O Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel divulgou, neste domingo (12), uma carta aberta à opositora venezuelana Maria Corina Machado, questionando sua postura política, seu alinhamento com os Estados Unidos e a forma como recebeu a premiação do Nobel da Paz.
Intitulado “De Nobel a Nobel”, o documento, divulgado pela Fundação Serviço Paz e Justiça, traz um pouco da história pessoal de Esquivel e sua luta contra a ditadura argentina para contextualizar como foi (e como é) a política externa dos EUA em relação à América Latina.
"A paz se constrói dia a dia e devemos ser coerentes entre o que dizemos e o que fazemos. Aos 94 anos, continuo sendo um aprendiz da vida e me preocupam sua postura e suas decisões sociais e políticas. Por isso, lhe envio estas reflexões", afirmou.
Ele defendeu que, apesar de críticas legítimas, “o governo venezuelano é uma democracia com seus pontos positivos e negativos”, destacando a importância do legado de Hugo Chávez na defesa da soberania e unidade continental. “Os Estados Unidos o atacaram permanentemente. Não podem permitir que nenhum país do continente saia de sua órbita e da dependência colonial”, escreveu.
Questionamento
O Nobel argentino criticou diretamente o vínculo de Machado com Washington. “Surpreende-me como você se apega aos Estados Unidos e deve saber que eles não têm aliados, nem amigos, apenas interesses”, pontuou, lembrando o histórico de intervenções estadunidenses na região.
"As ditaduras impostas na América Latina foram instrumentadas por seus interesses de dominação, destruindo a vida e a organização social, cultural e política dos povos que lutam por sua liberdade e autodeterminação. Os povos resistimos e lutamos pelo direito de ser livres e soberanos e não colônias dos EUA", afirmou.
Em tom incisivo, Esquivel questionou a política venezuelana. “Corina, eu te pergunto: Por que você chamou os EUA para invadir a Venezuela?”. Ele condenou a decisão de dedicar a indicação ao Nobel ao ex-presidente Donald Trump.
"Preocupa-me que você não tenha dedicado o Nobel ao seu povo, mas sim ao agressor da Venezuela. Acho, Corina, que você precisa analisar e saber onde está posicionada, se você é mais uma peça do colonialismo dos EUA, submetida aos seus interesses de dominação, o que nunca pode ser para o bem do seu povo", disse.
E completou: “A dignidade do povo não se compra nem se vende. Agora você tem a possibilidade de trabalhar para o seu povo e construir a paz, não provocar mais violência. Um mal não se resolve com outro mal maior, só teremos dois males e nunca a solução”.