CARTÉIS

VÍDEO: “Bukele mexicano” é assassinado a tiros em festa do Dia dos Mortos

Vítima de cartéis. Carlos Manzo, que já foi de esquerda e passou ao discurso de extrema direita, era prefeito de Uruapan. Ele participava de um ato quando teve início uma série de disparos na multidão

Carlos Manzo, prefeito mexicano assassinado.Créditos: Frame de vídeo das redes sociais/Reprodução
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O México acordou neste domingo (2) sob o peso de mais uma tragédia que expõe as garras do crime organizado no coração do país. Carlos Alberto Manzo Rodríguez, o prefeito independente de extrema direita de Uruapan, apelidado de "Bukele mexicano" por sua postura supostamente “linha-dura” contra os cartéis de drogas, foi executado a tiros na noite de sábado (1º), durante o tradicional Festival de las Velas, uma das celebrações mais vibrantes do Dia dos Mortos. Aos 40 anos, Manzo, que se posicionava como uma voz pouco apoiada nacionalmente de extrema-direita, tombou atingido por seis disparos, dois deles no abdômen e um no braço, enquanto posava para fotos com crianças e famílias na Plaza Morelos, no centro histórico da cidade.

O atentado, capturado em vídeos amadores que circulam nas redes sociais, transformou a praça iluminada por milhares de velas, símbolo de luz e memória para os ancestrais, em um palco de caos e terror. Manzo, ao lado de sua esposa e do filho pequeno, acabara de transmitir uma live animada sobre o evento quando um sicário se aproximou disfarçado entre a multidão. Os tiros ecoaram por volta das 20h, provocando pânico generalizado: gritos, correria e o colapso do prefeito no chão, em meio a pétalas de cempasúchil, uma flor muito cultivada no México, e altares improvisados. Seus seguranças da Guarda Nacional, que o acompanhavam desde dezembro de 2024, reagiram rapidamente: um agressor foi morto no local e outros dois detidos em flagrante. Nenhum civil foi ferido, segundo o Ministério Público de Michoacán, mas o episódio reabriu feridas profundas em uma região assolada por disputas entre o Cártel Jalisco Nova Geração (CJNG) e resquícios do grupo Caballeros Templarios.

Autoridades federais e estaduais confirmaram a morte de Manzo no Hospital Fray Juan de San Miguel, para onde foi levado em estado grave. "Lamentamos profundamente a perda do presidente municipal Carlos Manzo em uma agressão ocorrida no centro de Uruapan. Duas pessoas foram detidas, e um dos agressores perdeu a vida", informou o Gabinete de Segurança do Governo em comunicado oficial. O governador de Michoacán, Alfredo Ramírez Bedolla, do partido de esquerda Morena, classificou o ataque como "covarde" e mobilizou o secretário de Segurança Pública, Juan Carlos Oseguera, junto à Guarda Nacional, para reforçar patrulhas na cidade, conhecida como a "capital do abacate" e epicentro de extorsões rurais.

Uma trajetória de ruptura e confronto

Manzo não era um político convencional. Formado em Ciências Políticas pela Universidade Tecnológica do Ocidente, ele começou sua carreira como auditor do Instituto Mexicano do Seguro Social (IMSS) em Michoacán, entre 2017 e 2018. Em 2021, foi eleito deputado federal pelo Morena, o partido da "Cuarta Transformación" (4T), de esquerda progressista liderado por Andrés Manuel López Obrador, à época presidente, e agora por Claudia Sheinbaum, atual chefe de Estado. Mas sua permanência no partido durou pouco. Ele migrou para um discurso de extrema direita e passou a atacar os políticos de sua antiga agremiação, simulando posturas do presidente salvadorenho Nayib Bukele.

Como independente, Manzo venceu a eleição municipal de junho de 2024 com uma campanha centrada em "Los del Sombrero", uma referência ao seu chapéu característico e a um movimento local de resistência. Sua gestão, iniciada em setembro, foi marcada por ações ousadas: patrulhas pessoais com colete à prova de balas, aquisição de veículos blindados, aumento de 30% nos salários policiais e bonificações de até um milhão de pesos por apreensões significativas. Em lives virais no TikTok e Facebook, ele liderava operações aéreas contra esconderijos do CJNG, denunciando campos de treinamento de sicários com mercenários estrangeiros e exigindo intervenção militar plena.

Essa abordagem agressiva o transformou no "Bukele mexicano", em alusão ao presidente salvadorenho Nayib Bukele, conhecido por prisões em massa e militarização contra gangues. Manzo rejeitava o rótulo: "Não sou Bukele, sou 100% o Sombrero Michoacano", mas ecoava o estilo autoritário ao clamar por "abatimentos" a delinquentes que resistissem à prisão. Em maio, atacou a Claudia Sheinbaum publicamente.

"Se você pacificar Uruapan sem um tiro, eu renuncio". Em agosto, foi mais direto: "A este país já se lhe foi das mãos", criticando a estratégia de "abrazos, no balazos" (abraços, não balas) como ineficaz contra assassinos de crianças e grávidas. "Abraços são para os pobres em extrema miséria; para os criminosos, só chingadazos e o peso da lei", declarava, em um discurso que o posicionava como opositor ferrenho à agenda de esquerda da 4T, priorizando causas sociais sobre confronto armado. Suas críticas ao governo federal, acusações de omissão e conivência com o narco, o tornaram um possível presidenciável para 2030.

Presidenta reagiu e condenou

A morte de Manzo gerou comoção nacional e internacional. A presidente Sheinbaum, que o repreendera por incentivar letalidade policial, convocou uma reunião urgente do Gabinete de Segurança e condenou o "vil assassinato" em postagem no X (antigo Twitter).

Veja o vídeo:

 

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