Nesta sexta-feira (10), foi confirmada a queda da presidenta do Peru, Dina Boluarte. A chefe de Estado amargava níveis de aprovação abaixo dos 5% e reprovação superior a 90% entre a população do país.
Dina assumiu o poder depois que o presidente de esquerda Pedro Castillo tentou fechar o Congresso do Peru em meio a uma crise institucional que assolava o país.
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Alvo de dois processos de impeachment, Castillo decidiu fechar o parlamento, medida prevista na Constituição do país. No entanto, a interpretação do Congresso foi a de que o presidente tentou um golpe de Estado. Ele chegou a ser preso e está sendo processado, com um pedido de 34 anos de prisão submetido pela procuradoria peruana.
Castillo foi destituído e sua vice, Dina Boluarte, assumiu. Mas Boluarte não adotou a mesma ideologia de esquerda de seu antecessor. Para se manter no cargo, tentou fazer um governo de centro-direita, em especial para evitar eleições antecipadas. Ela traiu o seu partido, o Peru Libre, com o objetivo de continuar presidenta (assim como Lenin Moreno fez no Equador).
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A ideia era criar um governo de centro em um país amplamente polarizado. Castillo representou uma espécie de Evo Morales peruano e sua principal opositora era Keiko Fujimori, que, enfim, representa o fujimorismo e a extrema direita no país.
Assim como Michel Temer no Brasil, Boluarte contava com a rejeição de ambos os setores e comandou um governo extremamente impopular. A primeira pesquisa de opinião de seu governo dava uma aprovação de 21% e rejeição acima dos 71%. As últimas encuestas mostravam aprovação abaixo de 5% e rejeição de 94% da população peruana.
A queda de Boluarte
A popularidade ruim de Boluarte não importava tanto para a classe política peruana. A presidenta manteve uma ótima relação com o Congresso (ao contrário de seu antecessor) e se equilibrou com um crescimento econômico relativamente estável.
Mas com os protestos da geração Z, que motivaram quedas de governo em Nepal, Bangladesh e fortes pressões em Indonésia, Equador, Madagascar e Índia, o governo Dina Boluarte acabou tendo um novo problema.
Protestos contra a reforma da previdência promovida por Boluarte levaram milhares de pessoas às ruas do país. E, curiosamente, outro motivo levou à queda da presidenta.
Um aumento da violência no Peru já havia feito Boluarte balançar no cargo antes, mas o atentado contra uma banda de cúmbia em um recinto militar em Lima fez com que o partido Renovação Popular, de extrema direita, iniciasse um processo de destituição.
A resposta aos protestos — a queda de Boluarte — veio rapidamente. A causa principal dos protestos, a reforma da previdência, no entanto, segue sem resposta do poder público.
O novo presidente é José Jeri, uma figura de centro-direita que vai coordenar o governo até abril do ano que vem, quando novas eleições ocorrerão no país. Ele é o sétimo presidente do Peru nesta década.
As pesquisas colocam o prefeito de Lima, López Aliaga, de extrema direita, como principal nome nas pesquisas. Fujimori é a segunda colocada. Na esquerda, Martin Vizcarra (Peru Primero) e Carlos Álvarez (País para Todos), aliado de Castillo, estão em quarto lugar, segundo a última pesquisa Ipsos.
Dina Boluarte é de esquerda ou direita?
Embora Dina Boluarte tenha iniciado sua carreira política associada à esquerda moderada, sua atuação no governo é amplamente vista como de orientação conservadora e alinhada ao centro-direita. Eleita vice-presidente na chapa do professor Pedro Castillo, em 2021, pelo partido Perú Libre — de inspiração marxista —, Boluarte rompeu com a legenda logo após assumir a presidência, em dezembro de 2022.
Desde então, vem adotando políticas mais próximas das elites econômicas e dos setores tradicionais de Lima, afastando-se das bases populares e rurais que sustentavam o governo anterior. Analistas políticos afirmam que sua gestão representa uma guinada à direita, especialmente por sua relação amistosa com as Forças Armadas, política econômica ortodoxa e dura repressão aos protestos que se seguiram à destituição de Castillo.
Ela governou em uma coalizão com o fujimorismo e com a direita tradicional peruana, mas também foi traída por este grupo político em seu processo de destituição.