Um terremoto político se abateu sobre os EUA nesta quarta-feira (5), e ele atende pelo nome de Zohran Mamdani, que se declara “socialista democrata” e venceu a disputa pela prefeitura de Nova York.
Mas por que a vitória de Zohran Mamdani tem repercussão nacional? Porque o jovem político de 34 anos, muçulmano e progressista, derrotou de uma só vez as elites dos partidos Democrata e Republicano.
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Ainda que tenha concorrido pelo Partido Democrata, ele faz parte da corrente Socialistas Democratas e não contou com o apoio dos figurões da legenda. Até mesmo Barack Obama se calou diante da ascensão de Mamdani e, nesta quarta, limitou-se a dar “parabéns a todos os democratas que venceram”.
Mas não foi apenas na elite democrata que Zohran causou rebuliço - ele também balançou as estruturas da Casa Branca, que teve uma reação inacreditável e de nível infantil à vitória de Mamdani.
Por meio de seu perfil oficial no X (antigo Twitter), a Casa Branca publicou uma imagem com a votação de Donald Trump na eleição presidencial, acompanhada da legenda: “O mapa que fez a esquerda chorar. Nunca se esqueça.”
Como diz o meme nas redes: “Galvão, sentiu.”
Muçulmano e socialista, Zohran Mamdani faz história e conquista prefeitura de Nova York
Nova York viveu uma noite histórica. O jovem democrata de esquerda Zohran Mamdani foi eleito, nesta terça-feira (4), prefeito da maior cidade dos Estados Unidos, encerrando uma disputa marcada por ataques pessoais, alta participação popular e uma clara rejeição ao presidente Donald Trump.
Aos 34 anos, Mamdani se tornará o primeiro prefeito muçulmano da história da cidade quando assumir o cargo em janeiro. Sua vitória representa um triunfo para o campo progressista do Partido Democrata e um duro golpe para Trump, que tentou transformar a eleição local em um referendo sobre seu próprio governo.
“Se há alguém que pode mostrar a uma nação traída por Donald Trump como derrotá-lo, é a cidade que o viu nascer”, declarou Mamdani em seu discurso de vitória.
“Neste momento de escuridão política, Nova York será a luz.”
Segundo resultados preliminares, Mamdani conquistou cerca de 50,4% dos votos. O ex-governador Andrew Cuomo, que disputou como independente, obteve aproximadamente 41,6%, enquanto o candidato republicano Curtis Sliwa ficou com cerca de 7,1%.
A eleição nova-iorquina completou uma noite de vitórias democratas nos Estados Unidos, com o partido também conquistando os governos de Virgínia e Nova Jersey. Analistas apontam que os resultados enviam um forte sinal de desgaste para Trump e sua base republicana, a menos de um ano das eleições legislativas de 2026.
Um outsider de esquerda
Filho da cineasta Mira Nair e do acadêmico Mahmood Mamdani, Mamdani nasceu em Uganda em uma família de origem indiana e imigrou para os Estados Unidos ainda criança. Tornou-se cidadão estadunidense em 2018 e construiu sua carreira política em Queens, considerado o distrito da cidade com maior diversidade.
Autodeclarado socialista, Mamdani foi eleito como deputado estadual antes de conquistar a prefeitura. Durante a campanha, destacou-se por propostas ousadas para enfrentar o alto custo de vida — como transporte público gratuito, creches acessíveis, controle de aluguéis e a criação de mercearias administradas pela prefeitura.
Ataques e resistência
A ascensão de Mamdani ocorreu sob forte resistência de figuras poderosas. Trump e seus aliados conservadores recorreram a uma campanha agressiva de desinformação, questionando sua fé e suas posições políticas, e o presidente chegou a chamá-lo de “100 % comunista” e ameaçou cortar recursos federais para Nova York caso ele vencesse.
Grandes empresários e meios de comunicação de direita também se mobilizaram contra o candidato. Apesar disso, a mobilização de base e o entusiasmo de voluntários garantiram a Mamdani uma vitória ampla.
Um símbolo de renovação
A vitória de Mamdani reflete uma transformação profunda na política estadunidense. Em uma cidade símbolo do capitalismo global, um imigrante muçulmano de esquerda conseguiu unir eleitores progressistas, jovens, trabalhadores e comunidades marginalizadas em torno de uma mensagem de solidariedade e esperança.
Para observadores políticos, sua eleição marca o fortalecimento da ala mais à esquerda do Partido Democrata e reforça o debate sobre o futuro da legenda.
Trump em xeque
A derrota de seus aliados em Nova York acendeu alertas no entorno de Donald Trump. Mesmo assim, o presidente recusou-se a assumir qualquer responsabilidade, atribuindo os resultados à recente paralisação do governo federal e à ausência de seu nome nas urnas.
Mas o fato é que o discurso populista e divisivo de Trump encontrou resistência renovada. Como sintetizou o líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries: “Os democratas estão esmagando Donald Trump e os extremistas republicanos em todo o país. O Partido Democrata está de volta".
Assista ao discurso de vitória de Zohran Mamdani
*Com informações da AFP