FIM DE CARREIRA

Do negacionismo ao partygate: entenda a derrocada de Boris Johnson

Figurar popular em torno da campanha do Brexit, caiu em desgraça ao mentir sobre festas realizadas em Downing Street durante o lockdown e por ter acobertado denúncias de assédio sexual de um funcionário de seu gabinete

Do negacionismo ao partygate: entenda a derrocada de Boris Johnson.
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Boris Johnson se tornou uma figura muito popular no Reino Unido ao liderar a campanha do Brexit, ação que foi calcada em discurso de ódio e fale news. Antes disso, Boris já tinha sido prefeito de Londres e ministro das Relações Exteriores. 

Em julho de 2019 ele assumiu o cargo de primeiro-ministro após Theresa May renunciar diante do fracasso em conduzir a saída do Reino Unido da União Europeia. 

Nas primeiras dificuldades que teve em negociar com a oposição os termos da saída da União Europeia, Boris Johnson convocou eleições em dezembro de 2019 e obteve uma vitória esmagadora sobre o Partido Trabalhista que, sob a liderança de Jeremy Corbin, perdeu cadeiras no parlamento. 

 

Pandemia e negacionismo 

 

A primeira crise de popularidade e confiança enfrentada por Boris Johnson se deu com a demissão do ex-assessor do primeiro-ministro, Dominic Cummings. 

Em depoimento ao Parlamento, Cummings afirmou que milhares de vidas poderiam ter sido salvas se a gestão de Boris Johnson não tivesse ignorado as recomendações do Comitê de combate ao coronavírus, composto por médicos e pesquisadores. 

Cummings declarou que Boris era "incompetente para o cargo". Negacionista, o agora ex-primeiro-ministro negou, em um primeiro momento, a gravidade da pandemia e se recusou a decretar lockdown, ao invés disso, optou pelo caminho da malfadada "imunidade de rebanho", método que simplesmente não funciona com o coronavírus, visto que o vírus possui a capacidade de reinfectar as pessoas. 

Além disso, mesmo depois da primeira onda da pandemia, Johnson se revelou resistente, no segundo semestre de 2020, de adotar o lockdown. O argumento utilizado pelo político era semelhante ao de Bolsonaro no Brasil: um fechamento total prejudicaria a economia do Reino Unido.

Porém, após se infectar e quase morrer em decorrência da Covid, o primeiro-ministro passou a defender a política "Stay home" (fique em casa) e fez da Inglaterra um dos primeiros países a iniciar a vacinação contra a Covid. 

 

Partygate 

 

A nova crise enfrentada por Boris Johnson se daria com a divulgação do chamado dossiê do "Partygate", que revela a participação de Boris em festas realizadas em Downing Street, sede do governo, durante a quarentena. 

Primeiramente, Boris negou que soubesse das festas, mas depois surgiram fotos em que o ministro aparecia bebendo em uma dessas reuniões. Encurralado, o primeiro-ministro assumiu que havia mentido. Pior: uma dessas festas ocorreu na noite anterior ao funeral do príncipe Phillip.

Por causa disso, Boris Johnson foi obrigado a pedir desculpas para a Rainha Elizabeth. Em depoimento ao Parlamento, o ex-assessor de Boris, Cummings, afirmou que o ministro sabia das festas. 

Boris Johnson, diante do escândalo do "Partygate", recebe um voto de desconfiança de seu próprio partido e passa por um escrutínio interno que quase o tira do poder. 

Apesar de ter vencido o voto de confiança, Boris Johnson sofreu um golpe duro: a rebelião de 148 de seus 359 parlamentares do Partido Conservador, que votaram contra ele.

A maioria dos legisladores conservadores (180) precisaria votar contra Johnson para que ele fosse retirado do cargo.

O resultado representa que o político assegurou o apoio de apenas 59% de seus legisladores, um resultado pior do que ocorreu com sua antecessora Theresa May, que enfrentou um voto de confiança em 2018.

 

Fim de carreira 

 

Nesta terça-feira (5) dois ministros e 18 funcionários do alto escalão de seu governo anunciaram uma renúncia coletiva e declararam que Boris não é mais digno de permanecer no comando do país. 

Entre as renúncias, destaque para Rishi Sunak, secretário de Finanças, e Rishi Javid, da Saúde. Segundo informações da BBC, a saída destes dois importantes quadros do governo indica que Boris Johnson não conseguirá permanecer no cargo, ainda que ele diga o contrário. 

As novas renúncias se dão após um funcionário do Partido Conservador que trabalhava no Parlamento inglês em um cargo que se chama “chief whip”, responsável pela disciplina dos parlamentares em votações, Christopher Pincher, ter sido acusado de assédio sexual contra dois homens. Ao ser questionado sobre o caso, Johnson primeiro declarou que não sabia das acusações, mas denúncias que surgiram esta semana indicam que o PM tinha ciência e nada fez. 

Além da renúncia dos ministros das Finanças e Saúde, um dos vice-presidentes do Partido Conservador, Bim Alofami, renunciou ao cargo. Em seguida, quatro parlamentares, Saqib Bhattti, Nicola Richards, Jonathan Gullis e Virginia Crosbie, que tinham cargos no governo, também renunciaram. 

O ministro da Saúde, ao anunciar a sua saída do governo, declarou, a partir de uma nota encaminhada à imprensa, que não poderia permanecer no cargo "em sã consciência e que muitos deputados e a população perderam a confiança na capacidade de Boris de governar de acordo com o interesse nacional. Lamento dizer, mas está claro que está situação não mudará sob a sua liderança - e, portanto, você também perdeu a minha confiança". 

Sunak e Javid foram os ministros que deram suporte a Boris Johnson quando estourou o escândalo do "partygate": festas foram realizadas em Downing Street, sede do governo, no auge da pandemia, quando toda a população do Reino Unido cumpria as regras do lockdown para conter o coronavírus. 

Ao ser questionado pela imprensa se iria renunciar, Boris Johnson negou enfaticamente e afirmou que "em momentos de crise, os líderes trabalham". 

O líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, afirmou que aqueles que permanecem no governo e apoiam o primeiro-ministro "são cúmplices". Starmer defende a realização de eleições antecipadas. Pesquisas locais indicam que, atualmente, o Partido Trabalhista possui vantagem em relação ao Partido Conservador. 

"Depois de todo o desprezo, dos escândalos e do fracasso, está claro que este governo está em colapso. Precisamos de um novo começo para o Reino Unido", declarou Keir Starmer. 

 

Novas eleições? 

 

Ainda não está claro se novas eleições serão convocadas, mas, segundo pesquisas recentes se houvesse um pleito hoje, o Partido Trabalhista retomaria o poder. 

Além disso, mais da metade dos cidadãos do Reino Unido, segundo o instituto YouGov, consideram que Boris Johnson traiu a confiança do povo e é "um mentiroso" e que, portanto, deve renunciar ao poder, fato que se deu nesta quinta-feira.

 


 

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