Em meio a escalada de tensão no Oriente Médio, o Papa Francisco pediu para que Irã e Israel evitem alimentar uma "espiral de violência".
O pontífice fez a declaração em conversa com peregrinos neste domingo (14), na praça São Pedro. Ele disse que estava acompanhando as notícias do ataque com drones e mísseis do Irã a Israel com um sentimento de preocupação e dor.
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Pessoas não querem armas, mas pão
Em dezembro de 2023, na Mensagem Urbi et Orbi, o Papa Francisco mais uma vez denunciou o escândalo dos gastos com armamentos num mundo onde as pessoas ainda morrem de fome.
Na sua mensagem, o Papa Francisco também criticou a indústria de armas e seus "instrumentos de morte" que alimentam as guerras. Ele ressaltou a necessidade de mais discussão e escrita sobre o comércio de armas, para expor os interesses e lucros que impulsionam as guerras.
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Francisco destacou que não se pode falar de paz enquanto a produção, venda e comércio de armas continuam a aumentar. Ele também criticou as guerras atuais, especialmente na Ucrânia, usadas para testar novas armas ou esgotar arsenais antigos.
O Papa pediu paz entre Israel e os palestinos e solução do conflito por meio de um diálogo sincero, apoiado por vontade política forte e suporte internacional.
Leia a íntegra da mensagem aqui.
As pessoas "não querem armas, mas pão", disse novamente o Papa Francisco na Urbi et Orbi de Natal.
Aumento de gastos com defesa
A associação do Papa Francisco entre gasto com armas ao invés de pão para aliviar a fome faz sentido. O ano passado marcou um novo recorde de gastos com a defesa: globalmente, foram gastos cerca de US$ 2 trilhões e 240 bilhões, ou 2,2% do PIB mundial, um aumento de 9% em relação ao ano anterior.
Já o relatório sobre Alimentação, Agricultura e Nutrição da Organização das Nações Unidas (ONU) de setembro de 2023 indica que 735 milhões de pessoas passam fome no mundo e, no Brasil, 21 milhões estão sofrendo com a falta de alimentos.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU traçou um plano, em novembro de 2021, que com US$ 6,6 bilhões poderia evitar que 42 milhões de pessoas morressem de fome em 43 países no ano de 2022.
Gastos do Irã com ataque
No ataque do Irã contra Israel neste sábado (13), foram disparados 185 drones, 36 mísseis de cruzeiro e 110 mísseis superfície-superfície.
Entre esses drones, um dos modelos é o Shahed-136, mais conhecido como "drone suicida". O artefato de 200 kg tem 3,5 metros de comprimento, asas triangulares com largura de 2,5 metros e pode atingir uma velocidade máxima de 185 km/h. O valor estimado é de US$ 20 a US$ 40 mil. Com a atual cotação do dólar, no Brasil, o preço chegaria a mais de R$ 200 mil.
Fabian Hinz, especialista em militares do Irã no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em Berlim, disse em um post sobre X que o Irã provavelmente estava usando um míssil de cruzeiro desenvolvido pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, o Paveh 351. Tem um alcance de mais de 1.200 milhas - muito para chegar a Israel do Irã. Cada um desse mísseis balísticos geralmente custam mais de US$ 100 mil.
Em uma conta de padaria, a ofensiva deste sábado custou ao Irã, no mínimo US$ 11 milhões.
Gastos de Israel com defesa
As forças israelenses utilizaram duas armas defensivas principais, o Iron Dome (Domo de Ferro) e o Arrow 3, para derrubar a maioria dos mais de 300 drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro disparados contra seu território pelo Irã, enquanto outros foram derrubados pelos Estados Unidos e outros aliados.
O Iron Dome, segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, tem o custo de produção de cada intercetor entre os US$ 40 mil e US$ 50 mil. Um sistema completo, incluindo os radares, computadores e três a quatro lançadores, custa, por sua vez, cerca de US$ 100 milhões de dólares.
Estima-se que o programa de desenvolvimento da família de sistemas Arrow tenha custado mais de US$ 2 bilhões, com entre 50% e 80% desse valor financiado pelos EUA.
A interceptação israelense de dezenas de mísseis e drones iranianos durante a noite custou a Tel Aviv até US$ 1,35 bilhão, informou o diário israelense Yedioth Ahronoth neste domingo.
No total, o teatro bélico deste 13 de abril de 2024 daria para aliviar a fome de pelo menos um quinto da população em insegurança alimentar em todo o mundo.