TRABALHO ESCRAVO

Uma das maiores empresas de alimentos do mundo é denunciada por associação a trabalho escravo

Segundo as denúncias, empresas europeias do setor alimentício adquiriram insumos de propriedades brasileiras envolvidas em trabalho análogo à escravidão, trabalho infantil e tráfico de pessoas

Plantação de café.Créditos: Unsplash
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De acordo com levantamento do jornal alemão Deutsche Welle, organizações de defesa dos direitos humanos lideradas pela Coffee Watch, ONG que monitora as cadeias produtivas de café, apresentaram queixas formais às autoridades alemãs e norte-americanas alegando que uma das maiores empresas alimentícias do mundo, a Nestlé, e a AmRest, operadora da Starbucks alemã, adquiriram grãos oriundos de propriedades brasileiras denunciadas por trabalho análogo à escravidão.

As ONGs relatam reclamações relativas a trabalho infantil, tráfico de pessoas e exploração do trabalho na cadeia de suprimentos que abastece a Nestlé e a Starbucks, e pediram a responsabilização das empresas e investigações.

Dentre as organizações envolvidas na denúncia estão a International Rights Advocates e o Repórter Brasil. Segundo a Coffee Watch, os relatórios investigativos produzidos pelas organizações “revelam graves violações dos direitos humanos nas cadeias de suprimento globais de café. Em plantações de café que abastecem a Nestlé, Starbucks, Neumann Kaffee Gruppe e outras empresas, crianças trabalham arduamente, pessoas são assediadas e seus direitos são violados”, situação que chamam de “grave e generalizada”.

As organizações protocolaram, ao longo deste ano, uma petição junto à Alfândega dos EUA (CBP), que exigia a retenção das importações vindas de fontes duvidosas, além de uma ação civil coletiva levantada pela International Rights Advocates contra a Starbucks em nome dos trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão nas fazendas que abasteciam as cadeias de suprimentos da empresa.

Em outubro de 2025, reclamações formais foram feitas à autoridade alemã BAFA, com base na lei alemã de Due Diligence na Cadeia de Suprimentos (LkSG), informa ainda a Coffee Watch. O ato entrou em vigor em 2023 e responsabiliza grandes empresas e empresas com atuação na Alemanha por violações de direitos humanos e ambientais em suas cadeias, sob risco de sanções, multas e exclusão de contratos públicos.

As cooperativas brasileiras mencionadas nas ações são a Cooxupé (Cooperativa de Guaxupé, MG) e a Cooabriel (São Gabriel da Palha, ES), apontadas como elos de comercialização com os fornecedores em violações dos direitos trabalhistas. Em nota, as cooperativas negam práticas ilegais e afirmam ter procedimentos de controle.

A Nestlé disse investigar o caso, mas afirmou, em comunicado oficial, não ter ligação direta com as fazendas e cooperativas citadas. Disse também ter encerrado as relações de fornecimento “onde não encontrou conformidade”, de acordo com procedimentos de due diligence.

Já a Starbucks afirmou ter compromisso com “práticas éticas” e com seu programa de verificação, o C.A.F.E. Practices. A empresa disse comprar uma pequena fração de seu produto de cooperativas, mas apenas de fazendas devidamente verificadas.

A cooperativa Cooxupé, citada nos relatórios, afirmou repudiar o trabalho escravo e disse ter interrompido fornecimentos com fazendas denunciadas pela prática, cujos casos “representam uma fração muito pequena do universo dos cooperados”.

“No Brasil, diversos relatos — incluindo um processo judicial em tribunais dos EUA — documentam o tráfico de pessoas e condições de trabalho análogas à escravidão em fazendas que abastecem a cooperativa Cooxupé, uma das principais fornecedoras da Starbucks, Nestlé e outras marcas de café renomadas”, diz a Coffee Watch.

De acordo com o relatório Behind Starbucks Coffee, produzido pelo trabalho investigativo do Repórter Brasil, 17 trabalhadores foram resgatados de condições de escravidão moderna, em 2022, na Fazenda Mesas, que fica em Campos Altos, Minas Gerais — uma das propriedades que abastece as cooperativas. Entre os resgatados estavam uma menina de 15 anos e dois garotos de 16 e 17 anos.

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