De LISBOA | Tudo parecia dentro da normalidade na manhã do último sábado (7) no Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, na freguesia de Alcoentre, no município de Azambuja, Distrito de Lisboa, capital de Portugal. Ali está a penitenciária de segurança máxima considerada a mais rígida do país. O que viria a acontecer em questão de minutos se tornaria o principal assunto na imprensa nacional e nas rodas de conversas dos portugueses pelos próximos dias, bem como despertaria a fúria da sociedade, tamanho o grau de ridículo.
Cinco homens fugiram da prisão, sendo alguns deles de altíssima periculosidade. Um argentino, um inglês, um georgiano e dois portugueses. No caso do primeiro, um sequestrador que matou uma criança e um adolescente que estavam sob seu poder em cativeiro e condenado à prisão perpétua pela Justiça da nossa nação vizinha. Já um dos portugueses é um homem violento, acusado de um rosário de crimes graves, que já disparou com armas de fogo de grosso calibre contra a Polícia Judiciária, uma petulância absolutamente incomum naquela franja ocidental da Península Ibérica.
Mas como esses detentos conseguiram escapar do temido e claustrofóbico Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus? Acalme-se se você pensou em alguma coisa como a cinematográfica fuga de Alcatraz, nos EUA, ou algo engenhoso e audacioso como o ocorrido no começo deste ano na Penitenciária Federal de Mossoró, no Brasil. Não, a fuga não precisou de muitos recursos, criatividade ou coragem.
Era horário de visitas na unidade e os presos de alguns pavilhões estavam com parentes no pátio. Já noutros pavilhões, como era o caso do local onde estavam os cinco fugitivos, não havia visitas, mas eles perambulavam fora das celas, como numa espécie de banho de sol. O presídio, em formato quadrado, como é comum em quase todo o mundo, tem muralhas altas e uma “zona de segurança” no lado externo, entre o muro e um alambrado cheio de arames farpados e com inúmeras câmeras de segurança e sensores.
Pois um carro com três indivíduos se aproximou pela parte de trás da penitenciária, dois homens desceram, um deles cortou a grade do alambrado, passou com uma escada de metal, dessas que eletricistas usam, colocou-a na muralha, jogou uma corda para o lado de dentro e os cinco condenados perigosos subiram até o topo do paredão, descendo depois pela escada até a “zona de segurança”. Ali, todos passaram pela grade cortada e ganharam a liberdade.
Nenhum guarda nas muralhas viu a ação. Na verdade, acredite, não havia guardas na muralha. O servidor responsável por monitorar as imagens das câmeras de segurança também não viu nada, já que o sindicato da categoria informou que pelo contingente escasso ele estava em outros afazeres naquele momento de visita. A fuga só foi percebida 40 minutos depois, tempo suficiente para os fugitivos estarem bem longe. Para piorar tudo, a Polícia de Segurança Pública (PSP), a Polícia Judiciária (PJ) e Guarda Nacional Republicana (GNR), as principais forças de segurança de Portugal, só receberam a informação duas horas após a evasão, por volta do meio-dia.
Por fim, os funcionários do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus informaram que os dispositivos eletrônicos que monitoram a parte externa da “zona de segurança”, como os sensores de presença e alarmes, não estavam funcionando porque, há algum tempo, quando eles são acionados, ocorre uma queda de energia no presídio e tudo fica às escuras.
As buscas aos cinco condenados em fuga seguiram por todo o domingo (8) e nesta segunda-feira (9), mas até o momento ninguém foi recapturado.
Siga os perfis da Revista Fórum e do jornalista Henrique Rodrigues no Bluesky.