DESTRUIÇÃO TOTAL

VÍDEO: Milhares de palestinos retornam à devastada Cidade de Gaza após cessar-fogo

"O cheiro de morte ainda paira no ar", disse um deslocado palestino, em meio aos milhares que encontraram suas casas totalmente destruídas

Milhares de palestinos retornam à Cidade de Gaza.Créditos: BASHAR TALEB / AFP
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Milhares de palestinos deslocados retornaram neste sábado a uma devastada Cidade de Gaza, no segundo dia de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, muitos deles atônitos diante da destruição.

Israel concordou com a trégua na sexta-feira (10) e retirou tropas de várias áreas do território, o que levou longas filas de moradores exaustos a seguir rumo ao norte por uma estrada costeira.

Aproveitando o cessar-fogo, Raja Salmi caminhou de volta para sua casa em Gaza, onde semanas de bombardeios e operações terrestres israelenses destruíram bairros inteiros. 

“Caminhamos por horas, e cada passo foi tomado com medo e ansiedade pelo meu lar”, contou Salmi à AFP.

Ao chegar ao bairro de Al-Rimal, ela encontrou sua casa destruída.

“Ela não existe mais. É apenas um monte de escombros”, disse. “Fiquei diante dela e chorei. Todas aquelas memórias agora são apenas pó.”

O fluxo de retornos continua: cerca de 50 mil pessoas chegaram à Cidade de Gaza neste sábado (12), segundo a agência de defesa civil, um serviço de resgate sob a autoridade do Hamas.

Mãe palestina retorna com seu filho à Cidade de Gaza (Foto: EYAD BABA / AFP)

“Isso eleva o número total de retornados para cerca de 250 mil desde ontem”, informou Mohammed Al-Mughayyir, funcionário da agência.

Pelo acordo de cessar-fogo proposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o Hamas entregará 47 reféns restantes — vivos e mortos — dos 251 sequestrados durante o ataque de 7 de outubro a Israel, ocorrido há dois anos. Os restos mortais de mais um refém, mantido em Gaza desde 2014, também devem ser devolvidos.

Em troca, Israel libertará 250 reféns, incluindo condenados à prisão perpétua por ataques fatais contra israelenses, além de 1.700 palestinos de Gaza detidos desde o início da guerra.

Israel divulgou a lista dos 250 prisioneiros, que não inclui nenhum dos principais líderes militantes cuja libertação o Hamas reivindicava.

“Destruição, destruição”

A retirada das forças israelenses de algumas áreas, anunciada às 9h de sexta-feira, iniciou uma contagem de 72 horas para que o Hamas libertasse os reféns — prazo que termina na manhã de segunda-feira (13). 

O Hamas e seus aliados Jihad Islâmica e Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) celebraram o cessar-fogo como “um revés” para o objetivo israelense de promover o “deslocamento e desenraizamento” dos palestinos de Gaza.

Trump declarou a repórteres na sexta-feira acreditar que a trégua se manterá, afirmando que ambos os lados estão “cansados da luta”, e confirmou seus planos de viajar a Israel e ao Egito, país mediador, neste fim de semana.

No entanto, muitos pontos da proposta de Trump permanecem sem consenso, incluindo os planos para a administração pós-guerra e a exigência de que o Hamas se desarme — o que o grupo já indicou rejeitar.

“Não vamos nos desarmar... (até que) tenhamos um Estado independente e soberano capaz de se defender”, disse Bassem Naim, integrante do bureau político do Hamas, em entrevista em inglês à Sky News.

O plano de Trump também prevê a criação de uma força internacional de segurança em Gaza.

Após visitar o território neste sábado, o chefe do Comando Central dos EUA (Centcom), almirante Brad Cooper, afirmou que nenhum soldado americano será enviado a Gaza, mas que autoridades discutem a criação de um centro de coordenação civil-militar, liderado pelo Centcom, para apoiar a estabilização pós-conflito.

No hospital Al-Rantisi, em Gaza — unidade voltada a crianças e pacientes com câncer —, imagens da AFP mostraram alas reduzidas a pilhas de camas de metal retorcidas, tetos desabados e equipamentos médicos espalhados.

“Não sei o que dizer. As imagens falam mais do que palavras: destruição, destruição e mais destruição”, relatou Saher Abu Al-Atta, morador que retornou à cidade.

Com a ONU tendo declarado estado de fome na Cidade de Gaza pouco antes da mais recente ofensiva israelense, agências humanitárias esperam que o cessar-fogo permita o aumento da ajuda.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) afirmou ter recebido de Israel autorização para entregar 170 mil toneladas de ajuda nos primeiros 60 dias da trégua.

“As necessidades mais básicas continuam urgentes em Gaza: equipamentos médicos, medicamentos, comida, água, combustível e abrigo adequado para dois milhões de pessoas que enfrentarão o inverno sem um teto”, disse Jacob Granger, coordenador da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Gaza.

“Cidade fantasma”

Homens, mulheres e crianças caminharam por ruas cobertas de escombros, procurando suas casas entre lajes de concreto, veículos destruídos e detritos.

Enquanto alguns retornaram em veículos, a maioria foi a pé, carregando pertences em bolsas nas costas.

Sami Musa, de 28 anos, voltou sozinho para verificar a casa da família.

“Graças a Deus... descobri que nossa casa ainda está de pé, embora tenha sofrido alguns danos que podemos reparar”, contou à AFP.

Mesmo assim, a destruição de Gaza o deixou chocado — mas decidido a reconstruir.

“Parecia uma cidade fantasma, não Gaza”, disse Musa. “O cheiro da morte ainda paira no ar.”

A ofensiva israelense em Gaza já matou pelo menos 67.682 pessoas, segundo o Ministério da Saúde do território controlado pelo Hamas — números considerados críveis pela ONU.

Os dados não distinguem civis de combatentes, mas indicam que mais da metade das vítimas são mulheres e crianças.

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