TEM CORAGEM?

Cobaia arrependida? O homem que ingeriu bactérias por US$ 7 mil e quase morreu

História mórbida quase custou a vida de Jake Eberts, que resolveu participar de um teste de vacina. Conduta de realizadores é polêmica do ponto de vista ético e proibida no Brasil

Jake Eberts, já recuperado, depois de quase morrer em teste de vacina.Créditos: Instagram/Reprodução
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Um jovem de 26 anos chamado Jake Eberts, identificado pelo diário britânico Daily Mail com pesquisador, resolveu se submeter aos testes de fase II de uma vacina contra um tipo grave de disenteria desenvolvida pela Universidade de Maryland, nos EUA, para receber uma premiação de US$ 7 mil (R$ 35 mil).

Eberts, então, precisou receber doses do imunizante (ou de placebo) dias antes de sua internação num centro clínico de universitário da cidade de College Park, onde finalmente bebeu um líquido, para se contaminar, no qual havia uma grande quantidade da bactéria shigella, o micro-organismo responsável por uma forma de disenteria tão violenta que pode ser mortal.

O rapaz relata que nos três primeiros dias acordava com uma sensação estranha no estômago e precisava correr para o banheiro para vomitar e defecar. Só que, passadas mais 48 horas, Eberts passou a ter diarreias sanguinolentas tão avassaladoras que sequer conseguia levantar os braços e mexer as pernas. Com 39,4C° de febre e com dores insuportáveis, ele conta que tinha certeza que morreria por conta da “experiência”, que classificou como “de longe, a coisa mais grave que já lhe acontecera na saúde em toda sua vida”.

Assim que os realizadores do teste e as enfermeiras do hospital perceberam a gravidade de seu quadro, a cobaia humana voluntária passou a receber muitas bebidas isotônicas e doses cavalares de um antibiótico eficiente contra a shigella.

Eberts relatou em suas redes sociais que chegou a deitar no chão do banheiro após defecar de forma descontrolada no auge dos sintomas. Ele ainda tinha que usar uma espécie de penico laboratorial para fornecer os excrementos aos cientistas. O jovem prefere pensar que tenha tomado placebo, já que no caso de ter recebido a vacina real testada, o produto aparentemente não teria eficiência. Outras 16 participaram dos testes nas mesmas condições e a informação do responsável pelo procedimento na Universidade de Maryland, o doutor Wilbur Chen, é de que quatro pacientes apresentaram a doença de forma assintomática. Para Chen, a torcida é para que a vacina tenha uma eficácia maior do que 70%, já que abaixo disso os estudos seriam abandonados por considerá-la ineficiente.

O “azarado” e “corajoso” Eberts contou ainda que não consegue imaginar como uma disenteria provocada pela shigella afetaria crianças e pessoas em péssimas condições sociais e de saúde, já que os sintomas que sentiu eram muito agressivos.

“Essa foi a doença mais brutal que já tive. Eu achei que morreria durante seis horas. Não consigo imaginar como essa doença é aterrorizante para uma criança pequena”, disse.

Eberts não disse se está arrependido ou não de participar dos testes que quase lhe custaram a vida, pelo qual ganhou um punhado de dólares, mas o fato é que a conduta dos pesquisadores, de recrutar por dinheiro pessoas dispostas a arriscar a própria vida, é vista no meio científico como polêmica e, para muito, totalmente antiético.

A lei dos EUA permite esse tipo de procedimento pago, portanto, não haveria qualquer impedimento que pudesse ser imposto por parte das autoridades. Já no Brasil, os protocolos para desenvolver pesquisas são bem diferentes e não permitem, em hipótese alguma, que cidadãos recebam dinheiro para se submeterem a esses estudos.