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Por que senadores dos EUA querem a extradição de Bolsonaro

Resolução dos parlamentares cobra ação do presidente Joe Biden e das plataformas digitais em relação às mentiras e teorias conspiratórias do ex-presidente brasileiro

Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021.Por que senadores dos EUA querem a extradição de BolsonaroCréditos: Agência Senado
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Nove membros do Partido Democrata apresentaram nesta quinta-feira (2) ao Senado dos EUA, em Washington, uma resolução exigindo que o presidente Joe Biden avalie com urgência pedidos de extradição enviados pelo Brasil que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras ex-autoridades que se refugiam no país.

O texto, obtido no Brasil com exclusividade pela Folha, foi protocolado pouco mais de uma semana antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao país, ocasião em que certamente serão discutidas as extradições. O principal mentor da resolução é o senador Bob Menendez, que atua como presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Com a própria Invasão do Capitólio de Washington, em 6 de janeiro de 2021, ainda fresca na memória dos democratas, as preocupações dizem respeito justamente ao episódio correlato ocorrido em 8 de janeiro deste ano no Brasil. As semelhanças entre os episódios são muitas: ambos negavam os resultados eleitorais mediante teoria conspiratória de suposta fraude, ambos foram fomentados tanto dentro das administrações como por influenciadores e formadores de opinião e em ambas o ataque visou as principais instituições democráticas e poderes republicanos de ambos países.

Dessa maneira, a resolução aponta o “cerco violento às instituições” promovido por Bolsonaro no Brasil, sobretudo sua relação com os ataques de 8 de janeiro. “Condenamos o cerco violento ao Palácio do Planalto, Congresso e à Suprema Corte do Brasil conduzido por apoiadores do ex-presidente – evento que foi alimentado, em parte, por desinformação disseminada durante vários meses por Bolsonaro”, diz trecho da resolução.

A resolução ainda aponta uma série de coisas que os brasileiros já sabem, entre elas os discursos de Bolsonaro que desacreditam o sistema eleitoral e a importância das redes sociais e aplicativos de mensagens na difusão destas e outras mentiras sistemáticas. Além de Menendez e do líder socialista Bernie Sanders, também assinam a resolução os senadores Tim Kaine, Dick Durbin, Chris Murphy, Jeanne Shaheen, Jeff Merkley, Ben Cardin e Chris Van Hollen.

“O ataque em Brasília é um ataque à democracia global. É uma vergonha que Bolsonaro estivesse nos Estados Unidos tirando selfies durante o episódio deplorável. Autoridades que tentam sabotar eleições livres e justas não podem encontrar refúgio nos EUA”, declarou Durbin.

Bolsonaro é alvo de uma série de ações no Tribunal Superior Eleitoral que pedem sua inelegibilidade para as próximas eleições por abuso de poder político e econômico. Além disso, é investigado pelo Supremo Tribunal Federal por incitação aos atos golpistas e antidemocráticos e pela gestão desastrosa da pandemia de Covid-19, na qual morreram mais de 700 mil brasileiros enquanto seus asseclas negociavam vacinas com propina de um dólar por dose e o próprio presidente se esforçava para desinformar a população a respeito da doença. Ele já foi condenado por crime contra a saúde pública por haver associado a vacina da Covid-19 à infecção pelo vírus HIV, que causa a Aids.

O ex-presidente fugiu para os Estados Unidos em 30 de dezembro, a fim de fugir não apenas da posse de Lula, ocorrida dois dias depois, mas também dos processos e investigações a que responde e podem levá-lo à cadeia. Já com Lula empossado, o Brasil pede a extradição de Bolsonaro.

Duas semanas atrás, em outra resolução, democratas exigiram ao Departamento de Justiça dos EUA que qualquer pessoa baseada na Flórida que tenha dado suporte , apoiado ou financiado os ataques da extrema direita no Brasil devem ser responsabilizados. Uma pista pode ser seguida na próxima sexta-feira (3), quando Bolsonaro discursará sobre a importância do Brasil para o projeto de poder da extrema direita global, ao lado do famoso supremacista branco Charlie Kirk, em hotel de propriedade de Donald Trump.

*Com informações da Folha.