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Dick Cheney: morre ex-vice-presidente dos EUA, o senhor da Guerra do Iraque

Biografia do vice de Bush explica claramente a influência da indústria bélica na política dos EUA

Dick Cheney em 1984Créditos: Michael Evans/CCBYSA
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Nesta terça-feira (4), foi confirmada a morte de Dick Cheney, ex-vice-presidente e ex-secretário de Defesa dos EUA. Ele faleceu na noite de ontem, após complicações de uma pneumonia associada a doenças cardiovasculares, de acordo com um porta-voz da família.

O ex-vice-presidente morreu aos 84 anos e deixa um legado de milhares de mortes de civis e lucros milionários para as indústrias de armas e petróleo dos EUA, através de sua grande conquista política: a Guerra do Iraque, iniciada em 2003.

Cheney ganhou proeminência nos últimos anos por ser um representante da ala anti-Donald Trump dentro do Partido Republicano dos EUA, e sua filha, Liz Cheney, acabou se tornando um alvo frequente de ataques do presidente dos EUA.

Quem foi Dick Cheney

Richard Bruce Cheney, conhecido mundialmente como Dick Cheney, é uma das figuras mais influentes e polêmicas da política norte-americana. Vice-presidente dos Estados Unidos entre 2001 e 2009, durante o governo de George W. Bush, Cheney construiu uma carreira marcada especialmente por suas ligações com o complexo militar-industrial e com a invasão do Iraque.

Cheney passou de estagiário de um deputado a chefe de gabinete da Casa Branca em seis anos, assumindo a posição em 1974. Em 1978, tornou-se deputado por Wyoming (estado onde não nasceu nem tinha carreira profissional). Em 1987, assumiu a liderança dos republicanos no Congresso durante o governo Reagan. Nesse período, foi um dos maiores apoiadores do apartheid na África do Sul enquanto atuava como deputado. Quando o governo George H. W. Bush assumiu, Cheney se tornou secretário de Defesa.

No Pentágono, ganhou prestígio por sua gestão na Guerra do Golfo. Em 1995, assumiu o comando da Halliburton, uma das maiores corporações de serviços petrolíferos e contratos militares do mundo.

Sob sua liderança, a empresa expandiu agressivamente seus negócios, inclusive por meio de contratos públicos bilionários e práticas que mais tarde seriam investigadas por corrupção.

Durante sua gestão, a Halliburton foi acusada de operar um fundo secreto de US$ 180 milhões para subornar autoridades nigerianas, visando a um contrato de US$ 5 bilhões para a construção de uma planta de gás. Cheney, entretanto, nunca foi condenado.

Em 2000, Cheney ocupava o posto de CEO da Halliburton e começou a atuar fortemente na campanha de George Bush no Texas. Bush pediu pessoalmente que Cheney fosse seu vice, quebrando a tradição de indicar políticos que passaram pelas primárias.

Após a polêmica vitória na Flórida, Cheney se tornou o principal articulador entre Bush, o Congresso dos EUA e o setor privado. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, Cheney emergiu como principal arquiteto da Guerra do Iraque. Ele foi um dos maiores defensores da falsa tese de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa e mantinha ligações com a Al-Qaeda. Investigações posteriores mostraram que Cheney pressionou agências de inteligência a validar informações sabidamente frágeis ou incorretas.

Com a invasão em 2003, empresas ligadas à Halliburton receberam contratos sem licitação para reconstrução e logística militar no Iraque, acumulando lucros bilionários. O episódio reforçou as críticas de que Cheney teria usado o cargo público para favorecer interesses corporativos. Estima-se que uma subsidiária da Halliburton, KBR (Kellogg Brown & Root), tenha recebido pelo menos US$ 39,5 bilhões em contratos federais dos EUA relacionados à Guerra do Iraque, para serviços como logística e infraestrutura.

Documentos desclassificados revelaram que Cheney se reuniu com lobistas da indústria do petróleo para discutir planos de exploração no Iraque antes mesmo da guerra. Como vice-presidente, ele também apoiou programas de vigilância sem mandado judicial e métodos de interrogatório considerados tortura em prisões secretas da CIA.

Opositor de Trump

Depois da vice-presidência, Dick Cheney saiu nominalmente da política, mas manteve laços fortes com o Partido Republicano, em especial através de sua filha Liz Cheney. Em 2016, com a ascensão de Trump, Cheney se tornou um crítico do ex-presidente e usou sua influência para tentar reduzir o poder de Trump dentro do partido.

Dick Cheney fez declarações contundentes contra Trump, descrevendo-o tanto como um "covarde" quanto como a maior ameaça já representada por um indivíduo para a república americana. Em propagandas de campanha para sua filha, ele acusou Trump diretamente de minar a democracia por meio de engano e violência, chamando a atenção para os esforços de Trump para reverter a derrota eleitoral e suas ações em 6 de janeiro de 2021.

Mais notavelmente, em 2024, Dick Cheney anunciou sua intenção de votar na democrata Kamala Harris em vez de Trump, declarando publicamente sua crença de que o ex-presidente "nunca mais poderá ser confiável no poder" e conclamando os americanos a priorizarem o país acima dos partidos para defender a Constituição.

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