RÚSSIA E UNIÃO EUROPEIA

Após driblar sanções dos EUA, Rússia encontra aliado para intermediar comércio na Europa

De acordo com o Brookings Institute, países da Ásia Central já atuam como pontes de Putin no mercado europeu e Moscou continua a superar políticas de sanção

Navio ao mar.Créditos: Dave Proffer via Flickr Commons
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Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para movimentações suspeitas nas exportações da Ásia Central — especialmente do Quirguistão — em direção à Rússia, de acordo com o Brookings Institute

A Rússia tem encontrado maneiras de driblar as sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia sobre seu comércio internacional desde 2022, quando iniciou sua invasão à Ucrânia

Após ter supostamente usado a China como intermediário para comercializar seu urânio enriquecido, Moscou agora contaria com a ajuda do Quirguistão para facilitar suas reexportações rumo ao mercado europeu. 

De acordo com uma lista de sanções mapeadas pela Ashurst, em julho de 2024 a União Europeia atualizou diversas sanções contra a compra, venda e transferência de bens da Rússia, além de produtos de exportação de alta tecnologia do setor industrial do país. Entre os itens listados pelas sanções está uma variedade de recursos energéticos, como carvão, gás, petróleo e outros produtos destilados de alta temperatura.

De acordo com o CEO de uma companhia de exportação ouvido pela Euronews, Robert Khachatryan, as exportações do Quirguistão para a Rússia passaram de 393 milhões de dólares em 2021 para mais de US$1 bilhão em 2022 — um surreal aumento de 953%. 

Isso pode significar que a Rússia está contornando as sanções europeias para a importação de bens de alta tecnologia, já que o Quirguistão adota uma política que dispensa a necessidade de declarações aduaneiras (o que tornaria a movimentação imperceptível).

 Além disso, o Quirguistão está localizado ao longo da Rota da Seda, que faz o caminho entre a China e o Mediterrâneo. É a localização perfeita para intermediar o contato entre a Rússia e a Europa. 

Alguns países europeus foram identificados pelo Brookings Institute como relevantes a essa nova movimentação estratégica de Moscou: a Alemanha tem empresas a importar ativamente produtos do mercado russo; a França tem investimentos diretos no setor de energia do Quirguistão; e a Itália tem produtos de agricultura passando entre o Quirguistão e a Rússia — todas essas relações passariam por algum nível de intermediação. 

Além disso, a Polônia, que já se posicionou ativamente contra a Rússia, ainda importa produtos da indústria do país.

Atualmente, o comércio de exportação entre Quirguistão e Rússia envolve veículos, produtos de tecnologia, cosméticos etc., além de produtos da pauta comum (que já eram exportados anteriormente), como cobre e algodão. 

Em relação aos automóveis, apenas 10% dos veículos recentemente importados pelo Quirguistão têm permanecido no país o resto seria transferido à Rússia, de acordo com um membro da Running Point Capital Advisors ouvido pela Euronews.