De BERLIM | A Europa está em alerta. Enquanto na Alemanha o parlamento foi dissolvido e a extrema direita, representada pelo partido AfD (Alternativa para a Alemanha), cresce nas pesquisas, na Áustria os extremistas estão a um passo de assumir o poder.
Herbert Kickl, líder do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), de origens nazistas, foi convidado pelo presidente Alexander Van der Bellen a formar um novo governo, após uma crise política que levou à renúncia do chanceler federal Karl Nehammer. Este é o cenário mais favorável à extrema direita no país onde nasceu Adolf Hitler desde a Segunda Guerra Mundial.
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A crise na Áustria atingiu seu ápice recentemente, com o fracasso das negociações entre os partidos tradicionais para formar uma coalizão sem a participação do FPÖ. A situação culminou na renúncia de Nehammer, do Partido Popular Austríaco (ÖVP), de centro-direita, que não conseguiu um acordo para formar governo com os sociais-democratas, abrindo caminho para Kickl, cujo partido foi o mais votado nas eleições parlamentares de setembro de 2024, com 28,8% dos votos.
Agora, o FPÖ negocia uma aliança com o ÖVP para formar um governo e pode, a depender do avanço das conversas, indicar em breve Herbert Kickl para assumir o cargo de chanceler.
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Na Áustria, o sistema político é o parlamentarismo federal, no qual o chanceler, indicado pelo presidente após negociações entre os partidos da coalizão, é o chefe do governo e lidera o Executivo. O presidente, eleito diretamente pela população, tem um papel majoritariamente simbólico, embora possua algumas prerrogativas importantes, como nomear o chanceler e dissolver o parlamento em situações específicas.
Nazistas no poder?
Herbert Kickl, ex-redator de discursos do polêmico Jörg Haider, ex-governador Caríntia e conhecido nome da extrema direita austríaca, é atualmente o principal líder do FPÖ, partido profundamente ligado ao passado nazista da Áustria e Alemanha. Fundado em 1956, o FPÖ foi formado por ex-nazistas e nacionalistas germânicos, e desde então se posiciona como uma agremiação populista e anti-imigração.
Nas eleições parlamentares de setembro de 2024, o FPÖ obteve 28,8% dos votos e se tornou o partido mais votado pela primeira vez na história do país.
A crise política que culminou na renúncia do chanceler Karl Nehammer abriu caminho para Kickl ser convidado a formar governo.
Em manifestações em frente ao Palácio de Hofburg, onde ocorreu a reunião entre Kickl e o presidente, manifestantes entoaram gritos de “fora nazistas”.
Veja vídeo:
Vale lembrar que a Áustria é o país onde nasceu Adolf Hitler, em 1889. Apesar de sua origem austríaca, ele construiu sua trajetória política na Alemanha, onde liderou o Partido Nazista e foi nomeado chanceler em 1933. Em 1938, promoveu a anexação da Áustria à Alemanha no episódio conhecido como "Anschluss".
Quem é Herbert Kickl?
Natural de Villach e com 56 anos, Kickl construiu sua carreira no FPÖ com retórica populista e propostas extremistas. Ele é conhecido por frases xenofóbicas e nacionalistas que remetem ao nazismo, como “mais coragem para o nosso sangue vienense”.
Durante a pandemia do coronavírus, Kickl atacou a Organização Mundial da Saúde (OMS), acusando a entidade de impor uma “ditadura sanitária”.
Ele já chegou a declarar, entre outras falas de teor nazista e antidemocrático, que “a lei deve seguir a política e não a política seguir a lei”, colocando em xeque os princípios fundamentais do Estado de Direito.
Contexto da crise e do crescimento da extrema direita
A crise política que abriu caminho para a extrema direita na Áustria é motivada, principalmente, pela incapacidade observada nos últimos anos dos partidos tradicionais, como o Partido Popular Austríaco (ÖVP) e o Partido Social-Democrata (SPÖ), de responderem a demandas sociais e econômicas geradas por fatores como pandemia e guerras que, direta ou indiretamente, afetam a Europa como um todo.
Questões em voga na Áustria como imigração, inflação e segurança pública serviram como um terreno fértil para a retórica xenofóbica e nacionalista do FPÖ, que se apresenta como um "remédio" antissistema, mas cujo histórico e propostas flertam perigosamente com ideais nazistas.
O crescimento do FPÖ, assim como de outras agremiações de extrema direita em toda a União Europeia, é fruto também da crescente insatisfação da população com a política e as instituições, que se intensifica diante da crise econômica global e dos efeitos prolongados da pandemia.
O partido de extrema direita austríaco usa a estratégia de explorar o medo através da divulgação de fake news e discurso populista para conquistar os eleitores. Com Herbert Kickl, o líder de falas que remetem ao nazismo e que pode ser o novo chanceler do país, o FPÖ conquistou não apenas a maioria dos votos nas últimas eleições parlamentares, mas também uma base de apoio sólida que prega, com discurso de ódio, a expulsão de imigrantes, protecionismo econômico e ultranacionalismo.
O paralelo alemão
Enquanto isso, na Alemanha, a crise política que culminou no fim do governo do social-democrata Olaf Scholz, na dissolução do parlamento e na convocação de eleições antecipadas para fevereiro é acompanhada pelo crescimento do partido de extrema direita AfD nas pesquisas eleitorais.
A legenda, frequentemente comparada ao FPÖ, compartilha estratégias e alianças com a sigla austríaca, incluindo a demonização da União Europeia e o desprezo pelas instituições democráticas.
Segundo um estudo da Fundação Konrad Adenauer, os eleitores do AfD e FPÖ possuem ideias parecidas: oposição à imigração, desconfiança na integração europeia, afinidade com discursos populistas e ligações com grupos neonazistas. A principal diferença, no entanto, está no fato de que o AfD continua isolado, com todos os partidos alemães rejeitando a formação de coalizão com os extremistas, enquanto o FPÖ já tem experiência em coalizões no nível estadual e nacional.