AMÉRICA LATINA

"Capitalismo para todos": quem é Rodrigo Paz, presidente eleito na Bolívia

De centro-direita, Paz foi prefeito, deputado e senador por Tarija, departamento rico em petróleo e gás de onde sua família é originária

Créditos: Foto por JORGE BERNAL / AFP
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O presidente eleito da Bolívia, Rodrigo Paz, disse no domingo que seu país estava "retomando seu lugar no cenário internacional" enquanto sua vitória nas urnas encerrava duas décadas de governo socialista que deixaram a nação sul-americana mergulhada em uma profunda crise econômica.

"Devemos abrir a Bolívia para o mundo e restaurar seu papel", acrescentou o economista de 58 anos, que se tornou senador, em um discurso de vitória após derrotar o rival também de direita Jorge "Tuto" Quiroga com mais de 54% dos votos em um segundo turno.

Quem é Rodrigo Paz

O senador boliviano tornou-se neste domingo o terceiro homem de sua família ampliada a ser eleito presidente, um cargo que ele prometeu usar “para o bem de todos”.

Durante a campanha, o economista de 58 anos trabalhou arduamente para se apresentar como um moderado e homem de consenso.

Cuidadoso em evitar rótulos ideológicos, lançou slogans para todos os públicos: de “Deus, família, pátria”, voltado a seus seguidores mais conservadores, a “Até a vitória, sempre” — frase associada ao revolucionário argentino Che Guevara.

De rosto liso, cabelo espesso penteado para trás e gosto por camisas de gola, Paz foi descrito como um candidato que tenta ser tudo para todos.

Em agosto, ele obteve o maior número de votos no primeiro turno, em uma eleição em que os bolivianos deram um golpe mortal em 20 anos de governo socialista, culpado por uma série de problemas econômicos.

No segundo turno, realizado no domingo, o candidato do Partido Democrata Cristão conquistou cerca de 55% dos votos, derrotando o rival de direita Jorge “Tuto” Quiroga, segundo o Tribunal Supremo Eleitoral.

Juventude pelo mundo

Paz é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989–1993) e nasceu na Espanha, país para onde sua família fugiu das sucessivas ditaduras militares e onde passou os primeiros anos de exílio.

Também viveu na Argentina, Chile, Peru e Venezuela, sendo obrigado a recomeçar várias vezes, à medida que sua família de dissidentes de esquerda se deslocava para escapar da perseguição.

“Na luta dos meus pais pela democracia, vivemos em dez países diferentes”, disse Paz à AFP em uma entrevista em agosto.

A linhagem política do candidato também inclui o tio-avô Víctor Paz Estenssoro, um esquerdista que foi presidente da Bolívia por quatro mandatos.

Desde que entrou na política, Rodrigo Paz já foi prefeito, deputado e, até agora, senador por Tarija, departamento rico em petróleo e gás de onde sua família é originária.

Durante a campanha, ele percorreu centenas de municípios do país, de 11,3 milhões de habitantes. Com sobrancelhas espessas e forte semelhança física com o pai, desperta nostalgia em muitos veteranos da esquerda boliviana. Paz frequentemente compartilha fotos com o patriarca de 86 anos em suas redes sociais, nas quais é bastante ativo.

“Uma alternativa”

“Não preciso me definir, e sim oferecer ao país uma alternativa”, respondeu Paz em entrevista à CNN, quando questionado sobre sua orientação ideológica.

Sua mensagem tem sido a de “capitalismo para todos, e não apenas para alguns”, com promessas de cortes profundos de gastos, formalização da economia estagnada e mudanças constitucionais para atrair o investimento estrangeiro de que o país tanto precisa.

Ele prometeu reduzir impostos e eliminar tarifas de importação.

Em vez de recorrer a grandes empréstimos, Paz afirmou que pretende “colocar a casa em ordem primeiro, porque há muitos corruptos aqui que roubaram muito”.

Ele disse à AFP que não buscará um segundo mandato após este.

Parte do apelo de Paz é atribuída ao seu vice, o ex-capitão da polícia Edmand Lara, muito popular por seus ataques à corrupção.

“Os setores populares se identificaram fortemente com Rodrigo Paz, especialmente por meio de seu companheiro de chapa, Lara, que vem de origem humilde”, afirmou à AFP a socióloga boliviana María Teresa Zegada.

© Agence France-Presse

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