ferida com gravidade, mas não totalmente sem condições de reagir, ela teria colocado seus pertences pessoais na pequena cavidade encontrada para de alguma forma tentar, desesperada, escalar de volta o reservatório. O corpo foi encontrado descalço e os dois tênis estavam submersos dentro da mesma cisterna, um de cada lado da cavidade, como se tivessem sido retirados lá dentro.

O túnel estreito e escuro que dá acesso à área mais larga do reservatório, ainda de acordo com os peritos, torna absolutamente irreal a hipótese de alguém ter descido com Debanhi até o fundo da cisterna, já que seria impossível terem a jogado no buraco e um cenário como aquele, nos dois compartimentos, ter se formado, o que só seria viável com uma segunda pessoa. A possibilidade disso, conforme os investigadores, é inexistente, já que ninguém aparece nas imagens e não há marcas nas paredes do túnel vertical que mostrem indícios de alguém que teria saído de lá após deixar a jovem.

O Ministério Público de Nuevo León ainda não anunciou oficialmente o encerramento do inquérito e a conclusão final, mas a imprensa mexicana dá como certa a versão de um acidente, visto todas as circunstâncias, provas encontradas e perícias realizadas.

Veja o infográfico produzido pelo jornal mexicano El Universal: