O condado de San Juan, um arquipélago no estado de Washington, nos Estados Unidos, vivia um dilema em 2023. O sindicato que representava os trabalhadores da administração local negociava um reajuste salarial, mas a gestão tinha problemas fiscais para contemplar a demanda.
Após negociação, a solução foi a adoção de uma semana reduzida de trabalho, passando de 40 para 32 horas semanais distribuídas em quatro dias, com manutenção de salários. Nesta terça (12), a nova rotina completou um ano. E com êxito, segundo avaliação feita pela administração.
A gerente do condado, Jessica Hudson, ressaltou os avanços ao divulgar o relatório de check-in da jornada reduzida. "Os resultados iniciais são encorajadores, mas sabemos que ainda há muito mais a aprender à medida que continuamos a reunir e avaliar dados ao longo do próximo ano. Estamos comprometidos com a transparência e a colaboração para continuar com a semana de trabalho de 32 horas, sabendo que muitos olhos estão voltados para o Condado de San Juan para ver o que pode ser viável em outros lugares do estado e da nação."
Semana de 32 horas: a melhora em números
Segundo o relatório, o número total de candidatos em busca de empregos no condado aumentou em 85,5% após a implementação da jornada de 32 horas e o tempo necessário para preencher as vagas caiu 23,75%. "Os desligamentos voluntários (demissão, aposentadoria) diminuíram em 4,8% entre o primeiro e o terceiro trimestres de 2023 em comparação a 2024, permitindo que o Condado retenha uma força de trabalho qualificada", aponta a avaliação.
Os dados de saúde também foram positivos para trabalhadores e a própria administração, já que as ausências por motivo de doença caíram 23% depois da semana reduzida.
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No questionário feito pela gestão local, as pessoas que trabalham para o Condado de San Juan mencionam ainda os impactos positivos em sua saúde mental e níveis de estresse, a possibilidade de passar tempo com a família e os filhos e melhores níveis de energia e saúde física nas respostas.
Retenção de talentos
Um outro indicativo positivo para a administração de San Juan foi o fato de a taxa de rotatividade ter caído 43% depois da adoção da semana de 32 horas.
"Quando um funcionário escolhe sair, a organização incorre em custos do desligamento - pessoal, tempo de administração, tempo de saída para entrevista e pagamento de férias anuais. Isso não inclui nenhum custo adicional de separação, como benefícios de desemprego. Enquanto o cargo estiver vago, a equipe atual gasta mais tempo cobrindo o trabalho, às vezes precisando de horas extras para concluir tarefas", diz o relatório, destacando aspectos que muitas vezes não são considerados por gestores: as saídas trazem custos diretos e indiretos na reorganização do trabalho.
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Um exemplo desse tipo de custo que nem sempre mensurado é o fato, citado no relatório, de que "os funcionários restantes podem sofrer uma perda de 25-50% de produtividade durante esse período [em que o cargo vago não tem reposição]".
"Esse trabalho e outras despesas para cobrir a posição são considerados custos de vaga. Para a substituição, os funcionários de RH e supervisores gastam tempo atualizando a descrição do trabalho, publicidade, entrevistas, testes e treinamento do novo contratado. Esses custos de reposição podem aumentar dependendo do tamanho e experiência do grupo de candidatos", detalha o documento.
Em termos de organização, os departamentos do Condado de San Juan implementaram a semana de trabalho de 32 horas de forma diferente, alguns escalonando a equipe para manter a disponibilidade anterior ao público, enquanto outros encurtaram os horários para ficarem abertos apenas quatro dias por semana.
“Aqueles primeiros seis meses foram um pequeno choque cultural tentando se adaptar a uma nova norma”, disse Hudson à CNN, lembrando de como foi o primeiro semestre da nova jornada, “mas agora que estamos chegando à marca de um ano, embora ainda haja um pouco de confusão, a maioria das pessoas não está brava. Elas entendem que isso é realmente um benefício para os outros membros da comunidade que querem continuar a viver e trabalhar nas ilhas. Está meio que se tornando um novo normal.”