AMÉRICA LATINA

Presidente chileno Gabriel Boric visita a Argentina em sua primeira viagem internacional

Viagem retoma o debate sobre a integração sul-americana e contradições históricas, como a Guerra das Malvinas 

Gabriel Boric e Alberto Fernández.Créditos: Divulgação/Governo do Chile
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Eleito em dezembro de 2021, Gabriel Boric é o presidente mais jovem (35 anos) da história chilena. Com o impulso da Nova Constituição, fruto de protestos massivos contra o governo de Sebastián Piñera, ele traz consigo a expectativa de um novo ciclo de mudanças estruturais para o país.

Chefe de Estado e de Governo de um dos países mais desenvolvidos da América Latina, Boric é o primeiro líder do país desde a redemocratização não ligado aos partidos tradicionais de centro-esquerda ou centro-direita. Em sua eleição, o ex-líder estudantil, após perder o 1º turno de forma apertada para o chamado “Bolsonaro chileno”, José Antonio Kast, conseguiu uma virada histórica e uma vitória com mais de 10% de vantagem.

Primeira viagem internacional: Argentina 

Em sua primeira viagem internacional, Boric, que é bacharel em Direito, foi a Argentina e se encontrou com o presidente do país, Alberto Fernández (63), retomando o debate sobre a integração entre as duas nações que têm contradições históricas, particularmente sobre disputas territoriais e marítimas. Conflitos que, durante as respectivas ditaduras militares, contribuíram para o apoio chileno aos ingleses na Guerra das Malvinas, posição que no encontro foi rechaçada pelo chileno, declarando seu apoio à causa argentina. 

Boric, que é originário da região de Magalhães, no extremo sul de seu país, levou vários temas emblemáticos de sua campanha para o encontro na Casa Rosada, sede do governo argentino. Os mandatários ressaltaram a defesa dos direitos humanos como um princípio fundamental de ambos os países não só para mulheres e pessoas LGBTQIA +, mas também para povos nativos que vivem em várias regiões fronteiriças, do norte ao sul, como os mais conhecidos e numerosos - os Mapuche.

Em uma demonstração de moderação e sinalização para o mercado financeiro e o empresariado, a delegação chilena na Argentina foi ampla, contando não só com ministros e secretários, mas também pessoas identificadas com os espectro mais à direita, como dezenas de empresários. 

Por esse caminho, a pauta econômica tratou de diversos acordos bilaterais na área ambiental, de ciência e tecnologia, combate ao narcotráfico, mas também de integração de vias terrestres e de um projeto bastante ambicioso que cria o corredor interoceânico, ligando o Oceano Atlântico ao Pacífico. Dessa visita será formado ainda um comitê com mais de 50 empresários argentinos e chilenos.

Uma fala de destaque do jovem presidente foi no sentido de retomar a integração latina e sul-americana abalada nos últimos anos, em especial após a posse do presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Na oportunidade, o presidente chileno falou da CELAC (Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe), do Mercosul e da Aliança do Pacífico. 

Por fim, ele ainda quebrou o protocolo e fez uma breve visita ao tradicional bairro de Palermo, em Buenos Aires, onde visitou uma livraria. Boric foi recebido no Senado, na Câmara dos Deputados, na Suprema Corte de Justiça e ainda teve uma atividade cultural à noite, no Centro Cultural Néstor Kirchner. O chileno deve também ter um encontro com as Mães da Praça de Maio em sua sede, no Espaço Memória, na antiga ESMA (Escola Superior de Mecânica da Marinha Argentina), que foi um centro de prisões e tortura da ditadura argentina.