O papa Leão fez neste domingo (2) um apelo por um cessar-fogo imediato no Sudão e pela abertura de corredores humanitários após as denúncias de massacres e execuções de civis em Al-Fashir, capital da região de Darfur do Norte.
A cidade foi tomada no fim de outubro pelas Forças de Apoio Rápido (RSF), grupo paramilitar acusado pela ONU de cometer assassinatos em massa e estupros coletivos durante e após a conquista do território.
Te podría interesar
“A violência indiscriminada contra mulheres e crianças, os ataques a civis indefesos e os sérios obstáculos à ação humanitária estão causando um sofrimento inaceitável”, disse o papa durante o Angelus, na Praça de São Pedro.
Ele pediu que a comunidade internacional aja de forma “decisiva e generosa” para apoiar os esforços de socorro às vítimas e aliviar a tragédia humanitária que atinge o país africano.
Te podría interesar
Massacre e cerco de 18 meses
Segundo o Escritório de Direitos Humanos da ONU, centenas de civis e combatentes desarmados foram mortos sumariamente na ofensiva da RSF que encerrou um cerco de 18 meses a Al-Fashir — o último reduto do exército sudanês na região. Testemunhas relataram execuções públicas, estupros, incêndios de casas e perseguições contra famílias inteiras.
O porta-voz do Alto Comissariado da ONU, Seif Magango, afirmou que o número de vítimas pode chegar a centenas. Ele também denunciou que mulheres e meninas foram violentadas sob a mira de armas e que cerca de 100 famílias deslocadas foram forçadas a abandonar o local em meio a tiroteios e intimidações.
Após a repercussão, a RSF afirmou ter detido alguns combatentes envolvidos em “violações durante a libertação da cidade”, prometendo uma investigação interna.
Hospitais lotados e fome extrema
A situação humanitária é descrita por Médicos Sem Fronteiras (MSF) como “desesperadora”. A pediatra italiana Giulia Chiopris, que atua em um posto de saúde a 60 km de Al-Fashir, contou que os hospitais estão sobrecarregados e que “a maioria dos pacientes precisa de cirurgias urgentes”.
“As pessoas chegam em condições extremas, após dias de caminhada, desidratadas e com ferimentos graves. Muitas tiveram que comer ração animal para sobreviver”, relatou Chiopris.
Segundo a médica, 100% das crianças menores de cinco anos atendidas recentemente apresentavam algum grau de desnutrição. Muitas delas são órfãs, após perderem pais e irmãos nos ataques.
Estima-se que mais de 250 mil pessoas ainda estejam presas em Al-Fashir, sem acesso a comida, água potável ou atendimento médico. Apenas alguns milhares conseguiram fugir nos últimos dias, um número considerado mínimo diante da magnitude da crise.
Papa também pede paz na Tanzânia
Durante o mesmo discurso, o papa Leão também mencionou a Tanzânia, onde confrontos após as eleições nacionais deixaram dezenas de mortos. Ele pediu que “todas as partes evitem a violência e sigam o caminho do diálogo”, reforçando seu apelo pela paz em um momento de instabilidade crescente em várias regiões da África.
Com a escalada dos conflitos em Darfur e a crise humanitária no Sudão, o papa afirmou que “ninguém pode permanecer indiferente diante de tanto sofrimento”.