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Nikolas Sarkozy, o ícone da direita liberal francesa, é preso por corrupção

É a primeira vez que um ex-chefe de estado da União Europeia acaba na cadeia

NIkolas SarkozyCréditos: World Economic Forum/swiss-image.ch
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O ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, tornou-se nesta terça-feira o primeiro ex-chefe de Estado da União Europeia a ser preso, proclamando sua inocência ao entrar em uma prisão em Paris.

O líder da direita francesa, que governou o país entre 2007 e 2012, foi considerado culpado no mês passado de tentar obter financiamento da Líbia de Muamar Kadhafi para a campanha que o levou à vitória presidencial.

Jornalistas da AFP viram o político de 70 anos — que recorreu da sentença — deixar sua casa e, após um breve trajeto escoltado por policiais em motocicletas, entrar na prisão de La Santé, na capital francesa.

“Bem-vindo, Sarkozy!”, “Sarkozy está aqui!”, gritaram alguns presos de dentro de suas celas, segundo repórteres da AFP.

Em uma mensagem desafiadora publicada nas redes sociais enquanto era transferido, Sarkozy negou qualquer crime:

“Não é um ex-presidente da República que está sendo preso esta manhã, mas um homem inocente”, escreveu ele no X (antigo Twitter).

“Não tenho dúvidas. A verdade prevalecerá.”

Sarkozy foi condenado em setembro a cinco anos de prisão por conspiração criminosa, devido a um suposto plano para que o falecido ditador líbio financiasse sua campanha eleitoral.

Após o veredito, em 25 de setembro, ele declarou que “dormiria na prisão — mas de cabeça erguida”.

Na manhã desta terça-feira, dezenas de apoiadores e familiares se reuniram diante da casa do ex-presidente, alguns exibindo retratos emoldurados dele.

“Nicolas! Nicolas! Libertem Nicolas!”, gritavam enquanto ele saía de mãos dadas com sua esposa, a cantora Carla Bruni.
Antes, o grupo havia cantado o hino nacional francês, enquanto vizinhos observavam das varandas.

“Este é realmente um dia triste para a França e para a democracia”, disse Flora Amanou, de 41 anos.

"Pelo menos três semanas”

O advogado de Sarkozy, Christophe Ingrain, afirmou que um pedido de libertação imediata foi apresentado.

O tribunal de apelações de Paris tem, em tese, dois meses para decidir se o ex-presidente poderá aguardar o novo julgamento em liberdade, mas, segundo Ingrain, “o prazo costuma ser menor — ele ficará preso por pelo menos três a quatro semanas”.

Sarkozy é o primeiro líder francês encarcerado desde Philippe Pétain, o chefe de Estado colaboracionista do regime nazista, preso após a Segunda Guerra Mundial.

Ele contou ao jornal Le Figaro que levaria consigo uma biografia de Jesus e um exemplar de “O Conde de Monte Cristo”, romance sobre um homem inocente injustamente preso que escapa para buscar vingança.

Segundo funcionários da prisão, Sarkozy deve permanecer em cela individual de nove metros quadrados, na ala de isolamento, para evitar contato com outros detentos.

Em confinamento solitário, os presos têm direito a uma hora diária de pátio, sozinhos, e três visitas por semana.

Três condenações e mais processos

Desde que perdeu a reeleição em 2012, Sarkozy enfrenta diversos processos judiciais.

Ele já foi condenado em outros dois casos:

Um por corrupção, ao tentar obter favores de um juiz — pena que cumpriu em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, retirada em maio.

Outro, ainda em julgamento, no qual é acusado de financiamento ilegal da campanha presidencial de 2012.

No chamado “caso líbio”, promotores afirmam que assessores de Sarkozy, em seu nome, fecharam um acordo com Kadhafi em 2005 para financiar ilegalmente sua campanha de 2007.

Investigadores acreditam que, em troca, o ditador buscava melhorar sua imagem internacional, manchada após os atentados aéreos de 1988 (sobre Lockerbie, na Escócia) e 1989 (sobre o Níger), que mataram centenas de civis.

O tribunal o condenou por conspiração criminosa, mas não concluiu que ele tenha recebido ou usado os fundos na campanha. Sarkozy foi absolvido das acusações de peculato, corrupção passiva e financiamento ilícito.

Após a primeira condenação, ele já havia sido destituído da Legião de Honra, a mais alta condecoração francesa.

Uma pesquisa do instituto Elabe com mais de mil adultos revelou que seis em cada dez franceses consideram a pena “justa”.

Mesmo assim, Sarkozy mantém apoio dentro da direita francesa e chegou a ter encontros privados com o presidente Emmanuel Macron.

Macron o recebeu no Palácio do Eliseu na sexta-feira anterior e, nesta semana, declarou à imprensa:

“Foi algo normal, em nível humano, receber um dos meus antecessores nesse contexto.”

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