O Hamas começará a libertar os reféns israelenses mantidos em Gaza na manhã de segunda-feira, afirmou um alto funcionário do grupo militante palestino à AFP, antes de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, presidir uma cúpula internacional no Egito sobre seu plano de paz para a região.
Como parte da primeira fase do acordo, o Hamas — cujos ataques mortais contra Israel em 7 de outubro de 2023 desencadearam o conflito — libertará os reféns, 20 dos quais Israel acredita ainda estarem vivos, em troca de quase 2.000 prisioneiros palestinos.
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“De acordo com o acordo assinado, a troca de prisioneiros está programada para começar na manhã de segunda-feira, conforme acordado”, disse à AFP o dirigente do Hamas Osama Hamdan, em entrevista no sábado.
Trump e o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi presidirão, na tarde de segunda-feira, uma cúpula com mais de 20 países na estância turística do Mar Vermelho, Sharm el-Sheikh, anunciou a presidência do Egito.
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O encontro buscará “encerrar a guerra na Faixa de Gaza, fortalecer os esforços pela paz e estabilidade no Oriente Médio e inaugurar uma nova era de segurança e estabilidade regional”, segundo o comunicado.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, confirmou presença, assim como o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, a chefe de governo italiana Giorgia Meloni, o espanhol Pedro Sánchez e o presidente francês Emmanuel Macron.
Não houve confirmação imediata sobre a presença do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, enquanto o Hamas afirmou que não participará, pois “atuou principalmente por meio de mediadores do Catar e do Egito”, segundo Hossam Badran, membro do bureau político do grupo.
Apesar do aparente avanço, mediadores ainda enfrentam o desafio de garantir uma solução política duradoura, que leve o Hamas a entregar as armas e abrir mão do controle sobre Gaza.
Badran afirmou que a segunda fase do plano de Trump “contém muitas complexidades e dificuldades”, enquanto outro dirigente do Hamas, sob anonimato, declarou que o desarmamento está “fora de questão”.
Força multinacional
Pelo plano de Trump, à medida que Israel realiza uma retirada gradual das cidades de Gaza, o território será ocupado por uma força multinacional formada por Egito, Catar, Turquia e Emirados Árabes Unidos, coordenada por um centro de comando liderado pelos EUA em Israel.
No sábado, o chefe do Comando Central dos Estados Unidos (CENTCOM), almirante Brad Cooper, o enviado de Trump ao Oriente Médio Steve Witkoff e o genro do ex-presidente, Jared Kushner, visitaram Gaza, onde centenas de milhares de palestinos voltavam para suas casas devastadas.
Witkoff, Kushner e Ivanka Trump seguiram depois para Tel Aviv, onde participaram de um encontro com familiares dos reféns israelenses ainda mantidos em Gaza, durante o qual multidões gritaram “Obrigado, Trump”.
Einav Zangauker, cujo filho Matan é um dos cerca de 20 reféns que ainda se acredita estarem vivos, declarou:
“Continuaremos gritando e lutando até que todos estejam em casa.”
Zairo Shachar Mohr Munder, sobrinho de Abraham Munder, sequestrado no ataque do Hamas e cujo corpo foi recuperado em agosto, acrescentou:
“Finalmente sentimos esperança, mas não podemos — e não iremos — parar agora.”
O Hamas tem até o meio-dia de segunda-feira para entregar 47 reféns restantes — vivos e mortos — dos 251 sequestrados durante o ataque de dois anos atrás, que deixou 1.219 mortos, a maioria civis.
Os restos mortais de outro refém, mantido em Gaza desde 2014, também devem ser devolvidos.
Em troca, Israel libertará 250 prisioneiros, incluindo alguns que cumprem prisão perpétua por ataques fatais contra israelenses, além de 1.700 palestinos detidos pelo exército desde o início da guerra.
O serviço prisional israelense informou no sábado que transferiu os 250 detentos de segurança nacional para duas prisões, em preparação para a troca.
“Fiquei parada e chorei”
Mais de 500 mil palestinos haviam retornado à Cidade de Gaza até a noite de sábado, segundo a agência de defesa civil do enclave, que opera sob autoridade do Hamas.
“Caminhamos por horas, e cada passo foi tomado com medo e ansiedade pelo meu lar”, contou à AFP Raja Salmi, de 52 anos.
Ao chegar ao bairro Al-Rimal, ela encontrou sua casa completamente destruída.
“Fiquei parada diante dela e chorei. Todas aquelas memórias agora são apenas poeira”, disse.
Imagens de drone feitas pela AFP mostraram quarteirões inteiros transformados em montes retorcidos de concreto e aço.
Paredes e janelas de prédios de cinco andares foram arrancadas e agora bloqueiam as ruas, enquanto moradores desolados vasculham os escombros.
O escritório humanitário da ONU afirmou que Israel permitiu que agências transportassem 170 mil toneladas de ajuda para Gaza, caso o cessar-fogo se mantenha.
“Cidade fantasma”
Homens, mulheres e crianças percorreram ruas cobertas de destroços, em busca de suas casas entre lajes desabadas, veículos destruídos e escombros.
Sami Musa, 28 anos, voltou sozinho para verificar a situação da casa da família.
“Graças a Deus... descobri que nossa casa ainda está de pé”, disse. “Parecia uma cidade fantasma, não Gaza. O cheiro da morte ainda paira no ar.”
A campanha de Israel em Gaza já matou pelo menos 67.682 pessoas.