Após uma corrida eleitoral bastante disputada, o economista Gustavo Petro foi eleito presidente da Colômbia neste domingo (19).
Segundo dados da contagem rápida do Cartório Nacional Eleitoral, a chapa formada por Petro e Francia Márquez conquistou 50,69% dos votos com 94,57% apurado. Hernández teve 47,05%.
A vitória de Gustavo Petro é histórica, pois, será a primeira vez que a esquerda irá governar a Colômbia, que há mais de 20 anos vive sob governos de extrema direita.
Com isso, a Colômbia se torna a 7ª nação da América Latina a ser governada pela esquerda.
Diante da chegada da esquerda ao poder na Colômbia, internautas entraram nas comemorações e resgataram a URSAL, o clássico meme do ursinho comunista que se espalha pela América Latina.
Não há dúvidas de que há um giro à esquerda na América Latina que nos remete a chamada “onda rosa” do começo do século XXI, quando uma série de governos socialistas também foram eleitos.
A pergunta que fica é: o Brasil vai se juntar a galeria das esquerdas no poder em outubro deste ano? Enquanto não temos a respostas, organizamos breve perfil dos presidentes e presidenta de esquerda na América Latina.
Gustavo Petro - Colômbia
Gustavo Petro, nascido na província de Córdoba em 1960, começou sua militância política aos 17 anos no grupo guerrilheiro Movimento 19 de Abril, conhecido como M-19. Foi preso e torturado e participou do processo de abandono das armas que transformou o M-19 no partido político Aliança Democrática M-19.
Em 1991, foi eleito deputado pela Aliança e, em 1994, foi nomeado para a Embaixada da Colômbia na Bélgica como diplomata dos Direitos Humanos, posição que ocupou até 1996. Ao retornar para a Colômbia, Petro disputou novamente uma vaga na Câmara dos Deputados, mas desta vez pelo distrito de Bogotá. Eleito, foi considerado um dos melhores deputados e seu trabalho ganhou destaque por conta de denúncias de corrupção.
Em 2006, Petro foi eleito senador, cargo que ocupou até 2010, quando se lançou pela primeira vez à presidência. Na ocasião, obteve 1,3 milhão de votos e ficou em quarto. Apesar da derrota na disputa presidencial, conseguiu em 2012 ser eleito prefeito de Bogotá e sua luta ganhou ainda mais projeção.
Por ter passado pelo abandono de armas no M-19 foi um dos articuladores do Acordo de Paz de 2016 e, nas eleições de 2018, acabou representando a luta pela paz na disputa. Petro obteve uma votação histórica para um candidato de esquerda, com mais de 8 milhões de votação, mas não foi capaz de vencer o uribismo, representado por Iván Duque.
Gabriel Boric – Chile
Gabriel Boric, 35 anos, teve uma dura missão no segundo turno da eleição presidencial do Chile. O candidato progressista da Frente Ampla tinha como seu adversário o empresário José Antonio Kast, um representante da extrema-direita saudosista da ditadura de Augusto Pinochet. Empurrado pelos ventos de mudança que varreram o Chile nos últimos anos, Boric conseguiu uma vitória maiúscula já nítida na metade da apuração.
Boric começou sua militância política lutando por educação pública, gratuita e de qualidade em um país estruturado pelo modelo neoliberal dos tempos de Pinochet. A mobilização de 2011 tomou grandes proporções e estremeceu o solo chileno. A história política do presidente eleito é a história desse processo. Naqueles tempos, presidiu o diretório estudantil da Universidade do Chile.
As faíscas de 2011, sem dúvidas, contribuíram para a hecatombe que foi a mobilização ocorrida em 2019, capitaneada também por mulheres, mapuches e diversos setores da sociedade. A jornada de protestos contra o neoliberalismo e a herança pinochetista expôs as feridas de um país que foi vítima de uma das ditaduras mais cruéis da América Latina.
Andrés Manuel López Obrador - México
Andrés Manuel López Obrados, também conhecido como AMLO foi eleito presidente do México em 2018. A sua chegada ao poder também é considerada histórica, pois, rompeu com um ciclo de poder conservador que governava o país há décadas.
López Obrador se elegeu pela coalização Juntos Faremos História e o mote principal de seu discurso era combater os privilégios e iniciar um processo de distribuição de riqueza no México, que possui concentração de riqueza semelhante ao do Brasil.
Logo depois de ser empossado presidente, reduziu o seu salário em 60% e estabeleceu um teto para os salários de todos os cargos do serviço público.
Luis Arce - Bolívia
Luis Alberto Arce é economista, contador, professor universitário e se elegeu presidente da Bolívia em 2020.
Arce foi ministro da Economia e Finanças do ex-presidente Evo Morales entre 2006 e 2017.
A vitória de Arce marca a volta do Movimento ao Socialismo (MAS) ao poder, após Evo Morales ser vítima de um golpe orquestrado por militares e fundamentalistas religiosos.
Alberto Fernández - Argentina
Alberto Ángel Fernández é o atual presidente da Argentina. É advogado e professor e filiado ao Partido Justicialista.
Disputou a presidência tendo a ex-presidente Christina Kirchner como sua vice. Juntos, derrotaram Mauricio Macri e colocaram fim ao ciclo neoliberal do país.
Antes de ser presidente, Fernández foi chefe de Gabinete da Nação Argentina durante o governo de Néstor Kirchner.
Nicolás Maduro - Venezuela
Herdeiro político de Hugo Chávez, o ex-presidente e símbolo maior do chamado "socialismo bolivariano", que faleceu em 2013.
Com a morte de Chávez, eleições foram convocadas e Maduro foi eleito em abril de 2013, sendo reeleito em 2018.
Apesar dos boicotes e ataques que sofre dos EUA, Maduro segue liderando o processo socialista pelo qual a Venezuela vivencia desde 1998, quando Hugo Chávez se elegeu presidente pela primeira vez.
Pedro Castillo - Peru
Professor e sindicalista na província de Cajamarca, Castillo ganhou projeção nacional quando liderou a greve nacional de docentes de 2017, que paralisou as aulas por três semanas exigindo melhores condições para profissionais de educação. Não é à toa que seu slogan eleitoral é "Palavra de Mestre" e seu símbolo é um lápis gigante.
Terceiro de nove irmãos, desde cedo conheceu a desigualdade no país andino. Começou seus estudos na Escola Rural N° 10465 e depois foi para uma unidade educacional localizada a duas horas de distância, que percorria a pé. Na juventude, trabalhou pela proteção de seu povo. Castillo foi parte dos grupos "ronderos" nos anos 70, que protegiam os campesinos e agricultores sem assistência do Estado no interior do país. Os ronderos também atuaram para resguardar os povos diante da escalada de violência promovida pelo Sendero Luminoso e pelas Forças Armadas nos anos 80-2000.
Xiomara Castro - Honduras
Xiomara Castro foi eleita no final de 2021 e se tornou a primeira mulher presidenta de Honduras.
A história de Xiomara está conecata ao ex-presidente Manuel Zelaya, pois, ela é casada com ele e foi primeira durante a gestão de Zelaya, que foi deposto por um golpe em 2019.
Doze anos depois do golpe, Xiomara retoma o poder e encerra o ciclo de extrema direita no país. Com uma vitória histórica, Xiomara conseguiu devolver o poder para a esquerda hondurenha.
Ao tomar posse, Xiomara prestou homenagens a todas as pessoas que foram mortas pela violênca de Estado.